Bolsonaro teve mais votos no arco do desmatamento. Saiba o que isso significa
Causou estranheza geral, afinal, são lugares que mais sofrem com a derrubada da floresta e queimadas criminosas; Mas a geografia ajuda a entender
Imagens de mapeamento de votos do primeiro turno das eleições que viralizaram nas redes nesta segunda-feira (3) atestam que cidades localizadas no arco de desmatamento deram vitória a Jair Bolsonaro. Isso causou estranheza. Afinal, são lugares que mais sofrem com a derrubada da floresta e queimadas criminosas. Problema superdimensionado sob a gestão de Bolsonaro. Então, você pode estar se perguntando, porque esses eleitores teriam depositado confiança, justo nesse candidato.
O mapa que separava em azul e vermelho os estados que votaram em Bolsonaro já revelavam a preferência do eleitorado de Mato Grosso, Rondônia e Acre. E até Roraima, estado devastado pelo garimpo. Mas quando foi lançada a lupa sobre os municípios, aí o resultado evidenciou cidades da faixa ameaçada pelo desmonte de políticas ambientais, incluindo do Pará, que no contexto total, deu vitória a Lula. O arco do desmatamento é um território que vai do oeste do Maranhão e sul do Pará em direção a oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.
https://twitter.com/followlori/status/1576875296074014720
Comentários se multiplicaram nas redes logo que a PHD em Comunicação, Lori Regattieri publicou o mapa do projeto “Atlas da questão agrária brasileira” e de outro, o do primeiro turno. Na sequência, o PHD em Ciências Ambientais, Rodolfo Salm, demarcou com uma linha laranja a área.
https://twitter.com/rodosalm/status/1576937130341052416
Alertas para conscientizar o eleitorado, campanhas pelo clima, “voto verde”, plataformas de checagem de candidaturas, relatórios que expunham infrações ambientais de candidatos e vínculo com doadores com crimes ambientais: nada disso adiantou.
Afinal, a região é ignorada pelo governo, justamente por conta do aval que ele dá para a destruição. Ou seja, o bolsonarismo está intrinsecamente ligado ao desmatamento e às possibilidades que advém dele.
O mapa da questão agrária brasileira, de Eduardo Paulon Girardi (Unesp), apresentado por Lori, indica em amarelo, principal região agropecuária, enquanto que em rosa, especialização da soja, milho e algodão. “E de verde pontilhado em rosa, zona de incorporação de terras à estrutura fundiária, ou seja, grilagem”, destaca a pesquisadora.
Ou seja, além de serem cidades onde o agronegócio tem força, são regiões marcadas por invasões, inclusive a áreas protegidas – como unidades de conservação e terras indígenas.
São locais também onde o garimpo ilegal tem avançado sobre áreas que deveriam estar resguardadas, não só pelo bem dessas populações, como de toda a humanidade, dado o serviço ambiental imensurável da Amazônia na regulação do clima.
Mas a floresta vem sendo destruída, o que fatalmente impactará no regime de chuvas, por ser área das mais importantes para a formação dos rios voadores. Assim, o próprio agronegócio terá que lidar com as consequências.
Vale ressaltar, indígenas e tradicionais não compactuam com esse processo, pois afinal, são as mais aterrorizadas.
A análise dos votos no arco do desmatamento é útil por demais, para que a sociedade brasileira entenda de vez que nosso tempo está correndo. Precisamos impedir que o arco siga devorando o bioma e é preciso resistir. Grandes projetos de infraestrutura ameaçam a região.
Segundo estudo do Instituto Socioambiental (ISA), as rodovias Belém-Brasília e Cuiabá-Porto Velho iniciaram o desenho desse arco, e atualmente corresponde ao território de 256 municípios que concentram aproximadamente 75% do desmatamento da Amazônia.
“Levantamento elaborado pelo ISA com os dados oficiais do PRODES/INPE mais recentes mostra que novos municípios despontam na lista dos que mais desmatam no arco do desmatamento e pressionam uma nova fronteira do desmatamento. O destaque são as rodovias BR-163, BR-319 e BR0-364 no estado do Acre, as quais como flechas irradiam a devastação para o interior da floresta amazônica”. Não podemos esquecer que Bolsonaro é a favor dessas obras que aumentarão ainda mais as cicatrizes na floresta, ameaçando vidas.
Resumindo, a geografia nos ajuda a entender a política.
Confira alguns tweets com comentários:
https://twitter.com/robsbawnm/status/1577026706644180994
https://twitter.com/zezimjunior/status/1577267486847774721
https://twitter.com/PedroSo94757046/status/1576933920871882754
https://twitter.com/TerraComum/status/1577254370499887105
https://twitter.com/Castro_UFRRJ/status/1576987519740444672
https://twitter.com/RenatoBraghiere/status/1577061698296389632?
https://twitter.com/CristianoSordi/status/1576976556743868416