Evelyn Ludovina, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30

Enquanto líderes e negociadores se reúnem nas zonas oficiais da COP 30, Belém vive outra conferência: a da rua, das telas, das vozes e dos corpos. Pela cidade, a arte virou linguagem política. Mostras de cinema, performances, debates, músicas e exposições tomam os centros culturais e espaços públicos, impulsionando debates sobre o clima a partir dos territórios e dos povos que os habitam. Um evento que transborda os auditórios e se espalha pela cidade, fazendo da cultura uma ferramenta de disputa de narrativa, educação popular e resistência.

No Fórum Landi, o Cine Transpetro transforma o centro histórico em sala de cinema a céu aberto. Durante toda a COP 30, sempre às 15h, o espaço recebe curtas que tratam da crise climática.

A gente escuta muito falar sobre as mudanças climáticas, mas ver já é outra coisa. Dos sentidos, o que mais impacta é o ver”, diz Munique Souza, espectadora presente em várias programações da cidade nas últimas semanas. “A exposição e os curtas estão mostrando isso de um jeito muito direto.” 

Sessões de cinema, por exemplo, trazem temas para reflexão e debate (Foto: Evelyn Ludovina)

Ela conta que já passou por outras mostras, como a Vozes do Oceano, na Casa das Onze Janelas,  e que está aproveitando a COP para visitar os espaços junto com a mãe e o filho. A exposição permite ao público uma imersão em sensações e narrativas que conectam a vida marinha às emergências climáticas. Já na Cúpula dos Povos, sediada na UFPA, dezenas de organizações, coletivos, povos indígenas e movimentos sociais promovem rodas de conversa, shows, debates e manifestações culturais, tudo pulsando de forma paralela e complementar à COP oficial.

Já o Museu Emílio Goeldi virou Sede da Casa Ciência, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), abrigando dezenas de eventos gratuitos. As exposições, realizadas em parceria com a Embaixada da Suíça, seguem até o fim do ano no parque do Goeldi, com instalações que aproximam o visitante de pesquisas, florestas e tecnologias para o futuro da Amazônia. Já o Museu das Amazônias no Porto Futuro 2, oferece outra frente cultural, com exposições que fazem ponte entre conhecimento científico e arte amazônica.

A cidade segue tomada por múltiplos pontos de cultura. No Instituto de Ciências e Artes (ICA), a Rede Observatório do Clima promove exibições de filmes, performances artísticas, rodas de conversa e as aulas do Cursinho ABC do Clima que apresenta de forma didática temas como impactos ambientais, justiça climática e adaptação. No Espaço Chico Mendes, aberto ao público e funcionando diariamente até 21 de novembro, a programação reúne plenárias, painéis, cinema, oficinas temáticas e encontros com mulheres indígenas, extrativistas e jovens das águas e florestas.

No centro histórico, a Casa BNDES, no complexo dos Mercedários, traz o Cine-COP, com exibições diárias a partir das 15h, projeções mapeadas na fachada histórica e uma série de vídeos e fotografias que dialogam com os sistemas centrais da COP. A proposta é aproximar arte, economia e clima em um mesmo lugar, acessível e gratuito.

Foto: Bárbara Freire

A cena independente também ocupa seu lugar: a Casa Ninja Amazônia se tornou um dos centros vibrantes da COP, com exposições, festas, lançamentos e experiências coletivas que conectam arte, ativismo, juventude e movimentos. É um espaço que traduz o espírito da conferência alternativa que se forma em Belém: diverso, irreverente e comprometido com o território.

Casa Ninja Amazônia em Belém tem programação diversa (Foto: Mídia Ninja)

Com tantas atrações pulsantes, Belém se transforma em uma grande cartografia cultural: múltipla, acessível e viva. A cidade convida todo mundo a participar, discutir, aprender, se emocionar e também a ser turista na própria terra. A COP 30 abriu portas, janelas e telas, e esse movimento é para todas as pessoas.