Por Diego do Subúrbio

Olá, Marsha!

Antes de tudo, quero lhe agradecer profundamente por toda a sua luta e coragem. Você viveu em tempos ainda mais duros do que os nossos, mas nunca deixou de resistir até o fim. Hoje você completaria 80 anos de idade, você chegou nesse mundo louco, no dia 24 de agosto de 1945. O que sempre mais me chama atenção, quando olho suas fotos, é o seu sorriso. E ele me lembra que, apesar das dores e batalhas, não somos feitos apenas de sofrimento. Ainda podemos sorrir, ainda podemos amar, ainda podemos celebrar nossas conquistas.

Sua luta ecoou pelo mundo inteiro. Uma travesti preta, drag queen e ativista movendo estruturas, desafiando a opressão imposta, enfrentando uma sociedade que insiste em nos arrancar a humanidade. Você sonhou com um mundo em que pudéssemos ser livres, e esse sonho ainda nos guia.

Mas a realidade continua cruel. Você viveu pouco diante de tudo que ainda havia para se fazer, para se viver. E eu me pergunto: existe justiça para nós?

Moro em um dos países que mais mata pessoas negras e LGBTQIAPN+ no mundo. Aqui, resistir também significa colocar o corpo em risco. Lutamos por um amanhã melhor, mas tantas vezes isso nos custa a vida. O preconceito permanece como sombra constante. Avançamos pouco nos direitos, sobretudo para pessoas trans, travestis e não binárias, em especial as negras, que seguem sendo alvos de uma violência estrutural sem trégua.

Obrigade, Marsha P. Johnson, por não ter desistido de nós. Por ter lutado de forma pulsante durante a Revolução de Stonewall, tornando as vozes daquelas que sempre viveram às margens ecoarem por aquelas ruas. Hoje ainda existem muitas “Marshas” espalhadas pelo mundo, lutando, resistindo, sonhando. E eu desejo que sua luta, sua vida e até sua morte não tenham sido em vão.

Honrar você e todes que se foram antes de nós é não permitir o apagamento. Eu sei que nossa luta não começou com você. Muitas pessoas negras LGBTQIAPN+ vieram antes e foram silenciadas sem que soubéssemos seus nomes. Porque, infelizmente, pessoas incríveis também são esquecidas, apagadas da história. Mas, de alguma forma, elas vivem em nós, assim como você também vive. São ancestrais.

É seguir marchando, gritando, ocupando espaços. É não deixar que a memória se perca. É transformar dor em força, silêncio em voz, ausência em presença.

Seguiremos, Marsha. Por você. Por nós.

Com amor,
Diego do Subúrbio