“É por ser uma pessoa pública que eu resolvi chamar essa responsabilidade para mim”, afirma em entrevista ao Planeta FODA

Foto: arquivo pessoal

Camila Farani, empresária e investidora brasileira, conhecida por sua atuação no Shark Tank Brasil e por suas contribuições no mundo dos negócios e para importantes publicações, como Forbes, Estadão e MIT Tech Review, abriu-se recentemente sobre sua jornada na maternidade homoafetiva. Em entrevista ao Planeta FODA, Camila compartilhou suas experiências pessoais e profissionais, destacando sua determinação em enfrentar as adversidades e promover mudanças positivas na sociedade.

Suas declarações abertas sobre a união homoafetiva e a dupla maternidade propulsionam uma série de desafios. Apesar de sua visibilidade como figura pública, ela não está imune a comentários de ódio e ataques nas redes sociais. “Não tem uma postagem ou uma fala que não venha acompanhada de declarações homofóbicas”, relata.

No entanto, Camila demonstra uma resiliência ao enfrentar essas adversidades, buscando soluções jurídicas, legais e estratégias dentro de sua área de atuação. Ela conta, por exemplo, sobre o lançamento do movimento “Ela Vence”, que apoia mulheres que foram vítimas de preconceito.

Sendo uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina segundo a Bloomberg Línea e Empreendedora do Ano 2022 pela IstoÉ Dinheiro, na categoria Inclusão Social, Camila acredita que sua voz e influência são importantes para combater o preconceito e que as grandes mudanças começam com ações individuais. “É por ser uma pessoa pública que eu resolvi chamar essa responsabilidade para mim”, afirma.

Confira abaixo a entrevista completa:

Foto: Guido Ferreira / Divulgação Sony Channel

Conta um pouco como foi a decisão de ter filhos.

Ter filhos sempre foi um desejo. Mas ele foi protelado até eu ter realmente a certeza de que eu teria a pessoa certa e que as minhas metas profissionais estivessem sido alcançadas. E a Tula, que é o meu grande amor, chegou na hora certa. Conversamos muito sobre maternidade e na primeira tentativa já deu certo. Então, eu tenho certeza que o Lucca vem aí com uma missão muito bonita de inspirar outros casais, de mulheres gays ou de homens gays, que é possível…

Nós lemos que vocês estão enfrentando questões burocráticas para o registro da criança. Como está o processo atualmente?

Existem muitas questões, que não são fáceis, para casais homoafetivos no Brasil. Mas a gente encontrou um cartório de registros que passou uma tranquilidade muito grande para a gente. E acredito que daqui para frente vai dar tudo certo. E o que encontrarmos mais a frente, de obstáculos, nós vamos lutar para quebrar todas as barreiras e trazer o nosso Lucca ao mundo como ele merece.

Sendo uma figura pública, você tem encarado um desafio ao manifestar abertamente sobre a união homoafetiva e a dupla maternidade. Como tem sido a receptividade de quem te acompanha nas redes?

É por ser uma pessoa pública que eu resolvi chamar essa responsabilidade para mim, de falar sobre a minha relação homoafetiva e sobre o Lucca. Porém, não tem uma postagem ou uma fala, que não venha acompanhada de declarações homofóbicas. Estou estudando com o meu time de advogados, com foco no digital, como que a gente consegue coibir isso.

Em paralelo, eu lancei o movimento “Ela Vence” para ajudar mulheres que foram vítimas de preconceito – eu compartilhei algumas falas preconceituosas que mulheres já sofreram nas suas carreiras nas minhas redes sociais. Junto com isso, terá um curso digital para essas mulheres aprenderem a lidar com isso, tudo em conjunto com a gestão dos seus negócios.

Mas, ainda é um caminho longo, um caminho árduo, mas que eu acredito que pode melhorar. E eu acho que todas as grandes mudanças e evoluções, precisam ter um envolvimento da gente enquanto cidadão, grandes revoluções podem começar por nós. Eu acredito muito nisso.

 

 
 
 
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Mesmo com os ataques, você acredita que foram importantes o anúncio e seus posicionamentos sobre o tema?

Sem dúvida nenhuma! E eu vou continuar defendendo e me posicionando! Eu acho que quando você tem a verdade dentro de si, a vontade de dentro para fora, e não de fora para dentro, como algo que te foi imposto, e tem a certeza de como isso pode ajudar outras pessoas… não tem outro caminho, sabe?

Você acredita que existe uma onda crescente de respeito e tolerância em relação a outras configurações familiares?

Eu vejo que sim, sou grata pelo apoio, mas, ao mesmo tempo, vemos casos de homofobia no país agora. Somos o pais que mais mata LGBTs no mundo. Não dá para ignorar isso. Mas vejo mudanças, algumas melhorias e, inclusive, a minha própria família – que eu não vou dizer aqui que era a mais aberta, porque não era e eu estaria sendo leviana -, mas hoje tratam a minha relação com a Tula e a chegada do Lucca, com muita felicidade e respeito, então, eu também percebo uma melhora.

Você tem contato com outras mães LGBTQIA+? Existe uma rede de apoio especificamente LGBTQIA+ para ajudar vocês?

Existem várias redes de apoio. Mas a gente está dentro de um grupo que se chama, Dupla Maternidade, que existe no Brasil inteiro e tem um grupo central e um grupo regional. E ali, todas as mulheres compartilham as suas aflições, suas angústias, mas também todas as vitórias. Então, é muito importante estar nessa rede de apoio que cresce a cada dia.