Argentina para mais uma vez contra Milei e sua política de ajuste
As centrais sindicais e os movimentos sociais realizaram a segunda greve nacional desde que o presidente de extrema-direita chegou ao poder, em dezembro de 2023. As reivindicações: parar a reforma trabalhista e reverter o plano econômico
Por Majo Giovo / Emergentes
Ontem (09) as ruas da Argentina acordaram em silêncio. Os turistas caminharam surpresos ao ver como o Obelisco se projetava com o sol à sua frente no meio de uma 9 de Julio completamente vazia. As estações de trem e metrô também ficaram completamente sozinhas e no centro da cidade não se ouvia o barulho dos vendedores ambulantes nem se viam filas nas casas de câmbio. Os cafés típicos de Buenos Aires estavam semiabertos à espera de alguns visitantes, mas o ritmo do dia foi como um postal de domingo.
Estas imagens repetiram-se em diferentes pontos do país no âmbito da segunda greve nacional que as confederações sindicais e os movimentos sociais levaram a cabo contra o governo de Javier Milei.
A resposta do governo: uma foto de Milei vestindo uma camiseta que dizia “Eu não paro”.
A política adotada pela administração liberal está em consonância com a constante criminalização do protesto, tendo os movimentos e organizações sociais como principais inimigos. Porém, a rua falou mais uma vez. Apesar das manobras do líder do Libertad Avanza e da sua equipe para minimizar as enormes mobilizações que têm sido realizadas desde que assumiu o poder, esta segunda greve nacional é uma resposta contundente à rejeição do seu plano de governo, tendo em vista uma reforma trabalhista e o corte contínuo do Estado.
“As tentativas do Governo de incutir medo não tiveram sucesso. Exceto aqueles que garantem guardas mínimas em serviços essenciais, nenhum Estado pôs mãos à obra. A adesão à medida é quase total em todo o país”, afirmou Rodolfo Aguiar, secretário-geral da Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE). Segundo o sindicato, a greve teve 97% de apoio. Andrés Rodríguez, dirigente do Sindicato do Pessoal Civil da Nação (UPCN) e também secretário-adjunto da Confederação Geral do Trabalho (CGT), concordou: “É uma greve generalizada. Os edifícios públicos estão vazios, os trabalhadores não foram para o trabalho”. Aguiar destacou os motivos da medida: “Nós, trabalhadores do Estado, não paramos para praticar esporte, entramos em greve impulsionada pelo Governo. A redução dos salários reais e as demissões são apenas algumas das causas”.
Dias chaves na agenda política argentina
Esta greve nacional é um teste para o Governo face ao que irá acontecer no Senado Nacional nos próximos dias. Lá, se debate a Lei de Bases, o pacote de reforma tributária promovido por Milei e que inclui, entre vários retrocessos, uma reforma trabalhista, o reajuste das aposentadorias e a venda de empresas públicas. Em meio a uma emergência social total com quase 60% de pobres, os sindicatos e movimentos apoiam um plano de resistência para convidar o projeto libertário a ser aprovado no Senado.
Nas últimas horas, está sendo avaliada a possibilidade de a Lei de Bases retornar aos deputados já que não há votos suficientes para conseguir aprovar a votação. No entanto, a sua aprovação é uma questão em aberto que pode mudar o rumo da política social e econômica da Argentina para os próximos anos.