Campanha de Lula trabalha para aumentar base no Congresso e derrotar o Centrão
Lula reforça a importância em eleger a maioria de deputados “para derrotar a bancada do orçamento secreto”
Por Mauro Utida
Com recorde de candidatos à reeleição, a Câmara dos Deputados sinaliza baixa renovação nas eleições deste ano. Dos 513 deputados no exercício do mandato, 449 ou 87,5% são candidatos à reeleição como deputado federal, conforme levantamento da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais.
A tendência por especialistas é de baixa renovação, porém as pesquisas nos estados que começam a revelar um reflexo da atual onda favorável ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que se reflete nas eleições para governador e poderá também se refletir nas eleições do próximo Congresso, algo que não é tão fácil de detectar nas pesquisas.
Mas segundo informações de Rudolfo Lago, diretor do Congresso em Foco Análise, os dois principais partidos do Centrão, que previam a eleição de grandes bancadas na esteira da votação dada ao presidente Jair Bolsonaro, do PL, na sua tentativa de reeleição, começaram a rever para baixo as suas estimativas.
Lugo revela que uma fonte diretamente ligada a campanha de Lula, há uma previsão de que a atual federação formada pelo PT, pelo PV e pelo PCdoB e mais o PSB do candidato a vice, Geraldo Alckmin, eleja entre 140 e 150 deputados. No caso específico do PSB, de acordo com outra fonte, os cálculos do partido são de eleger em torno de 26 deputados.
“Inicialmente, a projeção mais pessimista indicava que o Centrão bolsonarista poderia dividir o Congresso elegendo número equivalente. Ainda é uma possibilidade. Mas agora se estima que Lula possa vir a ampliar a sua base – ou, pelo menos, estabelecer bancadas com que possa manter depois diálogo”, informou o diretor do Congresso em Foco.
Fator Lula nos estados
Em diversos estados, candidatos ligados à candidatura petista experimentaram avanços significativos. De um modo geral, aliados de Lula cresceram como, por exemplo, do Distrito Federal, onde o candidato apoiado por Lula, Leandro Grass, do PV, ultrapassou Paulo Octávio, do PDS, e Leila Barros, do PDT, e aparece agora em segundo, inclusive projetando um segundo turno com o bolsonarista e atual governador Ibaneis Rocha, do MDB.
Ou na Bahia, onde a vantagem de ACM Neto, do União Brasil, que chegou a ser de 38 pontos percentuais, caiu para 17 pontos e onde o candidato do PT, Jerônimo Rodrigues, em duas rodadas subiu de 16% para 31%.
“O mesmo tipo de fenômeno que no momento turbina candidaturas diretamente vinculadas a Lula para o comando dos estados poderá vir a acontecer nas eleições parlamentares”, explica o analista.
O Solidariedade, que também apoia Lula, tem chance de eleger dois governadores: Clécio Nunes, no Amapá, e Marília Arraes, em Pernambuco, e isso pode se refletir na eleição de parlamentares.
Além disso, há conversas de Lula nos bastidores, algumas mais outras menos assumidas, com setores do MDB, PSDB, União Brasil e PSD.
“As duas fontes ligadas a Lula projetam, porém, para a possibilidade, então, de um ambiente mais ampliado de acerto político com o próximo Congresso. Especialmente se Lula vier mesmo a resolver a eleição no primeiro turno”, informa Lugo.
Presidência da Câmara
Mesmo com o aumento da bancada da coligação de apoio à Lula, o Centrão deve continuar ainda forte e com possibilidade de Arthur Lira (PP-AL) se reeleger presidente da Câmara.
Analistas da campanha de Lula trabalham com a possibilidade de um diálogo ampliado ao centro, não ao Centrão, especialmente com União Brasil (que tem chance de eleger sete governadores) e MDB (que pode eleger quatro), mais Solidariedade e PSD. “Uma composição que poderá trazer um Lula mais mediador para atravessar a turbulência. Com papeis importantes também para Geraldo Alckmin e para Márcio França”, adianta o analista.
Durante a campanha eleitoral, Lula tem reforçado a importância em eleger a maioria de deputados “para derrotar a bancada do orçamento secreto”. “É impossível imaginar que a gente vai fazer as mudanças que a gente precisa fazer se não elegermos um presidente e, junto desse presidente, senadores de melhor qualidade e deputados de melhor qualidade”, diz Lula.
Metade dos eleitores não definiram candidato à Câmara
A menos de dez dias das eleições, quatro de cada dez eleitores brasileiros ainda não definiram em quem votarão para deputado federal, revela pesquisa do Instituto Opinião encomendada pelo Congresso em Foco. Segundo o levantamento, apenas 28% dos entrevistados escolheram seu candidato à Câmara com mais de um mês de antecedência. Outros 18% o fizeram apenas nos 15 dias anteriores à eleição, marcada para o próximo dia 2 de outubro.
A pesquisa também mostra que quase metade (48%) dos entrevistados quer mudança completa na eleição do Congresso, quando estarão em disputa as 513 vagas na Câmara e 21 no Senado. Outros 25% defendem continuidade, 10% mais continuidade que mudança e 11%, continuidade completa.
De acordo com a pesquisa, 70% consideram muito importante escolher um candidato a deputado federal alinhado ao candidato a presidente. Para 17%, isso é pouco importante, e para 7%, nada importante. Para 71% dos eleitores de Lula (PT), esse alinhamento é muito importante. A mesma avaliação é feita por 75% dos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL).
Segundo o diretor do Instituto Opinião, Arilton Freres, a pesquisa confirma que o eleitor brasileiro está mais preocupado com a eleição presidencial do que com a do Congresso. “As campanhas como essa que estamos vivendo, onde temos vários cargos em disputa, acabam por levar o eleitor a prestar mais atenção ao que ele julga como principal, ou seja, as eleições majoritárias, fazendo com que o debate eleitoral dos deputados seja jogado para um segundo plano”, explica. “Soma se a isso o fato de estarmos vivendo uma eleição presidencial extremamente polarizada o que fortalece ainda mais a ausência do debate do voto para deputado” acrescenta o sociólogo.
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