As bandeiras indígenas da Copa do Mundo Feminina
Em quebra de protocolo inédita, Fifa permite que bandeiras dos povos nativos Aborígenes Australianos e Maori sejam hasteadas nas partidas da Copa do Mundo de futebol feminino
Por Aline Braga
No começo de julho, a Fifa anunciou a decisão do presidente da federação, Gianni Infantino, de apoiar o pedido feito pelos governos de Austrália e Nova Zelândia para hastear as bandeiras Aborígene Australiana e das Ilhas do Estreito de Torres em todos os estádios que receberão jogos do torneio no país, assim como a bandeira Maori, também chamada Tino Rangatiratanga, nos estádios neozelandeses.
A decisão a favor da organização do mundial é parte de uma série de iniciativas para promover o reconhecimento das culturas nativas dos países sede. Todas as cidades participantes terão os nomes apresentados em inglês e em Te Reo, a língua Maori, assim como na língua nativa Australiana pré colonização. Ritos característicos serão performados no começo das partidas, antes da entrada dos times, como forma de acolher os torcedores e jogadoras, além das mensagens disponibilizadas nas braçadeiras das capitãs.
Bandeira Maori
Idealizada por mulheres nos anos 80, a bandeira Maori veio da inspiração de outros movimentos de povos indígenas no continente e o símbolo curvo no seu centro significa renovação e esperança pelo futuro. Seu nome na língua nativa é Tino Rangatiratanga e apesar de ser utilizada amplamente em eventos na Nova Zelândia, ainda não tem status de bandeira oficial.
Bandeira Aborígene
Idealizada pelo artista Aborígene Harold Thomas como forma de protesto nos anos 1970, a bandeira metade preta, representando o povo, sob a terra vermelha e com o sol amarelo no centro, já foi utilizada como adereço de orgulho no meio esportivo antes mesmo de ser reconhecida como bandeira oficial em 1995. Até hoje ela carrega enorme significado cultural para o povo australiano. As Matildas, seleção Australiana de futebol feminino, quebrou as regras e posou com a bandeira durante as Olimpíadas de Tóquio em 2021.
Bandeira das Ilhas do Estreito de Torres
As ilhas ao norte da Austrália são mais próximas culturalmente da Nova Guiné, Melanésia e Indonésia. A bandeira criada por Bernard Namok em 1992 ilustra com suas linhas o povo, as terras e o oceano como plano de fundo para um cocar e estrela brancos.
A representatividade na cerimônia de abertura
A cerimônia de abertura da Copa do Mundo Feminina foi realizada, como de praxe, antes da primeira partida do torneio. O palco foi o estádio Eden Park em Auckland, Nova Zelândia, e o público pôde apreciar os mais de 240 artistas envolvidos durante aproximadamente 10 minutos de show. O evento formalizou não apenas o começo da competição, mas também o compromisso dos organizadores com a representatividade indígena, tão valorizada pelos países sede.
O primeiro ato da apresentação exalta as belezas naturais e paisagens dos países sede, a ilha neozelandesa assume a forma mística de uma arraia gigante, pescada pelo semideus Maui, enquanto a Austrália foi representada pelas lendas populares da serpente arco-íris que teria formado a ilha, fertilizando o chão em seu caminho.
Após este momento começam as coreografias tradicionais dos povos nativos, acompanhadas por canções Maori interpretadas por Monique Maihi-Pihema, descendente da tribo Ngāti Whātua Ōrākei, a qual tem direitos históricos sobre as terras onde foi construído o Eden Park.
As duas nações se unem em um gesto de aproximação no centro do campo, enquanto meninas vestindo camisetas das demais participantes do torneio entram no palco. Enfim, a bola oficial é apresentada e aceita pelas federações participantes em mais um ato de coreografia.
A cerimônia é encerrada com a apresentação da canção oficial ‘Do it Again’ interpretada pelas cantoras BENEE e Mallrat.
Apesar de não contar com elementos de grandes produções, no geral, a abertura foi uma ótima representação das origens culturais dos países sede, empoderamento feminino por meio do futebol e união entre os países participantes.