Milhares de argentinos protestaram neste sábado (1) em repúdio ao discurso do presidente Javier Milei em Davos, onde ele insultou a população LGBTQIA+ ao associá-la à pedofilia, questionou a política de gênero e afirmou que o feminismo busca “privilégios” que minam a igualdade perante a lei.

Sob o lema “Marcha Federal do Orgulho Antifascista e Antirracista”, organizações LGBTQIA+, feministas, de direitos humanos e estudantis, movimentos sociais, sindicatos e políticos opositores foram às ruas em todo o país e em outras cidades do exterior para dizer “basta” e impedir o retrocesso nas políticas de gênero e inclusão.

Milei disse em janeiro, no Fórum Econômico Mundial de Davos, que “em suas versões mais extremas, a ideologia de gênero constitui, pura e simplesmente, abuso infantil. São pedófilos, portanto, quero saber quem avaliza esses comportamentos”, após citar o caso de um casal de homossexuais norte-americanos que abusaram de seus filhos adotivos.

Em Davos, também afirmou que o “vírus mental da ideologia ‘woke’ (em referência às políticas progressistas) é a grande epidemia da nossa época que deve ser curada, é o câncer que precisa ser extirpado”, criticando “o feminismo, a diversidade, a inclusão, o aborto, o ecologismo e a ideologia de gênero”.

Foto: Luciano Dico

Com cartazes que diziam “não voltamos mais para o armário” e “os direitos conquistados não se tocam, nem um passo atrás”, os manifestantes seguiram do Congresso até a Casa de Governo em Buenos Aires, mas também houve protestos em outras províncias do país e em cidades como Londres, Madri, Lisboa, Barcelona, Paris e Montevidéu.

“Não podemos permitir que a diversidade deixe de ser parte, e é gravíssimo que a investidura presidencial se expresse nesses termos. Como cidadã, como professora, como mãe, digo ‘não’ e estou aqui apoiando essa convocação”, disse à Reuters Televisão Cintia Vignot, professora de 42 anos.

A manifestação ocorre uma semana depois de o governo anunciar que impulsionará um projeto de lei chamado “igualdade perante a lei”, que inclui a revogação do feminicídio como agravante penal, além do fim do documento de identidade não binário e da cota de trabalho para pessoas trans, entre outras iniciativas.

Nos últimos anos, a Argentina implementou medidas como a inclusão da violência de gênero como agravante em casos de homicídio, a aprovação da lei de casamento igualitário, a lei de identidade de gênero e a lei do aborto.

Organizações LGBTIQ+, feministas, de direitos humanos e estudantis, movimentos sociais, sindicatos e políticos opositores foram às ruas em todo o país e em outras cidades do exterior para dizer "basta" e impedir o retrocesso nas políticas de gênero e inclusão.

Os manifestantes exigem, entre outras coisas, a intervenção da Justiça, do Congresso e de todas as instituições do Estado, argumentando que as declarações do presidente violam a lei e os direitos humanos.

“É um governo que quer avançar com uma agenda que é mundial, uma agenda de direita que está tentando se fortalecer em todo o mundo. Então, acredito que seja provocador no discurso de propósito, mas também tem um impacto completamente nefasto nas medidas que estão sendo tomadas”, disse à Reuters Televisão Canela Castro, antropóloga de 37 anos.