Em tramitação na Câmara Municipal, o Projeto de Lei 60/2025, conhecido como “Tarifa Zero” ou “Busão 0800”, propõe a gratuidade integral no transporte coletivo da cidade. Caso seja aprovado, a capital mineira se tornará a primeira capital brasileira a adotar a tarifa zero de forma plena em todas as linhas de ônibus.

O transporte público em Belo Horizonte vive um momento crítico. As tarifas estão entre as mais altas do país e, mesmo com investimentos da prefeitura superiores a R$ 700 milhões por ano, o serviço continua deficiente, com ônibus lotados, atrasos frequentes e reclamações constantes da população.

Como funcionaria

O projeto foi protocolado em fevereiro de 2025 por 22 vereadores, liderados por Iza Lourença (PSOL). O modelo prevê o fim da tarifa individual e a substituição do vale-transporte por uma Taxa de Transporte Público (TTP). Essa taxa seria paga apenas por empresas com mais de nove funcionários, proporcionalmente ao número de empregados. Micro e pequenas empresas ficariam isentas.

Segundo estudo da UFMG, o impacto médio seria de apenas 0,91% da folha salarial das empresas, considerando o que muitas já desembolsam hoje com o vale-transporte. O novo sistema teria potencial para arrecadar R$ 2 bilhões anuais, permitindo não só a gratuidade, mas também investimentos em renovação da frota, melhoria das linhas e modernização tecnológica. A lógica é simples: se o transporte é público, deve ser financiado coletivamente, e não apenas pelo usuário.

Avanços no Legislativo

Protocolado em fevereiro de 2025 pela vereadora Iza Lourença (PSOL) e outros 21 parlamentares, o projeto já passou por comissões importantes como Mobilidade Urbana e Legislação e Justiça. Atualmente, tramita na Comissão de Orçamento e Finanças Públicas, que deve realizar audiência em agosto. Para ser aprovado, precisará do apoio de ao menos 28 dos 41 vereadores em plenário.

O PL já conta com 22 assinaturas, mais da metade da Câmara Municipal, e outros três vereadores declararam apoio publicamente, totalizando 25 votos favoráveis. O projeto foi aprovado unanimemente na Comissão de Legislação e Justiça (CLJ), composta por cinco membros, e também passou nas comissões de Mobilidade Urbana, Comércio e Serviços e de Administração Pública e Segurança Pública.

O próximo passo é a análise na Comissão de Orçamento Público, seguida pelos dois turnos de votação no plenário, onde são necessários 28 votos (maioria qualificada) para a aprovação final. No entanto, a decisão também depende do prefeito Álvaro Damião, que já se posicionou contrariamente ao PL, mostrando pouco aprofundamento sobre o tema. Para especialistas e defensores da Tarifa Zero, a pressão popular será fundamental: se a população se mobilizar e demonstrar apoio massivo, há chances de influenciar a posição do Executivo.

Debate político e econômico

Enquanto a Câmara avança nas discussões, o prefeito Álvaro Damião (União Brasil) classificou a proposta como “inviável” e “utópica”, apontando dificuldades orçamentárias. Por outro lado, especialistas e movimentos sociais defendem que a medida é viável e necessária, destacando os impactos positivos para a cidade.

Se o Projeto de Lei 60/2025 for aprovado, os trabalhadores da capital mineira deixarão de ter descontados cerca de 6% de seus salários a título de Vale-Transporte. Além disso, todos aqueles que atualmente não recebem o benefício terão economia com a compra das passagens. Com esse dinheiro, as famílias poderão consumir mais no comércio local, aquecendo a economia da cidade. Além disso, um estudo recente de economistas da UFMG indica que o impacto da Tarifa Zero na folha de pagamento das empresas seria de menos de 1%, e 80% das empresas da cidade ficariam totalmente isentas da contribuição. Isso reforça a viabilidade técnica e econômica da proposta, colocando o PL como uma alternativa sólida ao sistema atual.

O pequeno comerciante também se beneficia: empresas com até 10 funcionários serão isentas da taxa do subsídio, o que reduz custos na folha de pagamento. Já os grandes comerciantes podem contar com o aumento do número de clientes circulando e consumindo, como mostram experiências em outras cidades. Em municípios que adotaram a Tarifa Zero, como Caucaia (CE) e São Caetano do Sul (SP), o crescimento nas vendas do comércio chegou a 30%, e um supermercado em Caucaia chegou a registrar 100% de aumento nas vendas após a implementação do transporte gratuito.

O impacto positivo vai além da economia. Com mais pessoas utilizando o transporte coletivo, haverá menos carros nas ruas, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e a poluição sonora. A proposta também prevê um subsídio robusto para renovar a frota de ônibus, retirando os veículos mais antigos de circulação e privilegiando modelos modernos, híbridos ou elétricos, contribuindo para uma cidade mais sustentável.

Além disso, a Tarifa Zero coloca Belo Horizonte na vanguarda das políticas de mobilidade urbana. Mais de 130 municípios brasileiros já implementaram transporte público gratuito, mas nenhuma capital de grande porte do país adotou o modelo integralmente. A aprovação do PL 60/2025 transformaria BH em um exemplo nacional, servindo como referência para outras capitais que desejam promover justiça social, inclusão e sustentabilidade no transporte coletivo.

Experiências e impacto esperado

O Busão 0800 ultrapassou os limites da política institucional e se tornou um movimento cultural em Belo Horizonte. Festivais como o Sensacional e o Faraoeste (batalha de rap), blocos de carnaval; 81 assinaram manifestos a favor da medida. Durante o Carnaval de 2025, faixas e palavras de ordem pelo transporte gratuito tomaram as ruas, reforçando que a pauta é também uma luta pelo direito à cidade.

No Brasil, mais de 130 municípios já implementaram o modelo em diferentes formatos. Com a aprovação do projeto, Belo Horizonte pode abrir caminho para que outras capitais sigam o mesmo rumo, tornando-se referência em mobilidade urbana gratuita no Brasil. Para os defensores da medida, a Tarifa Zero representa não apenas uma revolução no transporte, mas também um passo em direção a uma cidade mais justa, acessível e sustentável.