Ativistas protestam por liberação de patente de medicamento 100% eficaz na prevenção do HIV
Ativistas de diversas partes do mundo se reuniram no Global Village, um espaço destinado à sociedade civil, para exigir que a farmacêutica Gilead reduza os preços do Lenacapavir, uma nova droga de longa duração para prevenção e tratamento do HIV.
Por Redação da Agência de Notícias da Aids, em parceria com Mídia Ninja.
Na manhã desta terça-feira (23), o segundo dia da Conferência Internacional de Aids em Munique, Alemanha, foi marcado por um protesto que movimentou os corredores do centro de convenções ICM – International Congress Center Messe München. Ativistas de diversas partes do mundo se reuniram no Global Village, um espaço destinado à sociedade civil, para exigir que a farmacêutica Gilead reduza os preços do Lenacapavir, uma nova droga de longa duração para prevenção e tratamento do HIV.
O medicamento mostrou 100% de eficácia como profilaxia pré-exposição com apenas duas injeções anuais, segundo segundo Purpose 1 divulgado este ano: nenhuma mulher participante foi infectada pelo vírus da Aids. Apesar deste avanço inédito para barrar novas infecções de HIV, os ativistas denunciam que a farmacêutica estipulou um preço estratosférico para o remédio, o que gerou indignação entre os defensores da saúde pública.
No dia anterior, durante a abertura oficial da Conferência, a diretora executiva do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), Winnie Byanyima, reivindicou a liberação da patente da injeção deste medicamento para países de baixa e média renda. “A farmacêutica Gilead chamou essa injeção de Lenacapavir. Eu a chamo de uma ferramenta milagrosa de prevenção ao HIV”, afirmou Byanyima. Segundo ela, estudos indicam que fabricantes genéricos poderiam reduzir o preço do Lenacapavir para menos de 100 dólares por ano em países em desenvolvimento, em contraste com os mais de 40 mil dólares cobrados atualmente nos Estados Unidos.
Os ativistas carregavam cartazes com mensagens , como “Vidas importam mais que o lucro”, “Acesso ao medicamento para todos” e “Ganância mata pessoas vivendo com aids”. Eles exigem que a Gilead libere a patente do Lenacapavir, permitindo a produção de genéricos a um custo exageradamente inferior, possibilitando o acesso ao maior número possível de pessoas e, assim, contribuindo para o fim da Aids até 2030, meta global determinada pelo Unaids.
Asia Russell, da organização global de advocacy para o HIV Health GAP, foi uma das vozes mais ouvidas durante o protesto. Em seu discurso, ela destacou: “A Conferência Nacional de Aids acaba de divulgar dados que confirmam o que já sabemos: a injeção de prevenção da Gilead, Lenacapavir, que é 100% eficaz na prevenção da aquisição do HIV, está sendo precificada em mais de 40 mil dólares por ano. Vergonha! Vergonha! Vergonha!”
Ela continuou, ressaltando a disparidade entre o custo de produção e o preço de mercado: “De fato, essa injeção custa centavos para ser fabricada. Apenas $40 por paciente por ano. Nossas vidas valem mais do que os lucros da Gilead ou de qualquer empresa farmacêutica.”
Os manifestantes reafirmaram seu compromisso de lutar por “100% de acesso para todos” e deixaram claro que a batalha contra os preços exorbitantes e os monopólios farmacêuticos continuará até que todas as pessoas que precisam do Lenacapavir possam obtê-lo. A mensagem ecoada em Munique é clara: vidas humanas não têm preço e o acesso a tratamentos vitais deve ser universal.
A Agência de Notícias da Aids procurou um representante da farmacêutica para comentar os protestos, mas até o momento de publicação desta reportagem não obtivemos retorno. O espaço continua aberto.