O Brasil, como país do futebol, tem a responsabilidade de ser para todos e não apenas para uma parte privilegiada

Foto: CBF

Texto de Nathalia Medina

O Brasil é conhecido mundialmente como o país do futebol, uma nação que respira e vive intensamente esse esporte. No entanto, quando olhamos para o futebol feminino, percebemos uma realidade bem diferente. Estamos longe de sermos referência no cenário mundial feminino, mas há esperança de mudança e evolução, especialmente com a visibilidade proporcionada pela Copa do Mundo de 2023.

Uma das principais questões que têm impedido o Brasil de ser uma potência no futebol feminino é o investimento nas atletas desde a base. Enquanto no futebol masculino há clubes renomados que investem em suas categorias de base, criando um fluxo contínuo de talentos, no feminino, esse investimento é muito mais escasso. A falta de apoio financeiro e estrutural desde os primeiros passos das jogadoras gera um impacto direto na formação de atletas de alto nível.

Incentivar as meninas a jogarem futebol desde a base é fundamental para promover a igualdade de gênero no esporte e possibilitar que todas as crianças, independentemente do gênero, tenham a oportunidade de desenvolver seu potencial no campo. A existência e participação das mulheres no futebol devem ser valorizadas e incentivadas desde cedo, da mesma forma que acontece com os homens.

Infelizmente, ainda existe uma cultura em que o futebol é visto como um esporte predominantemente masculino. Muitas vezes, as meninas são desencorajadas a praticar futebol desde a infância, seja pela falta de infraestrutura adequada, pelo preconceito ou até mesmo pela crença de que futebol é coisa de menino. Isso cria uma barreira que impede que muitas talentosas atletas femininas tenham a oportunidade de desenvolver suas habilidades e seguir carreira no esporte.

É importante criar um ambiente acolhedor e inclusivo para as meninas no futebol. Isso significa não as obrigar a jogar apenas com meninos desde cedo, mas sim proporcionar espaços exclusivos para o desenvolvimento do futebol feminino. As meninas devem ter a oportunidade de treinar e jogar em equipes formadas por elas, onde possam se sentir confortáveis e empoderadas para mostrar seu talento.

Foto: CBF

Outro fator que contribui para a desigualdade no futebol feminino é a diferença gritante nas condições de trabalho entre os times masculinos e femininos. Enquanto os clubes masculinos desfrutam de infraestruturas de ponta, salários altos e um ambiente propício para o desenvolvimento, as jogadoras enfrentam desafios diários, muitas vezes tendo que conciliar a carreira no esporte com outras atividades para garantir sua subsistência, sem contar com assédio e tantas outras barbaridades.

A desigualdade salarial é um ponto muito sensível no futebol feminino. As jogadoras recebem remunerações muito inferiores em relação aos atletas masculinos. Essa disparidade salarial é uma demonstração clara da falta de valorização do futebol feminino, perpetuando um ciclo de desigualdades. Como obter resultados sem investimentos?

No entanto, com a chegada da Copa do Mundo de 2023 na Austrália, vislumbramos uma mudança positiva nesse panorama. Pela primeira vez, as mulheres da Seleção Brasileira viajaram em um voo fretado exclusivo para elas, mostrando um tratamento mais adequado e valorizando o conforto e bem-estar das atletas.

O uniforme da seleção feminina foi pensado e feito especialmente para elas, respeitando suas particularidades físicas e proporcionando maior comodidade durante os jogos. Essa é uma quebra de paradigma em relação às edições anteriores, quando muitas vezes as jogadoras precisavam utilizar uniformes masculinos, não adequados aos corpos e necessidades delas.

Outro aspecto positivo é o aumento significativo da delegação brasileira na Copa do Mundo de 2023, contando com 37 profissionais entre comissão técnica e funcionários de apoio, um recorde na história da seleção feminina. Isso demonstra uma maior preocupação em oferecer as melhores condições possíveis para as jogadoras durante o torneio.

Além disso, a presença das mulheres na equipe também é mais expressiva em relação às edições anteriores, com 18 profissionais, quase 50% do grupo. Essa representatividade é essencial para que as vozes femininas sejam ouvidas e levadas em consideração nas decisões que impactam o futebol feminino.

Com a visibilidade proporcionada pela Copa do Mundo de 2023, é possível que haja um despertar de interesse e investimentos no futebol feminino no Brasil. A conquista de uma estrela própria no peito, a valorização das atletas e o reconhecimento do seu talento podem ser os primeiros passos para transformar a realidade do futebol feminino no país. É preciso que clubes, instituições esportivas, patrocinadores e a sociedade como um todo se unam em prol do desenvolvimento do futebol feminino, criando um ambiente de igualdade e oportunidades para que as atletas brasileiras possam brilhar e serem reconhecidas como as grandes estrelas que são.

O Brasil, como país do futebol, tem a responsabilidade de ser para todos e não apenas para uma parte privilegiada. A existência e participação das mulheres no futebol não deve ser vista como uma exceção, mas sim como uma realidade natural e inclusiva. Ao incentivar e investir nas meninas desde cedo, estamos criando uma base sólida para o desenvolvimento do futebol feminino no país e construindo um futuro mais igualitário e justo para todas as crianças que sonham em jogar esse esporte tão amado e apaixonante. Para que só assim, de fato, o Brasil seja o país do futebol para todos.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube