Documento interno que circulou com propostas de novas regras para a comunicação do banco foi comparado a um “AI-5 do Banco Central”

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

A tensão no Banco Central do Brasil aumentou devido a uma proposta interna que condiciona as entrevistas dos diretores à aprovação prévia do presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Essa discussão ressurgiu após a indicação de Gabriel Galípolo, alinhado com o governo, para a diretoria de política monetária do banco. Galípolo foi o braço direito de Fernando Haddad, chefiando a Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda antes de ser indicado pelo ministro para a direção do Banco Central. Ele defende a redução das taxas de juros para impulsionar o crescimento do país, o que entra em conflito com a posição atual do BC, que mantém a taxa de juros mais alta do planeta.

A ideia de impor uma “lei da mordaça” aos diretores tem gerado debates acalorados dentro do Banco Central, uma vez que a independência dos diretores é garantida por lei. Mesmo assim, Roberto Campos estaria tentando controlar as entrevistas dos diretores para evitar exposições que possam pressioná-lo ainda mais diante do governo Lula e dos senadores insatisfeitos com as altas taxas de juros, revelou a jornalista Mônica Bergamo.

A tensão entre o presidente do BC e o governo Lula chegou a um ponto em que Roberto Campos está enfrentando um abaixo-assinado organizado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e pelo deputado Lindbergh Farias, pedindo sua destituição do cargo. O documento pode ser assinado aqui e já alcança quase 50 mil assinaturas.

Esse documento interno que circulou com propostas de novas regras para a comunicação do banco foi comparado a um “AI-5 do Banco Central” por um integrante do governo, fazendo referência a um ato institucional da ditadura militar que endureceu o regime.

O Banco Central, ao ser questionado sobre o assunto, afirmou que as regras internas visam dar transparência à atuação do BC e evitar assimetrias de informações. Contudo, a nota destacou que os dirigentes do BC têm plena liberdade para expressar suas opiniões nos canais que considerarem adequados. Gabriel Galípolo não se manifestou sobre a questão.