Por Ruan Nascimento, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

Os Jogos Olímpicos de Paris, que se encerram neste domingo (11), foram repletos de incríveis histórias, seja nas conquistas de medalhas, ou com a quebra de recordes mundiais e olímpicos em diversas modalidades. O Brasil, inclusive, teve o seu grande momento em Paris, com 20 medalhas conquistadas.

Mas a história olímpica em Paris não se resume apenas a uma ida ao pódio. Entre os 277 atletas brasileiros que representaram o Brasil nestes Jogos Olímpicos, muitos deles fizeram bonito em suas respectivas modalidades, mesmo deixando a capital da França sem conquistar uma medalha. Alguns alcançaram recordes pessoais, ou até mesmo nacionais. Outros, se destacaram por levar o país para posições que, antes, pareciam inalcançáveis. E também tem o caso daquelas pessoas que merecem o reconhecimento por sua superação pessoal para enfrentar desafios, e chegar até a Olimpíada. 

Pensando nestes competidores, o Ninja Esporte Clube traz uma lista com dez atletas brasileiros que se destacaram em Paris, e que são vencedores, mesmo deixando os Jogos sem ir ao pódio. São histórias e feitos especiais, para que não nos esqueçamos de seus rostos e de suas trajetórias. 

Neta Canoa – Canoagem de velocidade

Foto: COB

A brasileira Valdenice Conceição, conhecida como Neta Canoa , foi até a pouco a prova da semifinal da canoagem de velocidade C-1 200m nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

A baiana de Itacaré foi para os jogos olímpicos representar o povo quilombola. Seu nome está marcado no pioneirismo da canoagem brasileira. Já são mais de 21 anos de carreira da mulher conhecida como a primeira brasileira a garantir uma vaga na canoagem de velocidade em uma edição olímpica.

Ana Sátila – Canoagem

Foto: Luiza Moraes/COB

Essa lista não poderia começar com outra atleta que não fosse a canoísta Ana Sátila. Em Paris, ela fez história pela canoagem slalom, alcançando os melhores resultados da história do Brasil na modalidade, terminando com o quarto lugar na categoria K1, com a quinta colocação na categoria C1, e em oitavo na prova do caiaque cross. 

Ao todo, Ana Sátila competiu 15 vezes em oito dias, entre classificatórias, eliminatórias e finais da modalidade, lhe rendendo uma série de memes nas redes sociais por aparecer constantemente em provas em muitos dias.

“Eu queria muito agradecer, foi muito especial para mim e eu estou muito orgulhosa do meu trabalho, eu dei o meu máximo hoje e todos os dias”, disse a atleta em entrevista à Cazé TV, e reproduzida no site do Comitê Olímpico do Brasil (COB). 

Hugo Calderano – Tênis de mesa

Foto: Gaspar Nóbrega/COB

Pelo tênis de mesa, Hugo Calderano foi outro atleta a fazer história pelo Brasil. Na categoria simples, o atleta chegou até a semifinal da modalidade na categoria simples, sendo o melhor resultado da história do país pelo esporte. As derrotas para o sueco Truls Moregard e para o francês Felix Lebrun o deixaram fora do pódio, porém, a marca foi histórica. Calderano foi o primeiro competidor da América do Sul a alcançar a quarta colocação.

“Com certeza a minha carreira e vida não acabam aqui. Ainda tenho muito mais a dar para o esporte brasileiro. Precisarei assimilar esse resultado, que foi positivo, mas decepcionante no final. Com certeza, com o tempo, voltarei com calma a treinar e me dedicar. Sempre dou os meus 100%. Tenho certeza que não é aqui que paro de fazer isso”, ressaltou, em entrevista para o site do COB

Giullia Penalber – Wrestling

Foto: Alexandre Loureiro/COB 

A atleta Giullia Penalber é outra que merece o destaque por seu desempenho. Competindo pelo wrestling, ela terminou na quinta colocação, sendo a maior marca do Brasil na modalidade em Jogos Olímpicos. Em Paris, sua trajetória a colocou perto de uma medalha. A estreia foi com vitória sobre Rckaela Maree Ramos Aquino, de Guam. Porém, nas quartas de final, foi derrotada para Anastasia Nichita, da Moldávia.

Como a adversária foi até a final, Giullia teve uma nova chance de competir por uma medalha. Na repescagem, venceu a alemã Sandra Paruszewski, porém, a derrota para Hong Kexin, da China, a tirou do pódio. 

“Me sinto em constante melhora, mas, apesar de não ter conquistado a tão sonhada medalha, acho que essa competição trouxe sentimentos muito mais positivos, até por conta da trajetória. Há poucos meses, eu pensava que eu nem estaria fazendo wrestling e agora estou conquistando o melhor resultado do wrestling brasileiro. Estou muito grata por tudo que essa trajetória me trouxe”, destacou em entrevista para a TV Globo

Babi Domingos – Ginástica Rítmica

Foto: Ricardo Bufolin/CBG

A ginástica rítmica brasileira teve um grande destaque em Paris por meio de Babi Domingos. Ela foi a primeira atleta a representar o país na final do individual geral. Após uma fase de classificação envolvendo 24 atletas, a brasileira avançou entre as dez primeiras. Na decisão, acabou com a décima colocação, com 123.100 pontos conquistados. 

Natural de Curitiba–PR, a atleta de 24 anos iniciou sua carreira na ginástica quando tinha cinco anos. 

“Comecei na ginástica artística com cinco anos, na mesma época do Pan de Ginástica no Rio. Eu a vi e falei: quero fazer ginástica. E lá em Curitiba tem poucos centros de ginástica, tanto que comecei em uma praça da prefeitura. Dois meses depois fiz um teste para entrar na equipe e, nesse ano, a CBG (Confederação Brasileira e Ginástica) era em Curitiba, a seleção de ginástica artística treinava lá. Quando fui para o centro de treinamento de alto rendimento lá, já dei de cara com a Daiane do Santos. Foi muito legal”, lembrou Babi, em entrevista ao G1.

Marcus D’Almeida – Tiro com arco

Foto: Alexandre Loureiro/COB

Nos Jogos Olímpicos de Paris, o atleta Marcus D’Almeida repetiu a melhor marca de um brasileiro no tiro com arco olímpico. Atual número 1 do ranking mundial, ele chegou até as oitavas de final na competição individual, sendo o melhor desempenho de um brasileiro na modalidade. Ele foi eliminado pelo sul-coreano Woojin Kim, que conquistou a medalha de ouro na competição, pelo placar de 7 a 1.

“A final da última Copa do Mundo foi entre mim e ele. Na flecha de desempate, ele fez um 9 e eu fiz um 9, mas o meu foi um pouco mais longe que o dele, e ele saiu vitorioso. Então os dois sabem que quem fizer uma vírgula errada, está fora”, declarou após sua participação em Paris, em entrevista reproduzida pela CNN Brasil. 

Gustavo Bala Loka – Ciclismo BMX

Foto: Gaspar Nóbrega/COB

Gustavo Batista de Oliveira, ou, simplesmente, Gustavo Bala Loka, foi o grande nome do Brasil no ciclismo BMX freestyle, e fez história em Paris. Na modalidade que une o uso de manobras de bicicleta com manobras radicais, ele fez história ao terminar na sexta colocação. Com duas voltas espetaculares, na final ele alcançou a pontuação de 90,20 e 88,88, insuficiente para o pódio, mas suficiente para ser lembrado como um dos grandes atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos.

O resultado de Gustavo Bala Loka foi histórico, por ser a melhor campanha brasileira do ciclismo em uma Olimpíada, em qualquer modalidade de ciclismo, abrindo uma importante porta para o esporte no país.

“Tem um legado muito grande agora, de ser o primeiro a ter colocado o BMX brasileiro numa Olimpíada, fazendo história para isso. Mas acho que tem muito mais por vir do que só estar numa Olimpíada”, comemorou em entrevista ao Olympics.com. 

Guilherme Costa – Natação

Foto: Andy Lyons/Getty Images

No primeiro dia da natação olímpica, em 27 de julho, o atleta Guilherme Costa, o Cachorrão, foi um dos primeiros a se classificar para a final nas piscinas, na prova dos 400 metros livre, e havia nadado muito bem na semifinal. Mas em uma final muito disputada, o brasileiro acabou ficando com a quinta colocação, apenas 0,26 segundos atrás do terceiro colocado. Sem o pódio, a imagem dele chorando na beira da piscina correu o mundo.

Porém, o resultado dele foi histórico, e merece ser ressaltado. O tempo de 3m42s76 quebrou o recorde das Américas na prova. Ainda abalado pelo resultado, ele lamentou por sair da prova sem medalha. “Acertei a prova quase inteira. Faltou alguma coisa nos últimos 50 metros, as quais são meu ponto forte. Durante a prova, eu tinha certeza de que ia chegar em segundo, quando vi como a prova estava se desenhando. Acabei não conseguindo fechar da forma como eu sempre fecho”, comentou, em entrevista para a TV Globo. 

Nathalie Moellhausen – Esgrima

Foto: Felipe Quintana/Santiago

Nesta lista, também é necessário lembrar daquelas histórias de atletas que não superaram marcas pessoais, mas que superaram adversidades para estar nos Jogos Olímpicos. Um destes exemplos é da esgrimista Nathalie Moellhausen, campeã mundial e pan-americana da modalidade. Em fevereiro deste ano, ela descobriu um tumor benigno no cóccix, e estava convivendo com dores crônicas nas costas desde então. Inclusive, dias antes das Olimpíadas, ela foi internada em Paris, onde mora.

Mesmo assim, ela competiu, em um grande exemplo de resiliência olímpica. Durante sua disputa de estreia, contra a canadense Ruien Xiao, ela passou mal e precisou receber atendimento médico. Voltou para o duelo após alguns minutos, e foi derrotada pela adversária. Dias depois, ela realizou a cirurgia para a retirada do tumor. Com todas as adversidades enfrentadas até chegar aos Jogos Olímpicos, Nathalie Moellhausen merece ser destacada, com o desejo de uma pronta recuperação. 

Flávia Maria de Lima – Atletismo

Foto: Wagner Carmo/CBAt

A história de Flávia Maria de Lima em Paris merece o reconhecimento neste texto, principalmente por conta de seu drama pessoal. A atleta da prova dos 800 metros rasos chegou aos Jogos Olímpicos enfrentando um processo judicial pela guarda de sua filha, de seis anos. O genitor da criança acusa Flávia de abandono parental, protocolando as competições que ela participa como provas de que ela não estaria cuidando da filha. 

“No começo até fiquei aterrorizada, amedrontada, fiquei com medo de competir, de viajar, até pensei em desistir. Mas com um acompanhamento psicológico e conversando com minha mãe, que esteve me apoiando todos os dias, eu resolvi lutar e buscar os meus sonhos, vir atrás de tudo aquilo que eu sempre sonhei”, comentou a atleta em entrevista ao Globo Esporte Paraná. Nos Jogos Olímpicos, ela terminou em quinto na repescagem. Se despediu de Paris sem o pódio, mas sua luta pelo direito de competir continua.

Valdileia Martins – Atletismo

Foto: Wander Roberto/COB

Por fim, esta lista se encerra com a superação de Valdileia Martins até chegar a Paris. A representante do salto em altura, no atletismo, foi criada nas terras do assentamento Pontal do Tigre, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Querência do Norte/PR. No início da carreira, saltava em uma vara de pescar, adaptada como barra, em colchões feitos com sacos de milho e palha de arroz. Teve a influência do pai, seu Israel, mas a poucos dias da preparação, ele faleceu de forma inesperada.

Valdileia optou por continuar a competir. E no Stade de France, fez história. Na fase classificatória, a brasileira saltou para 1,92m, igualando o recorde brasileiro, com Orlane Maria dos Santos, em 1989. Com a marca, se classificou para a final, mas uma lesão no tornozelo a impediu de seguir na disputa por medalha.

“Agora é uma fase muito difícil, e eu sei que tenho que superar, porque meu pai é a minha motivação maior. Estou contente com tudo que estou vivendo, chegar a uma final olímpica. Não consegui saltar, mas estou contente com tudo”, disse na zona mista para a TV Globo.