Assédio eleitoral em supermercados: o que o setor ganha com a vitória de Bolsonaro?
Reflexo do aumento no lucro das grandes empresas no governo Bolsonaro, supermercados são alvos de denúncia de assédio eleitoral
Reflexo do aumento no lucro das grandes empresas no governo Bolsonaro, supermercados são alvos de denúncia de assédio eleitoral
Por Mari Vitória Moura
Assédio eleitoral é quando o empregador, ou terceiros ligados a ele, tenta coagir os funcionários, seja no local de trabalho ou não, a expressar a conduta eleitoral desejada. Ou seja, o trabalhador é coagido a votar no candidato que seu patrão apoiar. Muitas vezes, o assédio eleitoral é acompanhado de ameaças, como a perda do emprego, e até mesmo de suborno, como uma determinada quantia em dinheiro.
Além da pressão para que os trabalhadores votem em seus candidatos, os assediadores incentivam outro crime eleitoral. Em muitos casos registrados, é pedido aos funcionários que driblem a fiscalização dos mesários e registrem o voto na urna. Perante à legislação eleitoral, tanto o assédio quanto o registro do voto configuram abuso de poder econômico e, principalmente, é um crime que pode levar à pena de reclusão e multa.
As eleições de 2022 estão sendo marcadas pelo aumento drástico do assédio eleitoral. Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), o número de casos de assédio é 326% maior do que nas eleições de 2018, quando foram registradas 212 denúncias. Nestas eleições, majoritariamente após o segundo turno, já foram registrados 903 casos de assédio eleitoral.
Dentre as regiões brasileiras, o Sudeste é a região com maior número de casos registrados este ano, com 382 denúncias. Em seguida vem a região Sul, com 261, o Nordeste, com 140, Centro-Oeste, com 69, e Norte, com 51. Minas Gerais é o estado com maior número de denúncias.
“O Estado brasileiro está preparado, está funcionando, através de todos os seus órgãos, seja Ministério Público, seja o Poder Judiciário. Então, o importante é a sociedade realmente denunciar”, disse o procurador-geral do Trabalho, José de Lima Ramos Pereira.
Entre as centenas de denúncias registradas nas últimas semanas, muitas delas foram feitas contra grandes redes de supermercados. Em Mato Grosso, por exemplo, na cidade de Nova Olímpia, em uma filial do supermercado Big Master foi registrado em vídeo o momento que uma mulher, vestida com a camisa do Brasil discursava para os funcionários, sobre os riscos decorrentes da possível vitória do ex-presidente Lula (PT) no segundo turno, coagindo os funcionários a votar no atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).
No Paraná, o supermercado Condor, da rede Condor Super Center, com sede em Curitiba, precisou firmar um acordo com o MPT para coibir assédio eleitoral após o MPT-PR receber denúncias de que a empresa estava distribuindo camisetas com apelo político e incentivando seus funcionários a votarem em Bolsonaro. Com o acordo, a empresa está proibida de exigir o uso de vestimentas alusivas ao candidato e de distribuir brindes com cunho político. Caso não cumpra as obrigações acordadas, a empresa compromete-se a pagar multa de 100 mil reais por estabelecimento em que se verificar o descumprimento.
Para além desses casos envolvendo redes de supermercados, existem muitos outros. Basta uma rápida busca no Google para se deparar com uma série de casos envolvendo mercados e atacadistas em assédio eleitoral a favor de Jair Bolsonaro. Favorecendo os seus interesses, os donos desses estabelecimentos querem a vitória de Bolsonaro a todo custo, a ponto de cometerem crime eleitoral. Em muitos casos, os discursos para os funcionários têm o teor de que com a vitória de Lula “a situação no país estaria comprometida”. Mas, comprometida para quem?
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), após uma trajetória de queda na inflação de alimentos, atingindo o menor índice em 2017, o acúmulo da inflação de alimentos para o ano de 2020 foi o maior desde 2002, com um acumulo de 12,14%. Entre janeiro e setembro de 2022 a inflação dos alimentos chegou a 9,54%, a maior para esse período desde 1994, quando foi criado o Plano Real.
Como reflexo, durante o governo Bolsonaro os supermercados tiveram os preços mais altos dos últimos 30 anos. O óleo de cozinha ficou 153% mais caro, o leite teve um aumento de 60% no preço, chegando a custar R$ 10 o litro, a cebola, que antes custava menos de R$ 3, hoje custa mais de R$ 7, com um aumento de mais de 50% no preço, e o quilo da carne ficou 75% mais caro.
Entre 2019 e 2020, os 35 itens mais vendidos nos supermercados brasileiros tiveram um aumento nos preços de 21%. Mesmo assim, enquanto o arroz, feijão, batata e carne desapareciam das mesas dos brasileiros, gerando o cenário atual de insegurança alimentar, onde a fome aumentou 70% e já atinge 33 milhões de brasileiros, os supermercados viveram “anos dourados” em relação ao aumento dos lucros.
Em relação a setembro e novembro de 2020, o comércio demitiu 10% de seus funcionários, o equivalente a 1,9 milhão de pessoas desempregadas. Nesse mesmo período, grandes franquias de supermercados, como o grupo Pão de Açúcar teve lucro de 1,59 bilhão, um aumento de 58,5% em relação ao ano anterior. Já o Carrefour, registrou lucro de R$935 milhões, aumento de 47%.
A defesa dos grandes empresários em relação a Bolsonaro é carregada pelo aumento do lucro que esses patrões obtiveram durante o governo do atual presidente. Enquanto o salário mínimo teve um aumento de R$ 167 entre 2020 e 2022, passando de R$ 1.045 para R$ 1.212, o menor reajuste dos últimos 10 anos, o preço dos alimentos disparou e, com ele, o lucro dos apoiadores de Bolsonaro, que hoje tentam convencer seus funcionários assalariados a lutar contra seus direitos, mas a favor dos lucros do patrão.
Você pode denunciar casos de assédio eleitoral no site do MPT (mp.br/pgt/ouvidoria) e também pelo aplicativo Pardal, disponível no Play Store e no App Store. A denúncia também pode ser direcionada ao Ministério Público Federal (neste link) e nas procuradorias regionais (veja aqui os contatos no estados).