‘Aqui não é o quintal de Bolsonaro’, afirma líder Ashaninka
Para o líder Ashaninka, Bolsonaro só não conseguiu realizar seus intentos de extinguir direitos ambientais e indígenas por conta das barreiras legais.
Por Fábio Pontes
A liderança indígena acreana Francisco Piyãko, do povo Ashaninka, rebateu as declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), que na noite da última quinta-feira, 6, voltou a criticar a questão ambiental, afirmando que as unidades de conservação (UCs) e as terras indígenas (TIs) seriam um entrave para o desenvolvimento econômico do país.
Bolsonaro reclamou que, por decreto, não consegue revogar a criação de unidades de conservação feitas em governos passados, dizendo que no Brasil há um excesso de parques, reservas e terras indígenas.
“O Brasil todo com essas reservas enormes, terras indígenas, quilombolas, área de proteção ambiental, parques nacionais, parques estaduais. É um absurdo isso aí”, afirmou ele
O presidente citou estados do Norte, incluindo o Acre, como exemplos daqueles que enfrentam atraso em seu desenvolvimento econômico por conta da grande quantidade de áreas protegidas.
“Nós temos que fazer o casamento de meio ambiente e progresso. Roraima está um estado quase inviabilizado, Rondônia tem esse problema, Acre tem esse problema, Amapá.”
“Se for o desenvolvimento que ele quer, pelo o que a gente está vendo, ele não vai ter facilidade nenhuma. Nós estamos numa posição e numa postura de povo brasileiro. Nós não estamos no quintal de um presidente ou de um ministro”, rebate Francisco Piyãko.
Para a liderança indígena, a Amazônia nunca foi um entrave para o desenvolvimento do país.
“Ela só precisa ser compreendida com os valores que ela tem, com a importância que ela tem. A Amazônia precisa ser olhada com outro olhar”, defende.
De acordo com ele, a floresta será, sim, um problema se na visão do governo ela deve se destruída para, no lugar, se colocar a soja ou o boi. Para Piyãko, ao fazer este tipo de declaração, Bolsonaro atua à margem da lei, querendo destruir marcos legais que consolidaram as unidades de conservação e as terras indígenas, algumas delas asseguradas pela Constituição.
“Como presidente da República ele não pode colocar o seu ódio, o seu preconceito no exercício da função pública em que está.”
“Acabar com a Amazônia não vai resolver os problemas do Brasil. A Amazônia é uma oportunidade que o Brasil tem de ser visto como um país diferente. A Amazônia precisa ser traduzida em valores”, explica Piyãko.
Para o líder Ashaninka, Bolsonaro só não conseguiu realizar seus intentos de extinguir direitos ambientais e indígenas por conta das barreiras legais. Qualquer alteração neste sentido precisa ter o aval do Congresso Nacional. Eventuais mudanças também podem ser anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Eu não acredito que ele vai mudar de opinião. Agora, fazer o que está dizendo, que vai acabar, que vai diminuir [UCs e TIs], ele vai fazer a gente [povos indígenas] gastar muita energia, mas fazer ele não vai fazer porque vamos resistir”, afirma Piyãko.