Por Mariana Costa

Nesta quinta-feira (25), comemoramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data simboliza um marco significativo no reconhecimento das contribuições sociais, econômicas e culturais dessas mulheres neste território.

Em 1992, a Organização das Nações Unidas instituiu a data durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana. Desde então, organizações e movimentos de mulheres afrolatinas se mobilizam em torno dela, fortalecendo umas às outras e suas pautas.

As articulações entre as mulheres afrodescendentes da América Latina e do Caribe são fundamentais para recontar a história do povo negro na América Latina, reafirmando sua identidade racial apesar da violência e invisibilidade, como propôs Beatriz Nascimento na coletânea ‘Por uma história do homem negro’ (2023).

Tereza de Banguela é uma das maiores referências da construção e resistência do feminismo negro e latino. Feminismo este que, segundo Djamila Ribeiro “não exclui, amplia”. Conhecida por acolher centenas de pessoas no Quilombo Quariterê sob sua liderança, é uma figura histórica e também homenageada neste 25 de julho no Brasil, instituído em 2014 como Dia Nacional de Tereza de Benguela.

Beatriz Nascimento, mulher negra, acadêmica, poetisa e visionária também marcou o movimento negro no Brasil, na América Latina e no mundo. A historiadora, que via as favelas como espaços similares a quilombos para a resistência e organização das pessoas negras, também é conhecida pelas teorizações inovadoras sobre o Atlântico Negro, reimaginando o conceito a partir de uma perspectiva negra, feminina e latino-americana.

Uma luta histórica que resiste ao apagamento

Apesar do racismo que atravessa séculos no território da América Latina, um em cada quatro latino-americanos se identifica como afrodescendente. São cerca de 133 milhões de pessoas, concentradas no Brasil, Venezuela, Colômbia, Cuba, México e Equador.

O ativismo feminista afrolatino tem se mostrado uma força pungente de resistência. Hoje, o feminismo negro é uma importante ferramenta de combate ao racismo, ao machismo e ao sexismo, além de fomentar a elaboraçãoo de novo cenário politico e social contra a opressão da branquitude. O pensamento feminista negro latino-americano constitui um espaço de intersionalidade e saberes que, a partir da continuidade da luta histórica de figuras como Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Beatriz Nascimento, vem ganhando jovens vozes:

Shirley Campbell Barr

Foto: Michelle Vázquez

Descendente de jamaicanos e natural da Costa Rica, Shirley Campbell Barr trabalhou em programas culturais e sociais em vários países da América Central. É formada em Dramaturgia, Literatura e Criação Literária e antropóloga especializada em feminismo africano. Escreveu livros como ‘Rotundamente Negra y otros poemas’, ‘Naciendo e Desde el principio fue la mezcla’, reconhecidos internacionalmente. Em encontro de escritoras afrodescendentes na Universidade da Costa Rica, a poetisa destacou a necessidade de mulheres afrodescendentes serem capazes de contar a sua visão de mundo, e que é a partir das suas histórias que se estrutura a história do seu povo. ”Temos que recriar nossa história”, discursou Shirley Campbell Barr.

Taitu Heron

Foto: Reprodução/Facebook Taitu Heron

Ativista jamaicana, Taitu Heron é especialista em desenvolvimento de comunidades, defensora dos direitos humanos e poetisa. É formada em Relações Internacionais pela Universidade das Índias Ocidentais e mestre em Estudos de Desenvolvimento pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Ela já atuou em diversas organizações internacionais e locais, como ONU Mulheres e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Yarlenis Ileinis Mestre Malfrán

Nascida em Cuba, a intelectual é psicóloga social, doutora em Ciências Humanas com foco em estudos de gênero pela Universidade de Santa Catarina (UFSC) e pós-doutora em Saúde Única em Periferias Urbanas de São Paulo pela USP. Sua pesquisa abrange feminismos, estudos decoloniais e políticas públicas de saúde, com foco nos estudos trans e as relações entre epistemologias, corpos, políticas e poder nas sociedades latino-americanas.

O feminismo afrolatino, para além da resistência, representa a possibilidade de outros projetos de existência, reestruturação política e social.