Christian Chávez fala sobre ativismo e visibilidade na luta contra o preconceito a pessoas vivendo com HIV
Conversa com outros ativistas trouxe experiências, vivências e sugestões de advocacy afim de engajar as comunidades na pauta do HIV/aids.
Por Redação da Agência de Notícias da Aids, em parceria com Mídia Ninja.
Nesta segunda-feira (22), a arena principal do Global Village, na Conferência Internacional de Aids, em Munique, foi palco de uma discussão sobre combate à LGBTfobia e o poder das redes sociais na promoção dos direitos humanos para a população LGBTQIA+ e população vivendo com HIV/aids ao redor do mundo.
Participaram da mesa, o astro e ícone do Rebeldes, Christian Chávez, ao lado do ativista e jornalista brasileiro Alberto Pereira Jr; do ativista ganês Alex Kaofi Donkor; e do influenciador digital estadunidense Zachary Will. Eles conversaram por cerca de uma hora, compartilharam experiências, vivências e sugestões de advocacy, especialmente digital, afim de engajar as comunidades na pauta do HIV/aids.
Ovacionado, o Christian Chávez, da novela mexicana juvenil conhecida mundialmente e que quebrou recordes de audiência, marcando gerações, foi um dos painelistas. O artista iniciou a sessão com uma reflexão sobre resistência e autoaceitação.
De acordo com Christian, a resistência é fundamental na luta contra a discriminação e o preconceito. Por isso, para as pessoas LGBTs e aquelas que vivem com HIV/aids, ele deixou o recado: “É muito tarde para estar sozinho, mas nunca é tarde demais para lutar por quem você realmente é e no que acredita. Sua existência é uma forma de resistência. Exatamente. Então, a todos vocês, primeiro de tudo, muito obrigado. Acho que esse ato de resistência é um tema apropriado para refletirmos sobre as histórias que contamos.”
Christian Chávez ainda compartilhou seu exemplo de como transformou a dor e a discriminação que enfrentou por ser uma pessoa LGBT em um ato de resistência. Ele reverteu estrategicamente o significado negativo da sua experiência, assumindo: “Foi um processo todo, incluindo muita atenção à saúde mental e terapia. Quando tive a oportunidade de fazer isso, prometi a mim mesmo que faria do meu jeito. Eu queria me conectar com aquele garoto a quem disseram ‘não, você não pode usar rosa’, ‘não, você não pode usar esse tipo de maquiagem’.”
“Era chamado de ‘puto’, que significa algo como ‘bagulho’. É um termo muito pejorativo. Durante toda a minha vida, ouvi essa palavra todos os dias. Isso me afetou muito. Então, na última vez nos shows, decidi usar uma camiseta que dizia ‘Puto’, porque considero importante transformar essa palavra que tanto me machucou em algo que eu pudesse usar era uma forma de resistência.”
“Escondendo-me das pessoas, eu tentava não mostrar quem eu era, porque me ensinaram que o que eu era estava errado, e que as pessoas não me aceitariam ou não me amariam como sou. No início foi difícil, a mídia tomou a minha narrativa.”
Ainda refletindo sobre a importância da resistência, ele afirmou que a luta pela aceitação e o empoderamento pessoal é essencial, assim como o ativismo e a visibilidade pública para tratar de temáticas urgentes e sensíveis, como o HIV e a homofobia.
Alex Kaofi Donkor, de Gana, trouxe à tona a questão do tabu em torno do sexo e a falta de informação como fatores críticos para os problemas enfrentados pela comunidade gay. “Há muitas menos diagnósticos, muitas pessoas seriam mais confortáveis com sua sexualidade se tivessem acesso a informações sobre o tema”, afirmou. O ativista e comunicador enfatizou a necessidade de quebrar as barreiras impostas pela sociedade para permitir que todos possam se expressar livremente, questionando como a falta de educação e a discriminação afetam a saúde e o bem-estar da comunidade LGBTQIA+.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, o brasileiro Alberto Pereira Jr., chamou à atenção: “O Brasil é o país que consome o maior número de [pornografia] trans na internet, e, ao mesmo tempo, enfrenta uma alta taxa de transfobia.”
E destacou: “Nós precisamos começar a falar sobre sexo nas escolas. Primeiro, para evitar abusos, mas também para naturalizar o sexo nas nossas vidas. Eu tento falar abertamente sobre sexo nas minhas mídias sociais, com meus amigos, com minha família também, etc, porque nós precisamos aproveitar a vida. O prazer precisa ser centralizado no nosso movimento, na nossa comunidade!”.
Já o influenciador digital Zachary Will, que coleciona milhares de seguidores nas redes, concluiu o painel com uma mensagem sobre a importância das plataformas digitais para a autoaceitação, visibilidade, conexão e a formação de comunidades. Ele conta que assumiu publicamente o seu diagnóstico positivo para o HIV e compartilhou logo em poucos dias nas redes. “Fui online não só para explorar a mim mesmo e a forma como eu via o mundo, mas também para encontrar outras pessoas como eu”, disse ele sobre suas motivações.
O influenciador aproveitou e destacou como a internet se tornou uma ferramenta vital para conectar, sobretudo, jovens LGBTQIA+ e ajudar na construção de novas formas de se identificar e interagir. “Ter minha própria plataforma abriu tantas portas que eu nem sabia que existiam”, acrescentou ao comentar sobre como a internet pode promover a aceitação e a inclusão.
Kéren Morais – [email protected]