Censura: Professora é demitida após aluno reclamar de aula sobre Iluminismo e exclusão histórica das mulheres
Uma professora de uma escola particular no Rio Grande do Sul, foi demitida por trabalhar com os alunos, em sala de aula, o tema Iluminismo, incluindo na reflexão, a exclusão das mulheres.
Por Renata Renovato
Eleição é guerra? Aula é batalha? Oposição merece censura? Estamos vivendo uma crise do saber e escolas e docentes não tem passado ilesos na batalha contra a ignorância.
Uma professora de uma escola particular em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, que não quis ser identificada, foi demitida por trabalhar com os alunos, em sala de aula, o tema Iluminismo, incluindo na reflexão, a exclusão das mulheres, desde o século XVIII, da economia e da política.
Após apresentar o tema e iniciar um debate, um aluno, do 8 ano, interrompeu a aula sobre a a “invisibilidade da mulher” com ataques à então ex-presidenta Dilma Roussef, em defesa de Bolsonaro. O fato repercutiu de tal maneira, que resultou na demissão da professora.
A reportagem do extraclasse.org.br entrevistou a professora, que ao ter sido chamada pelo aluno de “ feminista freiriana” como suposto insulto, disse não ter considerado esta acusação como um insulto, mas sim um elogio. Mas, o que leva um aluno do 8 ano a considerar ser feminista e ser freiriana dois insultos?
O aluno não se limitou a essas palavras, fazendo do posicionamento da professora, que ensinava um importante tema para as escolas e para a sociedade, como um ataque ao atual presidente. Este fato, não está isolado e vem demonstrando o quanto as ideologias que propagam os discursos de exclusão e ódio, vem sendo cada vez mais aceitos, defendidos, e acolhidos, até pelas escolas.
A professora falou sobre a atual dificuldade de lecionar nos dias de hoje, devido a uma série de fake News que vem formando a cabeça dos jovens. Mas, principalmente, da importância da docência para desfazer estes equívocos.
O que fica pra nós, com este e tantos outros acontecimentos similares é o quanto determinados temas, que são tão caros à conscientização da população jovem, se tornam cada vez mais delicados para serem trabalhados nas escolas. O que é completamente anti-democrático.
A censura está velada nos espaços de ensino, a medida em que nos isentamos ou somos punidos por levantar questões reflexivas para que os alunos pensem a partir de outras perspectivas e pontos de vista. E o espaço da escola, que deveria ser plural e defender o pensamento democrático, em sua grande maioria, delimita a atuação dos professores quando, ao invés de se posicionar em favor de um debate rico, os demitem e silenciam. Sabemos que a escola é um reflexo da sociedade que vive carregada de ódios, insultos e violências, mas é, neste espaço, que reflexões e debates saudáveis podem e devem surgir para nos desafogar e respirarmos, nesta imensidão de ignorância que resulta em intolerância.