Por Jhessyka L. P. Fernandes, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

Com o número de atletas mulheres igual ao número de atletas homens, a Olimpíada da igualdade de gênero ainda traz algumas problematizações relativas aos números de atletas convocadas que vivenciam ou vivenciaram o contexto da maternidade. Postergação da maternidade, pausas na carreira, falta de estruturas de apoio e mudanças corporais foram alguns dos problemas citados anteriormente, na matéria de Julia Moreira.

Foto: Reprodução/Instagram

Após eliminação pelas quartas de final, a esgrimista Nada Hafez, de 26 anos, revelou estar grávida de 7 meses. Em sua terceira Olimpíada representando o Egito, ela publicou um post emocionante em sua página do Instagram onde revelou a gravidez e o seu orgulho em participar de um evento esportivo tão importante para si e para seu país. Mesmo tendo uma gestações sem problemas, alguns questionamentos levantados nas redes sociais de Hafez faziam menção à segurança da prática de esportes por atletas durante a gravidez.

Competindo em Tóquio 2020, a jogadora de basquete francesa Valériane Ayayi Vukosavljevic levou o bronze para casa sem revelar que estava grávida. A atleta afirmou ter realizado acompanhamento médico intenso para que se sentisse segura, admitindo as diferenças no desempenho devido às alterações hormonais, mas mesmo assim, foi tema de debates sobre a decisão da jogadora colocar a vida do filho em risco, só por ter optado em realizar seu sonho de participar de uma Olímpiadas

Valériane conquistou medalha de bronze em Tóquio durante a gravidez. | Foto: Getty Images

Nur Suryani Mohamed Taibi (Londres 2012), Kessy Walsh Jennings (Londres 2012), Anky Van Grunsven (Atenas, 2004) e Kateřina Kůrková-Emmons (Pequim 2008) são atletas de diferentes modalidades, com diferentes necessidades de esforço físico, e que apenas corroboram com a narrativa de que o mais importante é o correto acompanhamento técnico e médico. Grunsven, mesmo assim, teve parto prematuro, mas com a constante percepção dos profissionais, houve total recuperação do bebê.

MESMO COM DIFICULDADES, VOZES GUIAM A MUDANÇA

Allyson Felix, multicampeã olímpica e mundial norte-americana do atletismo, sentiu na pele o peso do machismo: mesmo com 6 medalhas olímpicas de ouro e com carreira respeitada por toda a comunidade esportista, a atleta se viu competindo, em 2019, sem nenhum apoio e patrocínio. Mesmo com todas as suas vitórias, Felix se viu em situações de incerteza, com pagamentos reduzidos e cláusulas contratuais básicas e mínimas negadas.

Allyson Felix conquistou medalha de ouro em 2019 logo após cortes no patrocínio por ser mãe. | Foto: Ryan Pierse/Getty Images

A história teve um final feliz. Dois meses depois, a atleta conseguiu quebrar o recorde mundial de Usain Bolt, conquistando sua décima segunda medalha de ouro em um campeonato mundial. No mesmo ano, a tenista norte-americana Serena Williams, que passou por complicações no parto, viu sua carreira permanecer vitoriosa, mesmo competindo 10 meses depois do parto.

A estrela do WNBA Skylar Diggins-Smith revelou estar grávida durante a temporada de 2018, não impedindo a sua colocação no 15º lugar da liga. Mesmo não contando a ninguém, a atleta se viu em estado de depressão pós-parto e com limitações financeiras para se apoiar. Voltou 6 meses depois do nascimento do filho, marcando 19 pontos para o time nacional feminino dos EUA.

Quando questionadas sobre a demora em trazer todas essas denúncias a público, as atletas citadas, todas com altíssimo rendimento esportivo, mencionam que suas carreiras possuíam apoio financeiro contratual com cláusulas muito restritas, além de temerem também penalizações por parte das próprias instituições que promovem as competições.

Todas as histórias citadas foram seguidas de críticas às marcas que deixavam ou diminuíram o apoio aos atletas. A Nike, patrocinadora de diversos atletas em diferentes países, anunciou publicamente mudanças contratuais envolvendo a maternidade. A mesma companhia que propôs diminuir em 70% o pagamento à Allyson Felix em 2018, mas devido a muita pressão voltou e anunciou que já não rescindiria e não aplicaria reduções nos contratos durante os 18 meses de gravidez e maternidade, promove em seus anúncios a imagem de uma marca que apoia e alavanca mulheres em todas as etapas de suas vidas e carreiras.