Aquisição do carro, campana e execução: o que foi narrado por Élcio de Queiroz na delação
Élcio de Queiroz revelou detalhes do plano de execução de Marielle Franco em sua delação à Polícia Federal, envolvendo Ronnie Lessa, carro clonado, origem da arma, execução do crime e fuga.
Por Pedro Madeira
Em delação obtida pelo Mídia NINJA, Élcio de Queiroz relata à Polícia Federal em junho deste ano o plano de execução da vereadora Marielle Franco. Desde a aquisição do carro usado no crime, até o dia do assassinato, o ex-PM detalha a origem da arma utilizada, a participação do ex-bombeiro preso nesta segunda e a dinâmica dos fatos ocorridos no dia.
Élcio de Queiroz fez a colaboração premiada no último dia 14 de junho ao delegado da Polícia Federal, Guilhermo Catramby. Sob a presença de sua advogada de defesa, Élcio de Queiroz alegou ter entrado no plano por meio de Ronnie Lessa (o executor), durante a “situação relacionada ao carro”.
Aquisição do Carro
No depoimento, Élcio de Queiroz afirma ter se dado conta que Lessa procurava, em agosto de 2017, arranjar um veículo clonado para um “trabalho”. Queiroz disse que tomou conhecimento das intenções de Lessa quando foi até à casa do executor e viu uma bateria desmontada na varanda.
“Nessa ocasião eu pedi emprestada a bateria do veículo pra retornar pra casa […] Alguns dias depois ele cobrou essa bateria, e eu tive que devolvê-la”, afirma na delação.
Neste momento, segundo Queiroz, Ronnie Lessa deu indícios de estar planejando o crime. Queiroz afirma que a bateria pertencia a um carro de “procedência duvidosa”, que ficava estacionado entre os bairros da Barra da Tijuca e Rocha Miranda, região na Zona Leste do Rio dominada pela milícia.
Entretanto, este carro foi rebocado pela Polícia Militar antes de ser utilizado para o crime planejado. “Depois disso, fiquei sabendo de um outro veículo, que foi, no caso, o que ele iria usar essa bateria”.
De acordo com Queiroz, o “outro veículo” seria justamente o Cobalt Prata usado no crime. Na primeira vez em que viu o carro, ele diz, estavam Ronnie Lessa e Maxwell Simões, o “Suel”, cujo papel no plano foi o de realizar a logística ligada aos veículos.
Vivendas da Barra, intermediário de Ronnie Lessa com mandante e origem da arma utilizada no crime
Após a aquisição do Cobalt Prata, a cronologia relatada por Queiroz salta para o ano novo daquele ano de 2019, no Condomínio Vivendas da Barra, localizado na Barra da Tijuca. O ex-PM passou a virada com a família de Ronnie Lessa, que, alcolizado, teria feito um “desabafo” após primeira tentativa de executar a vereadora Marielle Franco.
“O Ronnie achou que houve um refugo, o carro deu um problema. Pediu pra emparelhar, era um táxi; essa pessoa, essa mulher estaria num táxi e tinha uma oportunidade, só que na hora que ele mandou emparelhar, o carro deu um problema”, afirma Queiroz na delação. Essa teria sido a primeira tentativa de assassinato de Marielle.
Queiroz diz que, nesta tentativa de execução, “Suel” dirigia o carro, enquanto Lessa, no banco do carona, e Macalé, no banco de trás, portavam metralhadoras MP5 e AK47. O depoente também relatou que Ronnie disse estar neste “trabalho” junto ao “Suel” e o “Macalé” – policial militar assassinado em 2021.
De acordo com o ex-PM, o trabalho de campana chegou até Ronnie Lessa através de Macalé. O intermediário do crime, ele afirma, esteve em todas as campanas.
No depoimento, Queiroz afirma que a arma do crime foi extraviada após um incêndio no paiol de armas do Batalhão de Operações Especiais (o Bope). Ele não precisou a data do incêndio nem quem teria vendido a metralhadora MP5 para Ronnie Lessa.
Troca de mensagens no dia 14 de março, data do crime
Em 14 de março, por volta de 12h, Ronnie Lessa procurou Élcio por meio do aplicativo de mensagens CONFIDE, o perguntando quando ele iria sair do trabalho. À época, Queiroz fazia trabalhos com escolta e acompanhamento de caminhões com mercadorias de empresas do comércio.
Após ser procurado, Queiroz também recebeu de Lessa uma imagem de várias mulheres reunidas, e afirma ter notado posteriormente que era o evento da Casa das Pretas, onde Marielle estava. Às 14h, Queiroz foi dispensado do trabalho e alega ter ido para casa assistir ao jogo do Flamengo, a espera de novo contato de Lessa que chegou por mensagem por volta das 16h.
Após receber a mensagem, Élcio foi em direção ao condomínio de Lessa, onde chegou às 17h.
“Quando eu cheguei no condomínio dele eu anunciei a chegada. Tem algumas pessoas que até tem liberdade de entrar no condomínio dele, mas eu não era essa pessoa”, o condomínio citado é o Vivendas da Barra, onde o ex-presidente Bolsonaro tinha uma casa. Queiroz afirma ter notado que Lessa portava uma bolsa de viagem, onde estava a arma.
Perseguição e disparos contra vereadora Marielle Franco
Às 19h, os dois entram no Cobalt e se dirigem até às imediações da Casa das Pretas, situada no Centro do Rio, a 25Km do Condomínio Vivendas da Barra. O delator afirma ter esperado por um longo período até Anderson Gomes e Marielle saírem do evento, às 21h.
Na sequência, Lessa e Queiroz seguiram o carro de Marielle e Anderson por pelo menos 30 minutos até emparelhar o Cobalt ao carro onde estavam as vítimas, para efetuar os disparos. O assassinato ocorreu às 21h30, no bairro do Estácio, Zona Norte do Rio.
“Queiroz delata que os dois fugiram para a casada “mãe” de Ronnie Lessa, no bairro do Méier. Em seguida, embarcaram em um taxi de volta para a Barra da Tijuca. De acordo com os investigadores, o irmão de Lessa foi quem solicitou o taxi, por volta das 21h48 da noite.