Atiradora esportiva, nova diretora de educação ambiental de Bolsonaro nunca atuou com meio ambiente
Entidades fazem manifesto contra contratação no Ministério do Meio Ambiente
Na terça-feira (8), o Ministério Meio Ambiente (MMA) nomeou Cristiane Lemos Batista de Freitas para o cargo de diretora de Educação e Cidadania Ambiental, embora no currículo, disponível no site do governo federal, não tenha sido indicada nenhuma experiência na área.
Desde o início do governo Bolsonaro ocupa cargos de confiança, a começar pelo Ministério da Cidadania, onde trabalhou com Osmar Terra e antes do MMA, com Damares Alves, no Ministério da Mulher, da Família e Direitos Humanos. Ela também já trabalhou em órgãos públicos antes do governo, mas não tem experiência nem em Educação e tampouco em Meio Ambiente.
O jornal Brasil de Fato repercutiu a contratação de Cristiane e buscou um posicionamento do Ministério do Meio Ambiente. Até o momento, não houve resposta. O site conta que ela é atiradora esportiva e em 2021, à ocasião de uma audiência pública sobre este tema, defendeu o armamento da população brasileira, argumentando que uma faca é mais letal que uma arma e ninguém precisa de autorização para ter uma.
Ao terem conhecimento da contratação de Cristiane via Brasil de Fato, mais de 60 entidades, organizações e lideranças ligadas à educação e meio ambiente publicaram um manifesto questionando a contratação: “é de ficar abismado com a escolha política em um cargo tão nobre”.
Leia abaixo o manifesto na íntegra:
No dia 8 de março de 2022, Dia Internacional da Mulher, nós, educadoras e educadores do Brasil, fomos surpreendidos pela indicação da nova diretora de Educação e Cidadania Ambiental no Ministério do Meio Ambiente.
Compreendemos a nomeação como um escárnio, como um desrespeito aos profissionais do campo ambiental comprometidos com a educação ambiental. Esta nomeação é um ato de violência simbólica, operando como uma manifestação de cruzada cultural antiecológica. O resultado é a perplexidade dos coletivos educadores do país, já que é um cargo de suma importância à gestão da educação ambiental brasileira. Após o impacto do relatório climático, com o criminoso exemplo de Petrópolis, na região Serrana do Rio de Janeiro, entre outros, o mínimo que necessitamos é uma personalidade com experiência nos processos pedagógicos, que oriente a sociedade sobre o valor da vida e não de uma atiradora esportiva, com armas que eliminam vidas, ao invés de protegê-las.
Somente um governo ecocida e negacionista acata e nomeia uma pessoa sem nenhuma trajetória, sem nenhum conhecimento das redes, dos grupos, dos observatórios e dos coletivos da educação ambiental, brasileira e latino-americana. É de ficar abismado com a escolha política em um cargo tão nobre.
Ser praticante de tiro em nada qualifica a pessoa para atuar em educação ambiental. Ademais, entendemos como profundo desrespeito às mulheres e de intenso escárnio expor esta mulher a esta situação vexatória, que também é vítima da necropolítica nefasta do governo atual, que ataca sistematicamente todas as formas de vida. O governo bolsonarista também utiliza as mulheres e suas representações de luta pela justiça histórica, e arduamente construídas, como mais uma forma de apropriação. De maneira a esvaziar suas contribuições para atender fins políticos que são humilhantes à vida e sua diversidade.
É preciso parar o bolsonaro! Ele é um enorme risco à integridade da Terra – é uma ameaça à Amazônia e de tantos outros biomas brasileiros e internacionais. bolsonaro e damares estão bombardeando nosso país com milícias oficiais de violência e de desmonte de políticas públicas conquistadas à base de muito trabalho, muita ética e muito compromisso com todos os sistemas interconectados da Terra, sejam geofísicos, biológicos ou tecnológicos.
Bolsonaro e Damares avançam no ataque ao meio ambiente e à diversidade de vidas. Manifestamos nossa profunda indignação a mais uma afronta e desrespeito à luta ambientalista.
Leia o nome das entidades e organizações signatárias:
ARAUCÁRIAS – Rede de EA a partir dos Campos de Cima da Serra e Hortênsias -UERGS/RS;
Articulação Nacional de Políticas Públicas de Educação Ambiental, ANPPEA;
Associação Alternativa Terrazul;
Associação Brasileira de Agroecologia, ABA-agroecologia;
Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências ABRAPEC;
Associação Defensores da Terra – RJ;
Associação dos Docentes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, ADUNIRIO;
Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso – ADUFMAT – S.Sind.;
Ateliê do Conhecimento;
Centro de Estudos Ambientais (CEA);
Associação dos Defensores da Terra;
Conferência Livre de Meio Ambiente e Agricultura do RJ, CLEMAARJ;
Coletivo Amigos do Pantanal;
Defensores do Planeta;
Deputado Estadual Carlos Minc, Partido Socialista Brasileiro, RJ;
Deputado Estadual Lúdio Cabral, Partido dos Trabalhadores, MT;
Deputado Federal Nilto Tatto, Partido dos Trabalhadores, SP;
Deputado Federal Paulo Pimenta, Partidos dos Trabalhadores, RS;
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, FBOMS;
Fórum de Direitos Humanos e da Terra, FDHT;
Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento, FORMAD;
Frente Ampla Democrática Socioambiental – FADS;
Fundo Brasileiro de Educação Ambiental – FUnBEA;
Grupo de Articulação da Audiência Pública no Senado Federal;
Grupo de Educação Ambiental desde el Sur, GEASur-UNIRIO;
Grupo de Estudos Ambientais da Serra do Mar (GESMAR);
Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis – GEPEAS (UESB);
Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Ambiental, Diversidade e Sustentabilidade – GEPEADS/UFRRJ;
Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Ambiental, Diversidade e Sustentabilidade – GEPEADS/UFRRJ;
Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental, GEA/UFJF;
Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental Dialógica, Educação Intercultural, Educação e Cultura Popular, Gead-UFC;
Grupo de Estudos e Pesquisa em Interculturalidade e Educação em Ciências – GEPIC;
Grupo de Estudos em Educação e Meio Ambiente, GEEMA;
Grupo de Estudos em Educação, Cultura, Ambiente e Filosofia – GEECA;
Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e Cultura da Sustentabilidade (GPEACS/UFPR);
Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e Ensino de Ciências (GPEAECUFRJ);
Grupo de Pesquisa em Educação e Território (GPET)-UFSM;
Grupo de Pesquisa em Trabalho-Educação e Educação Ambiental – GPTEEA do IFRJ;
Grupo de Trabalho 22, Educação Ambiental – ANPED;
Grupo Infâncias, Tradição Ancestral e Cultura Ambiental- GiTaKa, UNIRIO;
Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte, GPEA-UFMT;
Instituto Calanam;
Instituto Caracol – ICARACOL;
Instituto Ecoar para a Cidadania;
Laboratório de Educação e Política Ambiental, OCA-ESALQ-USP;
Laboratório de investigações em educação, ambiente e sociedade – LIEAS/UFRJ;
Movimento dos Educadores Socioambientais – MG;
Mulheres do Hip Hop – MT;
Observatório da Educação Ambiental, Observare;
Observatório de Governança das Águas;
Rede Brasileira de Educação Ambiental, Rebea;
Rede Capixaba de Educação Ambiental;
Rede de Educação Ambiental da Serra dos Órgãos;
Rede de Educação Ambiental da Zona Oeste do RJ;
Rede de Educação Ambiental do Oeste da Bahia;
Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro, REARJ;
Rede de Educadores Ambientais da Baixada de Jacarepaguá;
Rede Internacional de pesquisa em decolonialidade Educação em Ciências e Tecnologia, RIEDECT;
Rede Internacional de Pesquisa em Educação Ambiental e Justiça Climática, REAJA;
Rede Lusófona de Educação Ambiental, REDELUSO;
Rede Mato-grossense de Educação Ambiental, REMTEA;
Rede Paraense de Educação Ambiental;
Rede Paranaense de Educação Ambiental -REA-PR;
Rede Paulista de Educação Ambiental, REPEA;
Secretaria de Mulheres do Partido dos Trabalhadores-MT;
Territórios de Aprendizagens Autopoiéticas.