Atleta classificada para as Olimpíadas, enfrenta machismo em processo judicial
Cada nova convocação de Flávia, o genitor peticiona ao processo como uma tentativa de convencer a Justiça de seu “abandono”.
Por Lara Musa
O período antes do início das olimpíadas deveria ser de foco e concentração para os atletas, mas a velocista, Flavia Maria de Lima, enfrenta e luta contra outros pensamentos vindos de uma disputa judicial pelo seu bem maior: sua filha de 6 anos. O genitor levou à justiça todas as viagens que Flávia realizou em busca de sua tão sonhada vaga olímpica, como forma de demonstrar que a atleta estaria abandonando-a e deixando de cuidar de sua filha.
Para conseguir a classificação, seria impossível Flávia competir somente em seu estado, pois existem diversas etapas que ela necessita correr para conseguir suas metas profissionais e até mesmo manter suas bolsas e patrocínios. Sua filha nasceu em 2018, de forma não planejada, mas Flávia acreditava ser o momento. Voltou a treinar quatro meses após dar à luz, ficou quase um ano sem clube e patrocínios, mantendo-se apenas com a sua “Bolsa Atleta Olímpica” que tinha direito por ter disputado a Rio2016, na prova de 800m. Teve dificuldades em manter a dupla jornada, uma rotina exaustiva tentando conciliar vida de atleta de alta performance e cuidar da criação de sua filha.
“Eu só segui atleta graças ao apoio de uma amiga que, fizesse sol ou chuva, ia todos os dias em casa para cuidar da minha filha para que eu pudesse treinar. A tal sororidade feminina” relata a atleta para o “Minha História” do UOL Esporte.
Além disso, ela teve diversas complicações com sua performance, em 2021 deixou sua filha aos cuidados de sua mãe, por dois meses, para que pudesse ir treinar em São Paulo e buscar uma vaga em Tóquio, que não veio por muito pouco. Não se classificando em 2021, acabou decaindo de nível no Bolsa Atleta, passando a receber um valor menor de auxílio. Com queixas constantes de seu companheiro sobre dívidas, passou a fazer crochê como renda adicional.
“Só que se eu não conseguisse fazer o almoço para terminar uma encomenda e pedisse para ele comprar uma marmita, ele reclamava. Disse com todas as letras que era minha obrigação ele chegar em casa e estar com a comida feita, a roupa lavada, servir ele em todos os sentidos. Tudo que eu ganhava ficava na mão dele, inclusive do crochê, que era ele quem vendia. Hoje, prefiro seguir acreditando na versão de que vivíamos endividados, porque minha decepção seria maior. Tem certas verdades que é melhor a gente não saber.”, disse Flávia ao UOL.
A pista que treinava, passou por reformas em 2023, e por causa das fortes chuvas não conseguia treinar na rua, sendo necessário mais uma vez ir para São Paulo treinar, deixando a filha com o pai, que na época ainda era seu marido.
Flávia relata que em tantos anos, foi o momento que mais precisou do apoio dele, mas o que aconteceu foi diferente do que ela esperava. O marido passou a impedir o contato dela com a filha, quando voltava esporadicamente para Campo Mourão. Após ouvir relatos do período que a filha ficou com ele, pediu o divórcio e permaneceu na cidade até o fim do ano.
Para não deixar a filha sozinha com o pai, Flávia ausentou-se de competir nos Jogos Pan-Americanos. Porém, cada nova convocação de Flávia, o genitor peticiona ao processo como uma tentativa de convencer a Justiça de seu “abandono”.
“Tenho que remar contra uma correnteza que é o genitor tentando de tudo para atrapalhar a minha carreira e os meus resultados. Temos a guarda compartilhada, ele pode visitá-la na casa da minha mãe em Campo Tenente (PR), onde agora moramos, mas nunca veio. Só a viu em março, porque a levei a Campo Mourão.” Desabafou a atleta.
A cidade em que vive, não tem pista de atletismo, então sua preparação é feita na rua. Conseguiu ajuda com patrocínio para que pudesse ir à Europa, onde conquistou pontos importantes e assim irá a Paris para representar o Brasil em mais uma Olimpíada.
“Ir para os Jogos Olímpicos é uma forma de resistência. É uma forma de dizer para minha filha que ela é dona das escolhas dela, da vida dela, que ninguém pode dizer o que ela pode ou não fazer. ”
A paranaense, pentacampeã do Troféu Brasil foi convocada para a prova dos 800m e sua estreia está marcada para o dia 2 de agosto.
Com informações do UOL Esporte