Cadê a água que estava aqui? Governo Bolsonaro construiu menor número de cisternas da história
O ritmo vem caindo desde 2015 e, no ano passado, atingiu seu índice mais baixo: apenas 30 mil construções.
Um dos programas mais importantes de convivência com a seca no semiárido nordestino está sendo fragilizado. As cisternas estão sendo construídas no ritmo mais lento já registrado desde o lançamento do Programa Cisternas em 2003, no governo Lula, que passou a assumir o programa como uma política de acesso à água. O ritmo vem caindo desde 2015 e, no ano passado, atingiu seu índice mais baixo: apenas 30 mil construções. Isso equivale a uma queda de 80% em apenas cinco anos. Em 2014, foram financiadas a construção recorde de mais de 149 mil cisternas.
As cisternas são chamadas de caixa d’água do sertão por garantirem abastecimento de água à população no semiárido com as longas estiagens. Sem elas, nos períodos sem chuva, muitos são obrigados a se deslocar grandes distâncias ou mesmo se mudar em busca de uma fonte de água.
O Programa Cisternas já foi premiado internacionalmente. Em 2019, levou o Prêmio Sementes, da ONU, concedido a projetos de países em desenvolvimento feitos em parceria entre organizações não governamentais, comunidades e governos. Em 2017, também foi premiado com Política para o Futuro, da World Future Council, em cooperação com a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação.
A história de Marly Marcolino de Jesus, mineira da cidade de São João da Ponte, reflete muitas outras do Semiárido brasileiro, a partir de programas de convivência com o clima, a agricultora foi beneficiada em 2013 com o Programa Um Milhão de Cisternas e em 2018 com o Programa Uma Terra Duas Águas, ambos criados e executados pela Articulação do Semiárido Brasileiro – ASA e que buscam promover o acesso à água de qualidade para consumo e produção, através de tecnologias de captação de água de chuva.
Foi assim que o cenário de sede e fome da região Semiárida, sofreu importantes transformações nos últimos anos desde que os programas desenvolvidos pela sociedade civil passaram a se tornar políticas públicas. No entanto, desde 2016, as ações de convivência com o Semiárido vêm sofrendo altos cortes de orçamento do Governo Federal o que compromete a continuidade das políticas, impactando diretamente o cenário de transformação social da vida de quem mais precisa.
Manoel, Eva e os quatro filhos vivem na comunidade de Santos Reis, Francisco Sá, em Minas Gerais, e assim como outras milhares de pessoas do Semiárido brasileiro, que foram beneficiados com políticas públicas de convivência com o clima, a família viu o cenário de seca florescer mesmo em períodos de estiagem.
Segundo o casal, ver as plantas crescerem só se tornou uma possibilidade com a chegada das cisternas de captação de água de chuva. Por muitos anos, a comunidade era abastecida pelo rio, as pessoas “panhavam” a água em baldes e para isso enfrentavam longas distâncias.
“Nem quem morava mais perto podia colocar bomba por falta de energia elétrica.”, relatam.
Foram dois anos para a família ver o quintal farto. Com o apoio da Articulação no Semiárido Brasileiro – ASA, além das construções das cisternas, o casal passou por capacitações para produzir alimentos sem a dependência de agrotóxicos e outros insumos químicos. Estratégia dos programas de convivência com o Semiárido que transformaram o cenário de sede e fome da região.
O Semiárido brasileiro é um dos mais populosos e tem como característica a concentração de chuva em alguns períodos do ano e longos períodos de seca. Priorizar a construção de tecnologias de captação de água de chuva, é uma estratégia viável e de grande impacto na vida das famílias que vivem nesta região. Cerca de 26 milhões de pessoas vivem nesta área, o que equivale a 12% da população do país, divididos em 1.262 municípios de dez estados do Brasil: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.