Blocos históricos ficam de fora do carnaval de Vitória após decisão da prefeitura
Esquerda Festiva e PelaDonas do Centro estão entre os blocos suspensos pela prefeitura de Vitória
Por Cley Medeiros
Em uma canetada, a prefeitura de Vitória suspendeu o Carnaval de Rua da área central, após uma recomendação do Ministério Público apontar falhas da própria prefeitura em oferecer segurança e apoio logístico adequado para o evento. Os blocos Esquerda Festiva, PelaDonas do Centro e Prakabá, marcados para acontecer nos dias 25 e 26, respectivamente, tiveram que ser cancelados. A prefeitura já havia dado autorização para que os blocos pudessem sair.
Carlos Rabello, diretor do Bloco Esquerda Festiva aponta falhas na recomendação do MP, que também, segundo ele, ignorou a localização dos blocos, que iriam ocupar apenas a área central, distante da beira mar, região sensível na orla de Vitória, protegida por leis ambientais.
“O Ministério Público está alegando que jogou-se muito lixo na Baía de Vitória dos blocos maiores que se apresentaram lá. Lixo é responsabilidade da prefeitura, não é responsabilidade dos blocos. Foi a prefeitura que botou esses blocos maiores na região da Beira Mar. Então a responsabilidade de limpeza é deles e também do Ministério Público fiscalizar”, afirmou Rabello, em uma entrevista ao G1 Espírito Santo.
A Liga dos Blocos do Centro de Vitória (Blocão) realizou um protesto nesta sexta-feira (24), que reuniu milhares de pessoas no centro de Vitória para protestar contra a medida.
O Blocão classificou a medida como “inconstitucional e discriminatória, que acaba por criminalizar a maior manifestação da cultura popular do país e, em especial, o Carnaval de rua do Centro de Vitória”. O representante do bloco Amigos da Onça no Blocão, Paulo Gois Bastos, informa que o grupo também discute quais medidas judiciais podem ser tomadas para reverter a situação, como destacou o portal de notícias Século Diário.
A decisão do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) foi tomada depois que o 12º promotor de Justiça Cível, Marcelo Lemos Vieira, apontou que ‘”até que sejam apuradas as irregularidades decorrentes da poluição ambiental na Baía de Vitória, poluição sonora, perturbação ao sossego alheio, impacto urbanístico decorrente da destinação dos resíduos, bem como a questão da segurança pública”, diz trecho da decisão.
Associação de Moradores a favor dos blocos do Centro
Uma das primeiras organizações a se manifestar diante da decisão descabida de impedir o acesso à cultura, a Associação de Moradores do Centro de Vitória (Amacentro) considerou a proibição “descabida e autoritária”.
O carnaval de rua do Centro de Vitória possui histórico enraizado na cultura local. Neste ano, as festividades iniciaram no dia 18 de fevereiro com o Projeto Subúrbio. Seguiram os blocos Afrokizomba, Bloco Regional da Nair, Puta Bloco, Maluco Beleza, BatuQdellas, Vai que Gama, Coisas de Negres, Bloco Amigos da Onça, Bloco Galinha Preta.
Um dos argumentos do MP foi o episódio de um tiroteio horas após o final dos blocos, que aconteceram na região central. Sobre isso, Carlos Rabello afirma que as lamentáveis cenas não possuem relação com os blocos, e que a prefeitura deixou de prestar segurança necessária na região durante todo o carnaval. Conforme relatos, boa parte do efetivo ficou concentrado para organizar o trânsito.
“Todos os blocos encerraram as atividades após 18h e esses tiroteios aconteceram na madrugada. Uma madrugada em que você não via mais ninguém da Guarda Municipal presente e você não via praticamente mais nenhuma pessoa da Polícia Militar. Então todas as responsabilidades que estão alegando pra poder não ter o carnaval de sábado e de domingo não são dos blocos e sim da prefeitura e uma parte do próprio Ministério Público”, disse o diretor.