Armados, fazendeiros invadem comunidade indígena Pataxó e matam liderança na Bahia
Maria de Fátima Pataxó, conhecida como Nega Pataxó, foi assassinada a tiros, e seu irmão, o cacique Nailton Muniz Pataxó, sofreu tentativa de homicídio
Maria de Fátima Pataxó, conhecida como Nega Pataxó, foi assassinada a tiros, e seu irmão, o cacique Nailton Muniz Pataxó, sofreu tentativa de homicídio. Os assassinos fazem parte do movimento “Invasão Zero”, que age com milícia contra a retomada do território Caramuru – Pataxó Hãhãhãe, em Potiraguá, no extremo sul da Bahia, neste domingo (22). Há forte suspeita de participação de policiais na proteção dos fazendeiros, de acordo com a Articulação dos Povos Indígenas (Apib).
Além das vítimas fatais, duas pessoas foram brutalmente espancadas, uma mulher teve o braço quebrado e outras foram hospitalizadas. Os policiais escoltaram os fazendeiros até a comunidade, forçaram uma “intermediação”, mesmo sem ordem judicial de reintegração de posse. Após o assassinato, o filho de um fazendeiro e um policial militar da reserva foram foram detidos por porte ilegal de arma, homicídio e tentativa de homicídio.
A situação escalou ainda mais quando vídeos compartilhados nas redes sociais mostraram um dos feridos caído no chão, cercado por ruralistas celebrando a ação violenta.
“A região enfrenta os desmandos de fazendeiros invasores que se dizem proprietários das terras tradicionais e acusam o povo de ser ‘falso índio’. A aprovação do marco temporal acentua a intransigência dos invasores, que se sentem autorizados a praticar todo tipo de violência contra as pessoas”, critica a Apib em nota.
A organização indígena exige o acompanhamento das autoridades e a imediata apuração do caso. “Reiteramos que a demarcação das terras indígenas é o único caminho para amenizar a escalada de violência que atinge os povos da região sul da Bahia”, destacou a Apib.
O governador Jerônimo Rodrigues convocou, no início da noite deste domingo (21), uma reunião extraordinária com parte do secretariado e comandantes de forças de segurança para monitorar os conflitos de terras no interior da Bahia. Além disso, o gestor estadual fez um alinhamento de atuação dos órgãos estaduais envolvidos.
Durante o encontro, Jerônimo se solidarizou com a morte da indígena Maria de Fátima Muniz de Andrade. “Meus sentimentos e solidariedade à família e a toda comunidade indígena da Bahia e do Brasil. É inaceitável qualquer tipo de violência, contra qualquer comunidade. E quero afirmar o rigor na apuração e na punição dos culpados”, declarou o governador, que esteve em contato com o presidente Lula e ministros do governo federal durante todo o dia.