Celebrando a diversidade: Futebol Feminino e sua relevância para os fãs queer
Levantamento da agência Reuters aponta número recorde de atletas LGBTQIA+ na Copa 2023
Levantamento da agência Reuters aponta número recorde de atletas LGBTQIA+ na Copa 2023
Por Grace Ketly Barbosa da S. Lima
O esporte, em si, não é homofóbico, mas tende a ser heteronormativo, ou seja, a norma é ser hétero. Quem se desvia do que é considerado “normal”, perante os olhos da sociedade, desencadeia incertezas, o que pode levar à homofobia, que é algo muito recorrente no futebol masculino.
O futebol feminino vem se destacando, atualmente, não apenas por seu crescimento e popularidade, mas também por ser um exemplo de inclusão e acolhimento à comunidade LGBTQIA+, já que, no futebol masculino, não há nenhum acolhimento aos atletas dessa comunidade. Por isso, quando se fala em inclusão, o esporte feminino tem muito a ensinar aos homens.
Em um documentário sobre o West Ham United FC Women, produzido pela BBC e assistido por cerca de 1,3 milhão de pessoas, há um episódio focado, totalmente, em Alisha Lehmann e Ramona Bachmann, companheiras de seleção e que, na época, possuíam um relacionamento. Lehmann pontuou que “no futebol feminino, é perfeitamente normal que as pessoas se manifestem. Não muda nada”.
O futebol feminino tem sido, historicamente, um espaço de maior acolhimento para indivíduos LGBTQ+, com mais atletas, declaradamente, queer que nos times masculinos. Na Copa do Mundo Feminina de 2019, havia, ao menos, 41 jogadoras ou treinadoras que se identificavam como gays ou bissexuais. Em contrapartida, durante o torneio masculino, no ano anterior, ocorrido na Rússia, não havia jogadores que se declaravam gays. Enquanto, na Premier League, não há registros de atletas homens que se identifiquem, publicamente, como LGBTQ+, apenas no elenco das Leoas da Inglaterra há, pelo menos, cinco jogadoras que se declaram lésbicas ou bissexuais.
Segundo Stefan Lawrence, professor na Universidade Leeds Beckett, essa disparidade, provavelmente, deve-se ao fato de que o futebol feminino tem “raízes históricas em desafiar as normas de gênero e abraçar a diversidade. Como um esporte que surgiu como uma forma de resistência contra as expectativas da sociedade, o futebol feminino atraiu pessoas de mente mais aberta. Esse ambiente inclusivo criou um espaço onde os jogadores ‘de fora’ se sentiram apoiados e valorizados, fomentando uma cultura de aceitação e diversidade dentro do esporte”, disse ao Times.
A CBF tem andado, lado a lado, com a evolução inclusiva. Recentemente, em 2019, após a eliminação na Copa do Mundo FIFA, deixou várias questões de lado e escolheu a técnica Pia Sundhage, estrangeira e, assumidamente, gay, para o comando da seleção feminina. O que importou foi, exclusivamente, seu currículo multicampeão pelas seleções Sueca e Norte Americana. O Brasil chegou à Copa do Mundo de 2023 com recorde de atletas, declaradamente, homossexuais.
Mas o que tudo isso significa para os para os fãs queer? Reconhecimento e representatividade. O mundo, hoje, é bem diferente do que era no passado. Justin Fashanu, o primeiro jogador de futebol a se assumir, publicamente, homossexual, cometeu suicídio, em 1998, depois de a declaração tornar sua vida, extremamente, conturbada.
Tudo que foge da heteronormatividade e do domínio masculino, no futebol, causa certo estranhamento. Não se reconhece que, ao assumirem sua orientação sexual, essas atletas fazem com que uma parcela do público, historicamente, marginalizada, se sinta representada e passe a acompanhar o futebol feminino, esporte pelo qual, pela primeira vez na história das Copas FIFA, uma pessoa trans não-binária disputará o torneio.
Ainda que o futebol não seja um ambiente de total acolhimento para a comunidade LGBTQIA+, as mulheres continuam a estabelecer o padrão de inclusão no esporte. Na Copa do Mundo FIFA de 2023, é possível enxergar uma luz para trilhar um novo caminho em defesa dos direitos humanos e por maior diversidade. Afinal, a beleza do futebol está na sua pluralidade!
Com informações de BBC, Daily Mail, Globo, R7 e Time.
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube