A destruição do Teatro Ventoforte e da Escola de Capoeira Angola Cruzeiro do Sul pela Prefeitura de São Paulo, no último dia 13 de fevereiro, gerou uma onda de indignação entre artistas e agentes culturais. Figuras como Marisa Orth, Letícia Spiller, Teresa Seiblitz, Chico César, Pascoal da Conceição, Marcello Airoldi, manifestaram publicamente seu repúdio ao episódio, classificando a ação como um ataque direto à cultura.

A atriz Marisa Orth, que teve sua formação ligada ao Ventoforte sob a orientação de Ilo Krugli, destacou a gravidade da ação. “Venho aqui manifestar o meu repúdio. Não sei se isso se chama desapropriação, se chama destruição, né? Tudo foi destruído, o que tinha dentro, um cenário de guerra. Então é guerra, é guerra declarada do poder público da cidade de São Paulo contra a cultura, a arte, a educação. Até quando?”, questionou.

A atriz Tereza Seiblitz também expressou sua revolta e lamentou a destruição de um espaço histórico e de resistência. “Foi uma situação arbitrária, louca, absurda, de entrarem com máquinas destruindo dois lugares tão importantes. O Ilo Krugli foi uma grande figura do teatro no Brasil, e esse grupo é parte da nossa história. O que aconteceu foi uma violência, um ataque à cultura. Mas a gente segue junto, porque a cultura floresce, mesmo nas brechas do cimento, e vai voltar”, afirmou.

Foto: Reprodução / Instagram @chicogitahy

Já o cantor e compositor Chico César ressaltou que a luta cultural se dá no campo simbólico e que o ataque ao Ventoforte faz parte de uma política de destruição da cultura e do pensamento crítico. “O Teatro Ventoforte sempre agregou, sempre juntou pessoas. Foi um dos primeiros espaços onde me apresentei em São Paulo. Nossa obra não é de cal e pedra, ela é energia, está no campo simbólico, e é assim que vamos combater esse fascismo, que odeia ciência, cultura e gente”, declarou.

A atriz Letícia Spiller também se manifestou em vídeo. “Esse teatro é referência pra tantos artistas, cuidado pelo nosso mestre Ilo Krugli. É triste ver que nossos governantes não se atentam pra memória e preservação de um patrimônio como esse. Espero que nossa manifestação possa trazer mais consciência e que a gente eleja pessoas que possam cuidar desse tesouro que é nosso”, disse.

O que aconteceu

Em 13 de fevereiro de 2025, a Prefeitura de São Paulo destruiu com tratores o icônico espaço do Teatro Ventoforte, que também abrigava a Escola de Capoeira Angola Cruzeiro do Sul. O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) informou que a prefeitura demoliu sem a autorização prévia.

O Parque do Povo, na zona oeste da cidade, onde o teatro é localizado, foi tombado em 1995 com o objetivo de garantir a preservação da base material para a realização de atividades culturais e de lazer. De acordo com a resolução de tombamento, qualquer modificação no espaço precisa de autorização prévia do Condephaat. Além disso, o espaço onde estavam o Teatro Ventoforte e a Escola de Capoeira também foi reconhecido como patrimônio cultural pela Secretaria Municipal de Cultura em 2016, na gestão de Fernando Haddad.

Uma liminar de demolição do Teatro Ventoforte foi emitida em 2023, mas a comunidade de artistas só tomou conhecimento após a demolição. Ainda assim, o Condephaat afirma, em nota, que “intervenções em imóveis tombados necessitam de deliberação, autorização e disponibilização dos documentos necessários para posterior execução pelo autor do pedido”.

Foto: Arquivo Teatro Ventoforte

A polêmica em torno da demolição mobilizou diversas esferas da sociedade e do poder público. Na última terça-feira (18), em audiência solicitada pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), o Ministério da Cultura (MinC) discutiu o caso e afirmou que estudará a reconstrução dos espaços destruídos.

Em nota, a comunidade de artistas que integram o Teatro Ventoforte também responsabiliza a atual administração da sede, que veio degradando e descaracterizando o espaço com a exploração de atividades comerciais em serviço próprio.

“Estamos falando, com inegável e reconhecida autoridade, em nome do grande criador Ilo Krugli, que dedicou toda a sua existência, não só à construção e formação de uma nova identidade revolucionária para o teatro dirigido à infância e juventude, mas também à dramaturgia como um todo”, escreveu o grupo.