Diante do retorno do negacionismo de Estado do governo de Javier Milei, da repressão à mobilização popular e do neoliberalismo, o movimento de Direitos Humanos argentino prepara sua resposta para esta segunda-feira, 24 de março: a unidade das organizações. Espera-se que seja a maior mobilização desde o retorno da democracia neste 49º aniversário do golpe cívico-militar.

Pela primeira vez em 19 anos, tanto a marcha até a Plaza de Mayo quanto o ato em frente à Casa Rosada serão unificados e reunirão as organizações históricas, como as Avós da Praça de Maio, Mães da Linha Fundadora, HIJOS, além daquelas que integram o Encontro Memória, Verdade e Justiça, como a Associação de Ex-Detenidos Desaparecidos, entre outras.

No palco, para ler o documento consensuado entre os diferentes grupos, estarão figuras destacadas da luta pelos direitos humanos: Estela de Carlotto, presidente das Avós, Taty Almeida e Elia Espen, das Mães da Linha Fundadora, e o Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel.

“Nesta segunda-feira, 24 de março, aos 49 anos do golpe genocida, marchamos em unidade. Ato na Plaza de Mayo às 16:30. São 30.000. Foi genocídio”, diz o documento divulgado pelas organizações esta semana.

Para acompanhar os organismos, espera-se uma presença maciça de organizações sociais, políticas e estudantis. As centrais sindicais também convocaram, que pelo segundo ano consecutivo participa da mobilização de forma institucional e o fará como um prelúdio da greve geral convocada para 10 de abril.

Desde 2006 não se conseguia uma mobilização que reunisse todas as organizações. Em 2007 foi o primeiro ano em que ocorreram marchas separadas pelo aniversário do golpe: de um lado, os organismos históricos, com simpatia e proximidade ao governo de Néstor Kirchner, e do outro, o EMVyJ (Encontro Memória, Verdade e Justiça), acompanhado por partidos e sindicatos de esquerda, que defendiam a necessidade de manter distância e independência do Poder Executivo.

Os acordos entre as partes começaram ainda no governo de Mauricio Macri, quando houve uma mudança radical na política de direitos humanos. O ataque aos organismos, acusando-os de terem o “negócio dos Direitos Humanos”, e a tentativa de reduzir as sentenças dos repressores com a lei do 2×1 (posteriormente rejeitada após uma grande marcha), aumentaram a necessidade de unificar as reivindicações. No ano passado, após os primeiros meses do governo libertário do Milei, essa unidade quase foi alcançada. Neste ano, a necesidade de marchar juntos foi mais forte.

“E este ano, finalmente, conseguimos. Foi um diálogo entre diferentes delegados de organismos de Direitos Humanos que começou em janeiro, com debates plenários de cada lado, até que finalmente chegamos à decisão da marcha conjunta”, explicou.

Como todos os anos, simultaneamente à marcha da cidade de Buenos Aires, também serão realizados atos, mobilizações e homenagens nas principais cidades do país para reivindicar a política de Memória, Verdade e Justiça, rejeitar o terrorismo de Estado – em um contexto muito hostil para sair às ruas, mas no qual, apesar disso, prevalece a decisão de defender a vigência do Estado de direito.