Por Vitor Costa, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

O mundo se encantou com o charme e o encanto da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris realizada na última sexta (26), às margens do Rio Sena, na capital francesa. Na união de todos os povos e continentes do mundo, conforme prevê o espírito olímpico.

Entretanto, em um país que foi o berço da Revolução Francesa, com seus ideais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, as autoridades políticas francesas usam os Jogos para promover uma limpeza social na capital francesa, ao transferir moradores em situação de rua da cidade parisiense para outras cidades.

De acordo com matéria divulgada pelo portal Alma Preta. A prática da “Limpeza Social” tem sido denunciada sistematicamente pelo coletivo “Le Reverse de Le Médaille” (O outro lado da medalha, em português). Um movimento social francês que visa dar visibilidade a população em situação de rua. 

Segundo o grupo, os principais atingidos são os imigrantes de origem africana, vindos de países como, Sudão e Chade, por exemplo. Os quais foram levados para abrigos em outras cidades como Lyon e Marselha no norte da França. Conforme informações divulgadas pelo grupo, essas remoções têm remontado ao ano passado. De acordo com relatório divulgado no seu site, mostra que desde 1° de maio de 2023 a 30 de abril deste ano, 12.545 pessoas nessa condição foram retiradas, sendo 3434 menores de idade.

“ Há inúmeros indicadores que sugerem que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos estão acelerando a remoção e dispersão de pessoas em situação vulnerável”.

Conclusão do relatório do Coletivo O outro lado da medalha


 

Operação de limpeza social ocorreu também na véspera da abertura dos Jogos 

Na quinta-feira passada (25), véspera da cerimônia de abertura, às margens do Rio Sena, em Paris, amanheceu sob protestos liderados pelos ativistas do coletivo Le Reverse de Le Médaille, na Praça da Revolução, conforme matéria do jornalista Thiago Arantes para o portal UOL.

Na ocasião, os ativistas protestaram contra a retirada forçada dos moradores de rua, assim como as promessas feitas pelas autoridades públicas francesas, e ainda os dirigentes do Comitê Organizador Local dos Jogos, que não foram cumpridas até o momento.

Questionada sobre as críticas dos manifestantes durante coletiva de imprensa, a ministra do esporte da França, Amèlie, Oudéa- Cáster rebateu as críticas, assim como as acusações feitas pelos ativistas no momento do protesto, a respeito da limpeza social dos imigrantes feita em Paris.

“Essas operações não têm a ver com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Essa limpeza social não existe”. 

Amélie Oudea-Caster, Ministra do Esporte da França em coletiva aos jornalistas.

Apesar de o Governo Francês e o Comitê Organizador Local de Paris 2024 negarem a limpeza social da população em situação de rua na capital francesa, em junho deste ano, o jornal esportivo francês L Equipe teve acesso a um e-mail de um funcionário do governo francês, no qual recomendava que “identificasse as pessoas em situação de rua próximas aos locais de competição olímpica e as retirasse”. O mesmo fato foi noticiado também pelo jornal americano The New York Times  em fevereiro deste ano.


Não é a primeira vez na história que as cidades sedes dos Jogos Olímpicos realizam limpeza social

A matéria trazida por Thiago Arantes, revela ainda que a  prática de limpeza social não é nada inédito na atual edição dos Jogos de Paris. Existem relatos de que desde a edição dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, nos Estados Unidos, a prática de remoção de moradores é exercida para o visual demonstrativo da cidade. Inclusive essa prática é batizada em inglês como sportswashing. Ela é uma junção da palavra sport (esporte) e wash (lavagem). 

Neste sentido, significa dizer que o governo faz o uso do esporte para melhorar a imagem pública do Estado, para  desviar o foco de questões controversas. Esse conceito, aliás, foi criado por entidades ligadas aos direitos humanos, tal qual é muito comum no futebol, recentemente vimos nas Copas do Mundo na Rússia em 2018, e no Catar em 2022.

Aqui no Brasil durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 houve uma situação semelhante ao que vem acontecendo em Paris, quando na ocasião moradores de rua eram retirados à força de locais com presença de turistas e atletas para que não fossem vistos enquanto deslocavam pela cidade. Essa prática, chegou a ser criticada pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, na época que classificou essa política como sendo higienista.

Foto: Fábio Sasaki/Olimpíadas