Em Londres, Jair Bolsonaro (PL) ignorou o luto britânico pela morte da rainha Elizabeth II, e aproveitou a visita como chefe de estado para fazer campanha eleitoral, inclusive, com discurso de conteúdo golpista contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O episódio pode configurar abuso de poder político e econômico, assim como aconteceu nas comemorações de 7 de setembro, quando Bolsonaro sequestrou as comemorações do bicentenário da independência para fazer campanha em Brasília e no Rio de Janeiro.

Novamente o PT acionou o TSE contra Bolsonaro pelo discurso com teor eleitoral em Londres neste domingo (18). Na ação, a Coligação Brasil da Esperança pede que o chefe do Executivo e sua campanha sejam impedidos de promover ou usar como propaganda eleitoral qualquer vídeo, fotografia ou material gráfico produzido durante a viagem para o velório da rainha britânica.

Na ação, a coligação de Lula também pede que sejam removidos links das redes sociais de Bolsonaro, de seu vice, Walter Braga Netto, e de outros atores políticos que estão usando imagens e o discurso de Bolsonaro como candidato em Londres para fins eleitorais. Por fim, solicitam a aplicação de multa de R$ 25.000, valor máximo previsto pela legislação eleitoral, para Bolsonaro.

“Desde sua chegada a Londres, percebe-se que Bolsonaro confunde as figuras de presidente da República com a de candidato à reeleição, sequestrando atos oficiais da República brasileira para fazer campanha eleitoral, o que é absolutamente irregular”, afirmam os advogados Eugênio Aragão e Cristiano Zanin Martins na representação.

“A fala de Bolsonaro demonstra o cunho eleitoral do discurso realizado no contexto de viagem oficial do Estado Brasileiro, que em nada poderia se confundir com sua campanha à reeleição. Em pleno solo britânico, ele ofendeu o luto daquela nação para ficar discursando sobre suas pautas e bandeiras.”

A Coligação Brasil da Esperança é formada pelos partidos PT, PV, PC do B, Psol, Rede, PSB, Solidariedade, Avante, Agir e Pros. O grupo também destaca na ação a presença dos filhos do presidente, Flávio Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, além do pastor Silas Malafaia e de Fabio Wajngarten, na viagem. Coligação afirma que “eles não possuem qualquer relação com a representação oficial do Estado brasileiro, mas têm atuação direta na campanha à reeleição.”

O União Brasil, adversário de Bolsonaro na campanha presidencial, também entrou com ação na Justiça Eleitoral contra o presidente pelas falas na Inglaterra.

Discurso golpista

Bolsonaro afirmou que, se não vencer a eleição de 2022 no primeiro turno com mais de 60% dos votos, “algo de anormal” terá acontecido no TSE, responsável pela realização do pleito e contabilização do resultado. A declaração foi dada durante uma entrevista para o SBT em Londres. “Pelas minhas andanças pelo Brasil, em especial nos últimos dois meses, se nós não ganharmos no primeiro turno, algo de anormal aconteceu dentro do TSE.”

A fala de Bolsonaro questiona a lisura do processo eleitoral mesmo após a Justiça Eleitoral ceder à pressão das Forças Armadas e concordar em fazer um teste de integridade de urnas com participação de eleitores no dia da votação.

Em outro momento da entrevista, Bolsonaro afirmou que o que garante sua vitória é o “Data Povo”, como chama o apoio que recebe nas ruas. “Está bastante dividido, né, muito mais favorável a mim. Eu digo, se eu tiver menos de 60% dos votos, algo de anormal aconteceu no TSE tendo em vista obviamente o Data Povo que você mede pela quantidade de pessoas que não só vão nos meus eventos bem com nos recepcionam ao longo do percurso até chegar ao local do evento.”

Agressão de bolsonaristas

Bolsonaro usou a sacada da embaixada brasileira para discursar como candidato e foi recebido por protestos de ambientalistas ingleses do grupo Brazil Matters, com cartazes que acusavam Bolsonaro de “ecocida”. A polícia de Londres precisou proteger os ativistas dos brasileiros apoiadores de Bolsonaro que xingaram os manifestantes.

Os bolsonaristas também cercaram a reportagem da BBC Brasil e tentaram impedir a equipe da emissora inglesa de trabalhar.

Bolsonaro visitou o local onde é velado o corpo da rainha Elizabeth II, acompanhado do pastor Silas Malafaia. A oposição questiona a viagem do pastor questionando a presença de Malafaia no funeral da rainha com recursos públicos.

Bolsonaro deve embarcar em seguida para Nova York (EUA), onde irá discursar na Assembleia-Geral da ONU (Organização nas Nações Unidas) na terça-feira (20).