Políticos oportunistas utilizam a escassez da água e a volta da fome para barganhar votos com a comunidade da região

Morador rural do Semiárido. Foto: Léo Drumond Nitro / Asacom

Por Mauro Utida

A água é um dos recursos naturais mais preciosos do semiárido nordestino e pretexto para políticos usarem o recurso para barganhar votos com a comunidade da região, prática também conhecida como clientelismo. No sentido contrário desta prática histórica de oportunistas, a campanha ‘Não Troque o Seu Voto’ iniciou sua sexta edição nesta segunda-feira (15) para defender, através do voto consciente, as conquistas sociais alcançadas, além de ampliar a representatividade nas composições das casas legislativas e executivas, elegendo mulheres, negros e negras e pessoas LGBTQIA +.

A campanha é orientada por diretrizes frutos de um debate político, mobilizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). O grupo alerta que um milhão de pessoas ainda não têm acesso à água de consumo humano no semiárido, e no qual, a insegurança alimentar atinge, em todos os níveis, mais pessoas na região Nordeste, de acordo com o 2º Inquérito VIGISAN.

Além disso, o Brasil retornou ao Mapa da Fome no governo de Jair Bolsonaro, o que significa que mais de 2,5% do total da população se encontrava em situação de insegurança alimentar grave. “Com o agravamento das desigualdades sociais, a população fica mais vulnerável. Desta forma, muito mais do que a troca do voto por água, havia o risco de aliciamento de políticos clientelistas, ofertando cestas básicas e até o pagamento de contas de luz”, informa a carta redigida pela ASA.

“É neste cenário sobre o qual a nuvem da desigualdade social voltou a pairar sobre as famílias agricultoras do Semiárido, que se torna um terreno fértil para as tentativas de compra de voto”, alerta. As propostas de políticas públicas para combater esses problemas estão reunidas na Carta “ASA por um Semiárido vivo”. Esse documento, além de orientar a pauta política das organizações nestas eleições, tem sido usado como ferramenta de negociação com candidatos e candidatas às eleições de 2022.

As diretrizes da campanha envolvem problemas relacionados à escassez hídrica, à fome, à insegurança alimentar, à violência contra a mulher rural, dentre outros temas discutidos por representações de organizações membro dos dez estados do Semiárido.

Não Troque o Seu Voto

Campanha Não Troque o Seu Voto concentra esforços no voto democrático pelo combate a fome e a sede, problemas que voltaram a assolar a região nos últimos quatro anos. Foto: Agência Quintal – Acervo ASA

Considerando que o combate às desigualdades sociais na região semiárida dependem de ações sistemáticas e não pontuais, a mensagem desta edição defende e orienta o voto em projetos de governos alicerçados no bem estar social. “Defendemos o voto pelo retorno dos programas de acesso à água, por apoio à agricultura familiar agroecológica, pela recuperação da Caatinga e do Cerrado, em defesa dos quintais produtivos e da produção e armazenamento de sementes e pelo combate à violência contra a mulher rural”, informa.

A importância de votar em mulheres comprometidas com mulheres também está na pauta desta edição. A ideia é ampliar a presença feminina no Congresso Nacional, hoje restrita a 15%, e no Senado Federal, que não ultrapassa 13%, além dos poderes executivos estaduais.

Os conteúdos serão veiculados em formato de spots, vídeos, entrevistas e trabalhados em ações nas redes sociais. Os materiais serão compartilhados com a Rede de Comunicadores/as Populares da ASA, ligados às mais de três mil organizações membro e que têm acesso às famílias rurais, localizadas nas comunidades mais remotas.

“Essa rede, mais do que acesso, possui a confiança e cultiva um diálogo estreito com essas famílias, o que facilita o compartilhamento, mas também a compreensão das mensagens”.

Histórico

Em 2012, ano no qual a Campanha não troque o seu voto por água estreou, a presença das cisternas nas vidas das famílias já era uma realidade e a região semiárida já caminhava rumo à meta de 1 milhão de tecnologias implementadas. Essas implementações aconteceram, por meio de políticas públicas de governo e mostraram que a água era um direito e não um favor. As famílias já desfrutavam da autonomia hídrica e política. Essa, inclusive, era a mensagem central da primeira edição da campanha “Não Troque Seu Voto por Água. A Água É Um Direito Seu!”.

As peças traziam dados sobre as conquistas sociais alcançadas pela população, de forma democrática, como também orientava a pesquisar, analisar e votar apenas em candidatos e candidatas comprometido/as com políticas públicas voltadas à agricultura familiar, a agroecologia e à convivência com o Semiárido de um modo geral.

Já em 2018, com a mudança no cenário político, a Campanha amplia a sua abordagem e passa a se chamar Campanha Não Troque o Seu Voto. A ideia dialoga com o contexto político da época, marcado pela redução de investimentos em políticas de bem estar social, por meio da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 95. Naquele ano, o Programa Cisternas já enfrentava os cortes mais drásticos de orçamento registrados desde 2015.