As Genis do Rio de Janeiro #EleNão
As mulheres são as genis, que mesmo sendo apedrejadas, salvam seu agressores de um futuro terrível indo às ruas em todo o país.
Por Dandarah Filgueira
Você pode nos salvar Você vai nos redimir […] Bendita Geni!
A história contada por Chico Buarque na canção Geni e o Zepelim, de 1978, fala sobre como uma mulher que sempre fora hostilizada por todos na cidade onde vivia, salvou seus conterrâneos e apedrejadores de serem aniquilados e “transformados em geleia” por um homem que resolveu destruir a cidade.
A música foi lembrada pelas mulheres manifestantes, no Rio de Janeiro, contra o candidato do PSL à presidência Jair Bolsonaro, durante a tarde histórica do dia 29 de setembro de 2018, num contexto parecido com o vivido por Geni na canção. O candidato Bolsonaro é conhecido por suas declarações preconceituosas e machistas, e segundo pesquisa Ibope divulgada no dia 26 de setembro é rejeitado por 50% das mulheres, que não votariam nele de jeito nenhum. Assim como Geni, as mulheres são a esperança da salvação.
Como forma de se manifestar contra os posicionamentos e a eleição do candidato autoritário, machista, misógino, preconceituoso e despreparado para governar o Brasil, visto que não tem domínio de questões básicas necessárias para a gestão de um país, mulheres brasileiras e do mundo inteiro se mobilizaram nas redes sociais e fora dela.
A publicitária Ludimilla Teixeira, de 36 anos, conseguiu reunir 3 milhões de mulheres no grupo que criou no Facebook chamado “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro”. As manifestações continuaram nas outras redes sociais através do uso da hashtag #EleNão, aderida por diversas artistas nacionais e internacionais, como Daniela Mercury, Fernanda Lima, Letícia Sabatella, Dira Paes, Iza, Mariana Lima, Dua Lipa, Madonna entre outras. O movimento cresceu exponencialmente nas redes sociais e foi parar nas ruas, com a mobilização de mais de 300 cidades dentro e fora do Brasil que se colocaram contra o fascismo disseminado por Jair Bolsonaro.
MULHERES DO RIO CONTRA BOLSONARO E A FAVOR DA DEMOCRACIA
A professora aposentada Irany Pinto, de 66 anos, participou do protesto junto com a concentração de blocos de carnaval que aconteceu no Rio de Janeiro, na Praça Paris. “Eu acho que a importância dessa mobilização é mostrar a resistência pra não deixar o fascismo e o nazismo tomar conta do país. […] O país tá no fundo do poço mas não tão ruim que não possa piorar mais ainda, então esse é um movimento que começou com as mulheres, e os homens estão agregados nesse movimento em torno da defesa da democracia.”
Para a professora universitária Érica Bastos, de 41 anos, o candidato Bolsonaro representa o retrocesso: “A gente tá vivendo um contexto político de grande retrocessos, principalmente na agenda que diz respeito à luta pelos direitos das mulheres, mas também tem a questão da homofobia, a questão do racismo, e o candidato Bolsonaro representa esse retrocesso. Essa mobilização é essencial e eu acho maravilhoso que as mulheres estejam protagonizando esse movimento”.
Lauriane, de 38 anos, professora e mãe que levou sua filha para protestar a favor da democracia, a mobilização que está acontecendo é importante para fortalecer as mulheres que ainda não acordaram: “Como mulher negra, como mulher periférica, e minha filha tem uma deficiência, então a gente tá na minoria, e a gente entende que quando a mulher fala ela precisa ser ouvida, então esse movimento é que une as mulheres e toda sociedade, vem para não deixar que eles diminuam a voz de quem já está falando.”
Na opinião da artista Mariana Lima, a população não deve mais abaixar a cabeça para forças retrógradas: “Eu acho um movimento importantíssimo, mais do que necessário, talvez atrasado um pouco mais vindo na melhor hora possível, eu acho que qualquer insurreição popular pode e deve ser comandada por essa força e potência revolucionária que nós mulheres temos. É dizer que a gente quer um país com democracia, com igualdade, com participação feminina, gay, racial, de todas as classes”.
A jornalista e mãe, Marcela, de 36 anos, considera o movimento de mulheres fundamental: “É um momento que a gente tem que se unir, a gente tem que ir contra essa onda de fascismo, de ditadura que tá aí tão presente, a gente faz isso por nós, pelas nossas filhas, pelas nossas famílias.”
A marca dos protestos no Rio foi a grande diversidade de pessoas presentes de forma harmoniosa. Velhos, jovens, crianças, negros, brancos, índios, evangélicos, muçulmanos, umbandistas, judeus, homens e as mulheres protagonizando a manifestação, se uniram e gritaram contra as ideias tirânicas disseminadas pelo candidato do PSL.
A muçulmana Cláudia, de 54 anos, considera importante que nesse momento haja sororidade: “Eu acho que o papel que nós mulheres desempenhamos nesse momento é muito importante porque primeiro precisa haver sororidade, independente de religião, de etnia, de qualquer coisa, eu acho que as mulheres tem que caminhar juntas, até porque esse ato é um ato contra o fascismo, contra o que esse candidato está tentando nos impôr. Então eu penso nós devemos estar sempre juntas independente de qualquer coisa.”
O ator Humberto Carrão que também esteve no Rio de Janeiro em apoio ao ato das mulheres, disse que o que está acontecendo é uma negação da história: “A gente tá diante de uma coisa que não parecia que se repetiria desde os anos 30 com a ação integralista, depois os anos 70, acho que o fascismo saiu do armário de vez e incomoda muito essa negação da história, se nega a ditadura, se relativiza a escravidão. É um machista, racista, homofóbico, misógino no poder e a gente tem que estar junto pra não deixar isso acontecer.”
As manifestações contra Bolsonaro no Rio de Janeiro se iniciaram na Cinelândia, e depois se espalharam pelas ruas do centro do Rio, até chegar na Praça XV, onde havia um palco para apresentações culturais de artistas como o Coletivo Projetação, Lanlan e Nanda Costa, o grupo Islã das Minas, Madalenas, entre outros. As apresentações se encerraram por volta das 21h e até o fechamento dessa matéria não havia estimativa de público.