Por Lucas Souza

Ícone global da Bossa Nova, a multiartista natural de Salvador ganhou fama internacional aos 22 anos ao participar das gravações do primeiro disco de jazz a vencer o principal prêmio do Grammy (Melhor Álbum do Ano), o “Getz/Gilberto”. Ao fazer parte do dueto vocal de “Garota de Ipanema” como parte desse disco, que foi reconhecido como um dos mais influentes da história do Brasil, Astrud se consagrou, juntamente com João Gilberto, como voz da segunda música mais reproduzida do mundo, atrás somente de Yesterday, dos Beatles.

A cantora, compositora e artista plástica acumulou diversos títulos e indicações ao longo de sua carreira, como o primeiro Grammy de gravação do ano conquistado por uma mulher (1965), o Latin Jazz USA pelo conjunto de sua obra (1992), o Grammy Latino por excelência musical (2008) e teve seu nome incluído no “International Latin Music Hall of Fame” em 2002. Astrud também foi indicada nas categorias do Grammy “Best Vocal Performance”, “Best New Artist Of 1964” e “Best Vocal Performance, Female”.

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Além da participação em “Garota de Ipanema”, a cantora foi responsável pelo vocal da versão em Inglês da canção, que atingiu mais de 5 milhões de cópias vendidas, principal motivo do sucesso mundial que a tornou a segunda música mais executada da história. Juntamente a esses marcos, o trabalho de Astrud ao longo de seus 19 álbuns em vários idiomas e uma série de turnês internacionais foi fundamental para popularizar mundialmente o estilo da Bossa Nova inovador para a época, elevar o reconhecimento da musicalidade nacional e abrir portas para artistas brasileiros no cenário internacional.

Na versão original da mundialmente conhecida “Garota de Ipanema”, Astrud foi cortada dos royalties e teve seu nome excluído dos créditos como forma de inibir seu sucesso iminente. A multiartista recebeu apenas 120 dólares pela gravação (valor mínimo determinado pelo sindicato), enquanto João Gilberto recebeu 23 mil dólares e o saxofonista estadunidense Stan Getz faturou quase 1 milhão de dólares. Segundo o jornal The Independent, Getz ligou para o produtor Creed Taylor para negociar o boicote de Astrud ao perceber que “The Girl From Ipanema” seria o sucesso maior do álbum.

O saxofonista chegou a declarar em entrevista que ela era apenas uma dona de casa que ele decidiu colocar no disco, ao passo que Astrud rebateu a afirmação em seu site, deixando claro que “nada está mais longe da verdade” e que essa versão fez com que Getz e Taylor parecessem importantes por terem “tido a ‘sabedoria’ de reconhecer potencial no meu canto”. O fato é que Astrud já havia se apresentado ao lado de grandes nomes da música, como Nara Leão, Elza Soares, Dori Caymmi, entre outros, bem antes da gravação de “Getz/Gilberto” nos EUA.

Na data de hoje completamos 1 ano sem Astrud Gilberto, que faleceu em sua casa em 5 de junho de 2023, com 83 anos. A série de conquistas de Astrud nos permite reconhece-la como a voz global da Bossa Nova e uma das mais importantes artistas da história da música.