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As mulheres dominaram o Grammy 2025 e fizeram história na premiação
Artistas femininas conquistam 12 das 16 indicações nas principais categorias e protagonizam discursos marcantes.
Por Isabella Vilela
O Grammy 2025 foi marcado pela força das mulheres e da comunidade LGBTQ+, que dominaram a noite com prêmios, performances e discursos impactantes. Apesar de representarem apenas 28% dos indicados neste ano, de acordo com o relatório Vozes ausentes de mulheres na música, feito pela consultoria AKAS, as artistas femininas garantiram 12 das 16 indicações nas duas principais categorias: Álbum do Ano e Gravação do Ano. O evento também foi palco de debates sobre diversidade, condições de trabalho na indústria e direitos LGBTQIA+.
Beyoncé
Beyoncé marcou a noite ao se tornar a primeira mulher negra a vencer o prêmio de Melhor Álbum Country e também, após 25 anos de carreira, o tão merecido Álbum do Ano com Cowboy Carter.
No entanto, a vitória gerou debates nas redes sociais, entre eles, sobre a quantidade de compositores envolvidos no disco, que contou com 72 colaboradores.
Acontece que as faixas Blackbird, Jolene e Oh Louisiana, por exemplo, são todas covers. Cada música é um projeto colaborativo com aconselhamento de historiadores. Desde Renaissance, a cantora busca restaurar a memória cultural perdida ao longo dos anos pela comunidade negra nos Estados Unidos e para isso, ela cita cada pessoa que trabalhou em cada música por uma questão de ética.
Chappell Roan
Chappell Roan usou seu discurso de aceitação como Melhor Artista Revelação para fazer um apelo direto às gravadoras: oferecer salários justos e assistência médica adequada aos artistas.
A cantora de 26 anos iniciou sua trajetória musical ainda na adolescência, publicando suas primeiras composições no YouTube sob o nome Kayleigh Rose. Em 2015, assinou contrato com a Atlantic Records, mas foi dispensada pela gravadora em 2020. Três anos depois, Chappell encontrou uma nova casa na Amusement Records, selo independente de Dan Nigro, e lançou seu álbum de estreia, The Rise and Fall of a Midwest Princess, em parceria com a Island Records.
Shakira
Ao receber o prêmio de Melhor Álbum Pop Latino por Las Mujeres Ya No Lloran das mãos de Jennifer Lopez, a cantora colombiana dedicou a vitória a seus filhos e fez um discurso emocionante em apoio aos imigrantes nos Estados Unidos.
“Esse prêmio é para todos os meus irmãos e irmãs imigrantes neste país”, declarou. “Vocês são amados, vocês valem a pena e eu sempre lutarei ao lado de vocês”.
Shakira também aproveitou o momento para prestar homenagem às mulheres trabalhadoras que se dedicam diariamente ao sustento de suas famílias. “Vocês são as verdadeiras lobas”, afirmou, fazendo referência ao hit.
Mais cedo naquela noite, o apresentador do Grammy, Trevor Noah, fez uma piada controversa envolvendo a Colômbia e sua luta contra o crime organizado. Ele declarou que Shakira era “a melhor coisa da Colômbia que não é um crime de Classe A”. Além disso, ao explicar o processo de votação do Grammy, que envolve 13 mil membros da Recording Academy, ironizou dizendo que o grupo também incluía “20 milhões de imigrantes ilegais”.
As piadas soaram especialmente inadequadas diante do cenário político do país. A poucos quilômetros do evento, milhares de manifestantes protestavam contra as políticas agressivas do presidente Donald Trump contra imigrantes sem documentos e sua promessa de deportações em massa. Desde o início de seu mandato, agentes do ICE realizaram operações de alto nível, deportando imigrantes em aviões fretados e espalhando um clima de medo por toda a nação.
No tapete vermelho, antes da cerimônia, Shakira já havia se manifestado sobre a questão, reforçando seu apoio à comunidade latina. “Também sou uma imigrante que veio para esta cidade com um sonho. Sei bem como esses desafios podem ser difíceis, mas também sei o quão forte é o nosso povo”, declarou ao LA Times en Español. “Os latinos são imparáveis, e eu nunca vou parar de lutar por eles e com eles. Juntos, vamos perseverar”.
Lady Gaga
Lady Gaga usou seu discurso de aceitação do Grammy para reafirmar seu apoio aos direitos das pessoas trans ao receber o prêmio de Melhor Performance Pop Duo/Grupo ao lado de Bruno Mars.
A cantora conquistou a estatueta pela canção Die With a Smile, e embora não tenha adotado um tom explicitamente político, suas palavras vieram em um momento crítico, marcado por uma série de ordens executivas de Donald Trump direcionadas à população trans.
Entre as medidas, estão a determinação de que o governo federal reconheceria apenas dois sexos imutáveis e a exigência de que mulheres trans sob custódia federal fossem transferidas para prisões masculinas. Além disso, a administração Trump também atacou a presença de pessoas trans nas forças armadas, alegando em uma ordem executiva que a identidade trans “entra em conflito com o comprometimento de um soldado com um estilo de vida honrado, verdadeiro e disciplinado, mesmo em sua vida pessoal”.
Gaga é uma defensora histórica da comunidade LGBTQIA+. Sua organização sem fins lucrativos, a Born This Way Foundation, incentiva jovens a construir um mundo mais gentil e corajoso, e sua música sempre foi uma plataforma para amplificar as vozes queer e promover inclusão e respeito.
Amy Allen
Amy Allen entrou para a história ao se tornar a primeira mulher a levar o prêmio de Compositora do Ano (Não Clássica), reconhecida por seu trabalho em hits de artistas como Sabrina Carpenter, Olivia Rodrigo e Tate McRae.
Em seu discurso de aceitação, Amy destacou os desafios e conquistas dos compositores na indústria musical, ressaltando sua importância fundamental no processo criativo. Ela dedicou o prêmio a seus colegas de profissão e reforçou a necessidade de maior reconhecimento para a categoria. “Este prêmio também pertence aos meus colegas indicados e a todos os compositores que ainda lutam pelo bom combate”, declarou. “Sem nós, não haveria músicas pelas quais alguém pudesse ganhar prêmios”.
Doechii
Doechii fez história ao se tornar a terceira mulher a conquistar o prêmio de Melhor Álbum de Rap e ao incentivar outras mulheres e meninas negras a desafiar estereótipos em seu discurso de aceitação.
A categoria, que existe há quase 30 anos, teve apenas duas vencedoras antes dela: Lauryn Hill e Cardi B, que entregou o Grammy a Doechii. Esta foi a primeira vez que a rapper foi indicada ao Grammy, acumulando ainda nomeações para Melhor Performance de Rap e Artista Revelação.
Sua ascensão na indústria tem sido meteórica. Em 2023, abriu os shows da turnê Scarlet de Doja Cat, e no ano seguinte lançou seu primeiro projeto completo, a mixtape Alligator Bites Never Heal, que recebeu aclamação da crítica.
Desde então, Doechii consolidou seu nome na cena com um Tiny Desk Concert elogiado e uma colaboração marcante com Issa Rae, que dublou sua voz interior na faixa Denial Is a River. Seu impacto no hip-hop foi reconhecido em dezembro de 2024, quando a Variety a nomeou “Disruptora do Hip-Hop” no prêmio Hitmakers do Ano.
Alicia Keys
Alicia Keys foi homenageada com o Dr. Dre Global Impact Award no Grammy 2025, reconhecimento por sua influência e contribuição à música global. A cantora também celebrou outra conquista na mesma noite: seu musical da Broadway, Hell’s Kitchen, levou o prêmio de Melhor Álbum de Teatro Musical, aumentando seu total de Grammys para impressionantes 17 estatuetas.
Durante seu discurso, a cantora criticou as ordens executivas do presidente Donald Trump que reverteram políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI). “Este não é o momento de silenciar vozes diversas. Vimos neste palco pessoas talentosas e trabalhadoras de diferentes origens e perspectivas, e isso muda o jogo”, declarou.
Ela reforçou a importância da representatividade: “DEI não é uma ameaça. É um presente. Quanto mais vozes tivermos, mais forte será o som. Quando forças destrutivas tentam nos derrubar, nós ressurgimos das cinzas como uma fênix. E, como vocês podem ver esta noite, a música é a linguagem imparável que nos une”.
St. Vincent
St. Vincent deu início à cerimônia ao lado da banda de rock de Los Angeles, Dawes, que liderou um supergrupo de estrelas formado por John Legend, Brittany Howard, Sheryl Crow e Brad Paisley, que juntos, entregaram uma versão repaginada do clássico I Love LA, de Randy Newman.
Além de sua performance, St. Vincent surpreendeu o público ao agradecer, pela primeira vez, a sua esposa e filha em nos discursos de aceitação nas categorias de Melhor Álbum de Música Alternativa, Melhor Performance de Música Alternativa e Melhor Canção de Rock.
Tributo a Quincy Jones
A noite do Grammy 2025 prestou uma homenagem emocionante a Quincy Jones, um dos maiores nomes da música de todos os tempos. Cynthia Erivo, Janelle Monáe, Lainey Wilson e outras estrelas subiram ao palco para celebrar o legado do lendário produtor, compositor e arranjador.
A apresentação foi marcada por performances que revisitaram a influência de Jones em diversos gêneros musicais, desde o jazz até o pop e o R&B, destacando sua contribuição imensurável para a indústria. O tributo trouxe à tona momentos icônicos de sua carreira, relembrando colaborações históricas e seu impacto duradouro na música.
Billie Eilish
Billie Eilish entregou uma performance carregada de emoção em apoio aos esforços de socorro aos incêndios florestais que devastaram Los Angeles nos últimos meses. Durante sua apresentação, diversas estrelas usavam distintivos azuis da MusiCares, simbolizando solidariedade às vítimas e reforçando a necessidade de assistência às comunidades afetadas.
A cantora trouxe uma interpretação intimista do hit Birds of a Feather, que se conectou com o momento difícil vivido pela região.