O governo brasileiro classificou o ataque de drones e soldados israelenses contra palestinos que esperavam por comida em uma fila em Gaza como “intolerável”, e considerou as declarações do primeiro-ministro de Israel, o extremista de direita Benjamin Netanyahu, como “cínicas”. O ataque deixou mais de 100 mortos, incluindo crianças e mulheres, e centenas ficaram feridos, de acordo com os Médicos Sem Fronteiras.

“A inação da comunidade internacional diante dessa tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional. Declarações cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana”, afirmou o governo brasileiro, por meio do Ministério de Relações Exteriores.

O ataque ocorreu nos arredores da cidade de Gaza, onde um comboio de caminhões de ajuda humanitária, supervisionado por unidades do exército israelense, foi alvo dos disparos.

O MRE cobrou uma investigação minuciosa sobre o massacre e destacou o histórico de violações de direitos humanos por parte do governo israelense. Além disso, ressaltou o sofrimento crescente da população civil em Gaza devido à retenção sistemática de ajuda humanitária nas fronteiras.

A comunidade internacional também se manifestou, com o Conselho de Segurança da ONU deliberando sobre a questão na quinta-feira. Todos os países membros votaram a favor de uma moção reconhecendo a violação por parte dos militares israelenses, exceto os Estados Unidos, que usaram seu poder de veto.

Brasil cobra países do Conselho de Segurança

O Brasil não mencionou diretamente os EUA em seu comunicado, mas alertou que ações como o veto de Biden servem como um incentivo velado para mais ataques contra civis e desrespeito ao direito humanitário internacional.

Em relação às declarações de Netanyahu, culpando os motoristas dos caminhões de ajuda humanitária pelo massacre, o governo brasileiro foi enfático, classificando-as como “cínicas e ofensivas” às vítimas.

De acordo com o Ministério da Saúde palestino já foram mais de 30 mil mortes, incluindo 12 mil crianças, além de 1,7 milhão de palestinos deslocados e um número ainda em levantamento sobre mulheres mortas. No entanto, organizações de direitos humanos afirmam que a maioria das vítimas são de mulheres e crianças.

O Brasil reiterou sua solidariedade ao povo palestino e exigiu um cessar-fogo imediato, o ingresso efetivo de ajuda humanitária em Gaza e a libertação de todos os reféns. Além disso, recordou as medidas cautelares emitidas pela Corte Internacional de Justiça, exigindo que Israel tome medidas para impedir atos de genocídio.

Veja a íntegra da posição do Ministério das Relações Exteriores:

“Ataque a tiros contra palestinos que aguardavam o recebimento de ajuda humanitária na Faixa de Gaza

Governo brasileiro tomou conhecimento, com profunda consternação, dos disparos por arma de fogo, por forças israelenses, ocorridos no dia de ontem, no Norte da Faixa de Gaza, em local em que palestinos aguardavam o recebimento de ajuda humanitária. Na ocasião, mais de 100 pessoas foram mortas e mais de 750 feridas por tiros, pisoteio ou atropelamento.

As aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza e as dificuldades para obtenção de alimentos no território.

Trata-se de uma situação intolerável, que vai muito além da necessária apuração de responsabilidades pelos mortos e feridos de ontem.

Autoridades da ONU e especialistas em ajuda humanitária e assistência de saúde de diferentes organismos e entidades vêm denunciando há meses a sistemática retenção de caminhões nas fronteiras com Gaza e a situação crescente de fome, sede e desespero da população civil. Ainda assim, a inação da comunidade internacional diante dessa tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional. Declarações cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana.

O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão.

A humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres.

Ao expressar sua solidariedade ao povo palestino, sobretudo aos familiares das vítimas, o Brasil reafirma seu firme repúdio a toda e qualquer ação militar contra alvos civis, sobretudo aqueles ligados à prestação de ajuda humanitária e de assistência médica.

O massacre de hoje vem se somar às mais de 30 mil mortes de civis palestinos, das quais mais de 12 mil são crianças, registradas desde o início do conflito, além dos mais de 1,7 milhão de palestinos vítimas de deslocamento forçado. O Brasil reitera a absoluta urgência de um cessar-fogo e do efetivo ingresso em Gaza de ajuda humanitária em quantidades adequadas, bem como a libertação de todos os reféns.

O Governo brasileiro recorda a obrigatoriedade da implementação das medidas cautelares emitidas pela Corte Internacional de Justiça, em 26 de janeiro corrente, que demandam que Israel tome todas as medidas ao seu alcance para impedir a prática de todos os atos considerados como genocídio, de acordo com o Artigo II da Convenção para a Prevenção e a Repressão e Punição do Crime de Genocídio.”