Por: Allana Fonseca e Andressa Simões

Atletas revelados em institutos sociais são destaques da delegação brasileira em Paris 

Roberta, Isaquias, Rebeca e Rafaela Silva são alguns representantes do Brasil que iniciaram sua trajetória no esporte em projetos sociais.

Em um país marcado pela desigualdade, o esporte, muitas vezes, mostra-se como um meio de integração do indivíduo com a sociedade. Nesse contexto, institutos sociais voltados para o esporte funcionam como uma forma de transmissão de valores para a vida por intermédio da prática esportiva. O objetivo dessas iniciativas não é revelar atletas de alto rendimento e, sim, formar cidadãos. Porém, em alguns casos, como foi o de Roberta Ratzke, Isaquias Queiroz, Rebeca Andrade e Rafaela Silva, descobre-se a chance de um futuro na carreira de esportista e um sonho a ser perseguido: o sonho olímpico.

Roberta, Isaquias, Rebeca e Rafaela possuem em comum o fato de terem dado os seus primeiros passos no esporte em ações de cunho social de suas respectivas cidades. A partir daí, descobriram o potencial que tinham e traçaram seus caminhos até alcançarem, finalmente, a disputa das Olimpíadas. Hoje, possuem também outra semelhança em suas trajetórias: os quatro já conquistaram pelo menos uma medalha olímpica na carreira. Conheça mais do início da vida no esporte desses atletas:

Roberta Ratzke  

Jogos Olímpicos Paris 2024 – Vôlei feminino. Treino da seleção feminina de vôlei. Em destaque na foto, a jogadora Roberta. Foto: Alexandre Loureiro/COB

Roberta, levantadora da seleção feminina de vôlei, iniciou no voleibol por meio de aulas do Instituto Compartilhar em Curitiba, cidade onde nasceu no Paraná. O projeto foi criado pelo técnico e ex-jogador Bernardo Rezende – o Bernardinho -, em 1997. Ela iniciou sua caminhada no voleibol em 1998, com oito anos, dentro do projeto e, a partir daí, começou a jogar por clubes e decidiu que queria seguir na carreira de voleibolista. Em entrevista ao site do Instituto Compartilhar, Roberta afirma que leva os ensinamentos do instituto até hoje: não só a técnica do toque e da manchete, mas, principalmente, os valores como respeito, empatia e espírito de equipe.

Atualmente, o Instituto Compartilhar soma 40 mil pessoas impactadas e conta com cerca de 40 núcleos ativos espalhados entre cinco estados do Brasil: Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. Enquanto isso, Roberta Ratzke, a primeira ex-aluna do projeto medalhista olímpica, vai em busca da sua segunda medalha olímpica em sua segunda olimpíada.

Isaquias Queiroz

Jogos Olímpicos Paris 2024 – Cerimônia de Abertura. O barco com a delegação do Time Brasil navega pelas águas do Rio Sena durante a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos Paris 2024. Na foto, os porta bandeiras do Time Brasil, Isaquias Queiroz (E) e Raquel Kochhann. | Foto: Reprodução/Comitê Olímpico Brasileiro

Natural de Ubaitaba, no interior da Bahia, Isaquias vem de origem humilde e de uma infância conturbada. Aos 2 anos, o menino perdeu o pai e viu a sua mãe ter que cuidar sozinha dele e de seus nove irmãos. Ainda criança, o atleta sofreu um acidente doméstico e teve boa parte do corpo queimada. 

Nascido em 1994, o garoto começou a treinar canoagem com 13 anos, em um projeto social atualmente conhecido como Remando em Águas Baianas, em Ubaitaba. Essa iniciativa busca utilizar o esporte como meio de inclusão social, educação e também para a descoberta de talentos. Logo após adentrá-lo, Isaquias foi descoberto por Jefferson Lacerda, um dos pioneiros da canoagem na cidade, e passou a se preparar para o cenário profissional do esporte.

De lá para cá, Isaquias Queiroz conquistou quatro medalhas em Olimpíadas e, após ter desfilado como porta-bandeira do Time Brasil na cerimônia de abertura, se prepara para a disputa de Paris 2024, seu terceiro Jogos Olímpicos. O atleta tem chance de se tornar o recordista do país em medalhas.

Rebeca Andrade

Jogos Olímpicos Paris 2024 – Ginástica Artística Feminina por equipes – O Brasil conquistou a medalha de bronze, conquista inédita para a ginástica brasileira. Na foto, a ginasta Rebeca Andrade.

Natural de Guarulhos, São Paulo, é um exemplo inspirador de superação e determinação. Nascida em uma família humilde, filha de uma mãe doméstica e com mais de sete irmãos, ela encontrou no esporte uma oportunidade de transformar sua realidade e a de sua família.

Seu amor pela ginástica começou aos 4 anos,  quando viu uma apresentação na televisão e ficou fascinada com a graça e a habilidade dos atletas. A partir desse momento, ela começou a imitar os movimentos e a se envolver em atividades físicas, buscando sempre aprimorar suas habilidades. Começou a treinar no ginásio Bonifácio Cardoso, localizado na Vila Tijuco, onde teve a oportunidade de se integrar a um projeto da Secretaria de Esportes de Guarulhos.

Fez parte do projeto social “Futuro Campeão”, uma iniciativa da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) que visa promover a ginástica artística em comunidades carentes e descobrir novos talentos no esporte. O projeto oferece aulas e atividades para crianças e adolescentes, democratizando o acesso à prática esportiva e incentivando valores como disciplina, respeito e trabalho em equipe.

Rafaela Silva

Nascida em 24 de abril de 1992, na favela da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, Rafaela enfrentou uma infância marcada por dificuldades, mas encontrou no judô uma paixão que mudaria sua vida. Desde cedo, ela mostrou talento e determinação, ingressando no esporte aos 11 anos.

Sua trajetória no judô começou a ganhar destaque quando Rafaela se juntou à equipe de judô do Instituto Reação, fundado pelo ex-judoca Flávio Canto. Além de suas conquistas esportivas, Rafaela é conhecida por sua força e resiliência. Ela enfrentou desafios tanto dentro quanto fora do tatame, incluindo preconceitos e críticas. No entanto, essas experiências apenas fortaleceram sua determinação e a motivaram a seguir em frente.

O Instituto Reação é uma organização não governamental que tem como objetivo promover a prática do judô e oferecer oportunidades de desenvolvimento pessoal e social para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. O projeto oferece aulas de judô, mas vai além do esporte; ele também foca na formação cidadã, no reforço escolar e em atividades culturais, contribuindo para a formação integral dos jovens atendidos.

Rafaela com medalha de ouro conquistada na Rio 2016. Foto: Bruno Egger/Mowa Press / Lance!