Diferentes pessoas que atuam junto à população de rua em Belém (PA) realizaram uma intervenção durante as comemorações do aniversário da cidade no Mercado do Ver-o-Peso. No momento em que o prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB) esteve no festejo para cortar o tradicional bolo de aniversário, que todos os anos é distribuído para a população, um grupo de pessoas com chapéus de aniversário, línguas de sogra, confetes, cartazes de protesto, ao som de “Parabéns da Xuxa”, ocupou a festa da Prefeitura de Belém pra garantir a sua fatia de bolo. Eles denunciaram em uma grande e irônica comemoração as violências e desgovernos da atual gestão municipal.

Foto: Gilberto Guimarães Filho

Na ocasião foram distribuídos exemplares de uma edição especial do Jornal a Verdade Rua e Crua, produzido desde 2015 com a intenção de ampliar a circulação da voz de pessoas que estão ou estiveram em situação de rua. Esta edição especial contou com um relato grave e explícito das violências sofridas durante as últimas semanas.

Há algumas semanas a Ordem Pública de Belém (PA) vem mostrando serviço junto à Guarda Municipal e Polícia Militar em ações higienistas no centro da cidade para expulsar a população de rua. A Ordem Pública é o órgão da Prefeitura Municipal criado em janeiro de 2017 e responsável pelo dito ordenamento da cidade. Contudo, há relatos de ações coercitivas envolvendo ameaças, agressões físicas, retiradas de objetos pessoais, incluindo documentos.

https://www.facebook.com/MidiaNINJA/videos/1055063301318481/

No aniversário da cidade, esta gestão municipal abre uma série de serviços de atendimento ao cidadão, como inaugurar obra, ofertar consultas, exames, emitir documentos, apesar do sucateamento de inúmeros serviços públicos municipais. Porém, é a mesma gestão que, visando garantir uma suposta segurança aos cidadãos, autoriza e orquestra abordagens policiais violentas nas ruas dirigidas a populações indesejáveis, e que incluem presença de policiais que não se deixam identificar.

Foto: Gilberto Guimarães Filho

Há registros de ação semelhante já em abril de 2016, segundo denúncia realizada em rede social. Em post junto à foto o denunciante relatou:

“Dentro do ônibus, os moradores de rua pediam ajuda. Pediam pra fotografar, pra chamar a imprensa (que imprensa?). Pediam socorro e até para serem fotografados com medo de desaparecer tendo aquela imagem como única prova de abdução”.

Há uma cidade invisível onde vivem aqueles considerados pouco ou nada humanos, mas que não se esquecem da urgência de falar sobre suas dores e lembrar a todos sobre os seus direitos. Estes precisam ser garantidos por meio de ações efetivas de fortalecimento de políticas públicas de saúde e de assistência social para a população de rua, bem como de educação popular que possa fomentar na sociedade em geral o sentimento de responsabilidade pelo que acontece nas ruas enquanto dizem que todos dormem.

Foto: Gilberto Guimarães Filho