Atletas da África lusófona jogam em seleções europeias na Copa do Catar
Nascidos em Angola ou Guiné-Bissau, quatro atletas marcam presença no Mundial, mas defendendo as cores de grandes nações da Europa
Nascidos em Angola ou Guiné-Bissau, quatro atletas marcam presença no Mundial, mas defendendo as cores de grandes nações da Europa
Por Matheus Pedroso
Assim como fez no Brasil, Portugal conduziu a colonização de cinco países africanos, explorando a região e conseguindo grandes lucros com o tráfico de escravos. Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe precisaram esperar até 1974, quando a Revolução dos Cravos deu início ao processo de independência de seus territórios, concluído no ano seguinte.
No futebol, é possível ver a presença de muitos jogadores portugueses, principalmente, relacionados às antigas colônias africanas, sejam eles descendentes ou até mesmo nativos desses países, que imigraram para o Velho Continente e conseguiram cidadania local. Na Copa do Catar, são quatro jogadores nascidos na África lusófona e não apenas defendendo Portugal.
Pela seleção lusitana, os representantes são dois volantes, Danilo Pereira e William Carvalho, nascidos em Guiné-Bissau e Angola, respectivamente, ambos se mudaram ainda jovens para Portugal e tiveram toda sua formação como jogadores no país, integrando seleções de base e a principal, anos mais tarde.
Danilo Pereira
Danilo saiu de Guiné-Bissau ainda aos seis anos junto à sua mãe, no futebol fez caminho pouco convencional antes de atingir o sucesso. Com passagem pelas divisões de base do Benfica, o jogador se profissionalizou pelo Parma, da Itália, e depois acumulou passagens por Grécia e Holanda, até retornar ao futebol português, onde defendeu o Marítimo e o Porto.
No clube da Ilha da Madeira, o jogador conseguiu um feito raro na sua primeira convocação, foi chamado mesmo não atuando pelos três grandes clubes locais. Na estreia de Portugal na Copa, o jogador foi titular como zagueiro, tendo sua primeira experiência no torneio, que foi frustrada em 2018 por uma lesão às vésperas do Mundial da Rússia.
William Carvalho
Já o seu companheiro, William Carvalho, nasceu em Angola e se mudou para Portugal na adolescência, fazendo boa parte da sua formação como jogador no Sporting, onde se firmou como um dos principais jogadores após uma série de empréstimos e recebeu sua primeira convocação para a seleção nacional.
Hoje atuando pelo Real Bétis, da Espanha, já sem o mesmo prestígio de outros momentos, ainda é homem de confiança do treinador Fernando Santos, que o manteve entre os selecionados mesmo com a baixa minutagem ao longo da temporada. Junto ao técnico, assim como Danilo, eles fizeram parte das principais conquistas da história de Portugal, a Eurocopa 2016 e a Liga das Nações 2019.
Eusébio
Essa relação da seleção lusitana com jogadores nascidos em suas antigas colônias africanas é antiga, tendo como principal figura um jogador moçambicano, o histórico atacante Eusébio, maior ídolo da história do Benfica, onde foi campeão europeu e venceu por onze vezes a liga nacional, além de outros feitos pessoais, como a Bola de Ouro, em 1965, e uma série de artilharias. Pela seleção, foi o grande destaque na Copa do Mundo de 1966, terminando como artilheiro do torneio e garantindo a melhor campanha na história do país, um terceiro lugar.
Além de Portugal, os elencos de França e Espanha também contam com jogadores nascidos na Guiné-Bissau e Angola, que por diferentes motivos chegaram nesses países e hoje representam suas seleções. Ansu Fati e Eduardo Camavinga, de Barcelona e Real Madrid, respectivamente, completam a lista de jogadores desses países que estão presentes no Catar para a disputa da Copa do Mundo.
Ansu Fati
Ansu Fati chegou à Espanha ainda na infância, acompanhando sua família que se mudou para o país após seu irmão, Braima Fati, ser contratado pelo Sevilla. No mesmo clube, ele deu seus primeiros passos no futebol até chegar ao Barcelona, onde empilha recordes como mais jovem a atingir grandes feitos pelo clube e também defendendo a seleção espanhola.
Uma grave lesão no final de 2020, quando vivia seu melhor momento pelo Barcelona, interrompeu seu desenvolvimento. Mesmo após sua recuperação, o jogador tem convivido com outras contusões, que impedem uma sequência de jogos e a retomada do seu melhor futebol. Ainda assim, o jogador teve a confiança de Luis Enrique, que o convocou para a sua primeira Copa do Mundo.
Eduardo Camavinga
Na França desde os dois anos, Eduardo Camavinga nasceu em um campo de refugiados em Angola, quando sua família estava fugindo da guerra na RD do Congo. Ao chegar na Europa, se tornou uma das principais promessas do futebol no Rennes, atingindo uma série de recordes por clube e seleção, quando passou a gerar interesse de potências do futebol europeu, entre elas o Real Madrid, que acertou sua contratação no ano passado.
Ainda buscando se firmar pela seleção, ele conta com grande concorrência em seu setor, com nomes como N’Golo Kanté e Paul Pogba, que não estão no Catar devido a lesões, mas que tiveram brilhantes participações na conquista francesa em 2018, na Rússia. No clube, a presença de nomes históricos como Toni Kroos e Luka Modric ainda brecam sua titularidade, que é tratada como certa num futuro próximo.
Com pouca tradição e muito atrás de potências continentais, apenas Angola, em 2006, conseguiu disputar a Copa do Mundo, entre os países que tiveram colonização portuguesa na África. A grande esperança no momento parece Cabo Verde, que acumula jogadores em ligas europeias e avança com mais força para atrair atletas preteridos por Portugal à defender a sua seleção.
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube