Por Patrick Simão, do Além da Arena

A argelina Imane Khelif foi um dos nomes mais comentados nesta quinta-feira, 1, durante os Jogos Olímpicos. Muitos destes comentários eram transfóbicos, após uma fake news sobre sua identidade de gênero.

Imane foi reprovada em um “teste de testosterona”, que considera mulheres com o nível abaixo de 10nol/L de testosterona como aptas a competir. No entanto, cientificamente é comprovado que algumas pessoas que nasceram mulheres podem produzir mais testosterona que esse limite e o histórico de exclusão por este motivo nos esportes tem como alvo majoritariamente mulheres africanas.

O presidente da Associação Internacional de Boxe (instituição investigada por corrupções e de baixa credibilidade no cenário olímpico) afirmou que “alguns países colocam homens para competir no esporte feminino.” A fala, falsa, desonesta e transfóbica, não corresponde à realidade.

Inclusive, já foi comprovado que Imane nasceu mulher e há a possibilidade dela ser intersexo (alguém que não se encaixa nas características biológicas binárias pré-determinadas). Posteriormente, o próprio Comitê Olímpico Internacional defendeu a participação da argelina no boxe feminino.

A polêmica ganhou maiores proporções com a desistência de sua rival, a italiana Angela Cariani. No entanto, ao contrário do que foi falsamente divulgado por muitas pessoas, Cariani desistiu da luta devido a dores no nariz, causadas pela luta, e não pela rival supostamente ser uma mulher transgênero.

O Comitê Olímpico é muito rígido quanto aos níveis hormonais que atletas transgênero precisam ter para competir e, na grande parte das vezes, a motivação dessas críticas é puramente a transfobia, sem as informações corretas. No Brasil, a fake news foi reproduzida por perfis conservadores e bolsonaristas. A própria Imane tem resultados considerados comuns para atletas de alto nível, com 37 vitórias e 9 derrotas.

As mulheres trans que competem na categoria feminina e podem se sentir integradas ao gênero que se identificam, passam por um rigoroso controle hormonal antes de competir. Os resultados dessas atletas demonstram isso e a grande resistência ao tema tem como grande motivação a transfobia.