Após morte de bebê, comunidade denuncia racismo obstétrico em maternidade de Aparecida de Goiânia
Ayah Akili, jovem negra, teve seu bebê morto com 33 semanas de gestação na Maternidade Marlene Teixeira
Uma jovem negra de 24 anos, Ayah Akili, denuncia violência e racismo obstétrico após perder a sua bebê com 33 semanas de gestação na Maternidade Marlene Teixeira, em Aparecida de Goiânia (GO). O caso, que aconteceu em outubro de 2021, revela a face perversa da relação entre o racismo institucional e a violência obstétrica, que afeta milhares de mulheres e crianças no Brasil.
Em fevereiro de 2022, o episódio ganhou repercussão local quando Ayah expôs nas redes situações de descaso, racismo e violência que teria sofrido na maternidade. Ela afirmou que seu acompanhamento foi marcado, desde o pré-natal, por bastante negligência. Exames básicos de gravidez, como de curva glicêmica e pré-eclampse nunca foram solicitados.
No oitavo mês da gestação, durante um exame de ultrassom, o médico então confirmou que não ouvia os batimentos da criança. Em vez de amparo, Ayah disse que foi tratada com ainda mais descaso, inclusive na indução do parto para retirado do corpo. Os profissionais da saúde teriam gritado contra ela durante o processo, e pedido para se levantar sozinha após o procedimento.
Os relatos de Ayah não são os únicos. Outras mulheres têm apontado situações de violência na mesma maternidade e casos absurdos já foram divulgados nos noticiários. No último dia 19/03, a comunidade local realizou o ato “Justiça por Assata” em memória à filha de Ayah.
Preparação do ato foi marcada por violência
No dia anterior, o movimento promoveu junto ao Coletivo de Hip Hop Kaique Sabotinha, uma oficina de cartazes na Galeria de Arte Urbana da Rua do Lazer, em Goiânia (GO). No final da atividade, houve pixos escritos “justiça por Assata” e um grafite do pezinho característico da bebê – a única recordação que os familiares de Assata possuem. Na ocasião, imagens e relatos enviados à NINJA atestam que Ayah foi perseguida por homens armados, sem identificação ou fardas, que tentaram pegar seu celular a todo custo.
O episódio foi marcado por uma movimentação exagerada de viaturas sem placas, guardas municipais civis com armamento de calibre 12, bombas, gás lacrimogênio e balas de borracha. “Um verdadeiro cenário de guerra que estavam encomendados a buscar Ayah”, conforme o relato.