Banquetaço: uma mostra de que a alimentação saudável precisa estar no centro das discussões climáticas
O evento ofereceu outro horizonte, no qual a alimentação é tratada como direito, não como privilégio.
Por Camila Barraca, para a Cobertura Colaborativa NINJA COP 30
O Banquetaço realizado em Belém, no encerramento da Cúpula dos Povos, transformou a Praça da República em um amplo território de encontro. Agricultores familiares, cozinheiras populares, delegações de diferentes regiões e moradores da cidade compartilharam pratos preparados com ingredientes locais. A praça convertida em cozinha pública mostrou que a alimentação saudável precisa estar no centro das discussões sociais, ambientais e urbanas.
A ocupação do espaço com panelas, tábuas e alimentos produzidos em pequenas propriedades chamou atenção para o vínculo entre modos de cultivo e qualidade de vida. Em um momento em que a Amazônia volta a ser observada pelo mundo, o Banquetaço evidenciou que políticas climáticas só ganham força quando dialogam com quem planta, colhe e abastece os mercados locais.
A comensalidade se tornou um dos elementos mais marcantes da ação e o comer junto abriu espaço para um tipo de convivência que raramente acontece no ritmo agitado da cidade.

Os ingredientes amazônicos tiveram papel central, onde frutas, raízes, farinhas e temperos apresentavam saberes mantidos por povos da floresta e agricultores locais. Esses alimentos revelam práticas de manejo que cuidam da biodiversidade, fortalecem economias comunitárias e preservam modos de vida que formam a base da cultura alimentar da região. Ao chegarem à mesa coletiva, tornaram visível a força de tradições muitas vezes reduzidas a nichos.
O Banquetaço também destacou uma realidade vivida diariamente. O país produz grandes quantidades de alimentos, mas muitas famílias enfrentam insegurança alimentar. A praça cheia demonstrou que a fome está ligada a desigualdades históricas e a decisões políticas que não priorizam o acesso à comida de qualidade. O evento ofereceu outro horizonte, no qual a alimentação é tratada como direito, não como privilégio.

De acordo com o levantamento do banco BTG Pactual, o Brasil se tornou maior exportador mundial de soja (56% das exportações totais), milho (31%), café (27%), açúcar (44%), suco de laranja (76%), carne bovina (24%) e carne de frango (33%). Além disso, é vice-líder nas vendas de outras duas commodities: etanol e algodão.
Durante a ação, ficou evidente que partilhar uma refeição é uma forma de reivindicar dignidade. A comida servida expressou o desejo de políticas que valorizem a agricultura familiar, respeitem o território e garantam um abastecimento saudável para toda a população. O gesto coletivo se tornou voz pública para demandas que atravessam campo e cidade.
“Esse modelo não tem a perspectiva de alimentar pessoas, é um grande negócio global. O mundo nunca produziu tantos alimentos como agora e a fome continua. Portanto, não é essa a saída”, avalia o especialista em segurança alimentar Renato Maluf, coordenador da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).

Belém presenciou uma ação que reuniu encontro, cultura alimentar e atenção ao território. A refeição compartilhada mostrou que o futuro se constrói quando as pessoas se reconhecem e dividem o que está à mesa, criando um ambiente de convivência e responsabilidade coletiva no espaço urbano. O Banquetaço tornou esse princípio visível ao transformar a praça em cozinha aberta à cidade,. Em um momento marcado por hábitos alimentares cada vez mais individualizados, a iniciativa assumiu caráter de rebeldia ao reafirmar a força do preparo conjunto e da partilha pública. As mesas cheias e a circulação constante de pessoas evidenciaram que a cozinha segue como espaço de resistência e organização comunitária. Encerrado o evento, permanece a lembrança de que o ato de comer junto continua sendo uma das ferramentas mais concretas para sustentar vínculos e afirmar um projeto de sociedade mais atento à vida comum.
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