“Após morte de ente querido, comunidade é queimada e moradores partem para novo local”, esclarece Condisi-YY
Algum tipo de incidente fez com que a comunidade deixasse o local. O paradeiro moradores é desconhecido
Como anunciado, o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana, Júnior Hekurari Yanomami emitiu uma nota nesta sexta-feira (29), comentando sobre a viagem em que acompanhou grupo formado por agentes da Polícia Federal, MPF, FUNAI e SESAI até à comunidade Aracaçá, na região de Waikás.
As diligências foram realizadas em razão de um pedido de Júnior Hekurari – com base em denúncia que recebeu -, sobre a morte de uma menina Yanomami de 12 anos, estuprada e morta por garimpeiros. Os mesmos relatos informavam que uma criança de 3 anos estava em sua companhia e teria caído no rio. Fora suposto que ela tivesse morrido por afogamento.
Ao chegarem lá, constataram que não havia mais ninguém na comunidade.
Mesmo o grupo tendo encontrado indígenas, que se aproximaram do local, não foi possível confirmar a informação da morte da menina. Júnior foi até lá com intuito de buscar o corpo e levá-lo para autópsia em Boa Vista (RR). Júnior disse em entrevista à Mídia Ninja que eles poderiam ter sido orientados por garimpeiros para não falarem nada.
Buscando apoio de lideranças indígenas nesta sexta-feira (29), para tentar entender o que pode ter acontecido à comunidade, Júnior informou na nota que eles se reuniram e analisaram as imagens da comunidade queimada.
As lideranças indígenas relataram que de acordo com costumes e tradições, após a morte de um ente querido a comunidade onde residem é queimada e todos partem para um novo local. “Também analisaram a possível marca onde o corpo foi cremado e constatou-se que ocorreu um óbito, porém, os indígenas da região [que foram questionados pela PF] se mantiveram em silêncio por receio de que sofressem qualquer tipo de ataque dos invasores”.
Na nota Júnior diz ainda: “sabemos que isso não é um fato isolado dentro da Terra Indígena Yanomami e como foi relatado através do Relatório Yanomami Sob Ataque, foram realizadas investigações e constatou-se que jovens são aliciados pelos invasores e que por diversas vezes as mulheres são abusadas sexualmente”.
Ou seja, mesmo que a equipe de diligência não tenha encontrado o corpo da menina ou mesmo quaisquer outros moradores da comunidade, não exclui a possibilidade de que o crime tenha ocorrido. Por isso, a PF disse que seguirá com as investigações e o MPF, reforçou a necessidade de realização de sondagens mais refinadas.
De qualquer forma, algum tipo de incidente fez com que a comunidade deixasse o local. O paradeiro dos moradores – estima-se que 24 pessoas – é desconhecido.
Ainda segundo a nota, “a Hutukara Associação Yanomami (HAY) manifestou-se a respeito da situação e têm auxiliado nas investigações das informações prestadas pelos Yanomami. Como relatado pela associação, foi na Comunidade Aracaçá que um estudo conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicou a presença de altos níveis de mercúrio de garimpo nos habitantes da região”.
E reforçou que trata-se de “mais um triste resultado da presença do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, que segue invadida por mais de 20 mil garimpeiros. Até setembro de 2021, a área de floresta destruída pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami superou a marca de 3 mil hectares – um aumento de 44% em relação a dezembro de 2020. O aumento das atividades dos invasores tem refletido de forma negativa no modo de viver dos Povos da Floresta, qual traz como consequência o aumento da criminalidade dentro do Território, doenças e mortes. Por fim, esclarecemos que continuaremos a investigar e cobrar que os órgãos competentes atuem para retirada imediata dos criminosos que estão no Território Indígena Yanomami”, diz trecho final da nota de esclarecimento.
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