Apesar das adaptações, a Vila dos Atletas não é totalmente inclusiva
Mesmo que a construção pensada para ambas as competições não atende às necessidades de todos os atletas.
Por Laura Dozza Reis, para Cobertura Colaborativa #NECParis2024
A Vila dos Atletas, agora adaptada para os Jogos Paralímpicos, passou por transformações para acolher 4.400 paratletas de 168 países. Segundo o site Olympics, durante o projeto de construção da Vila Olímpica e Paralímpica, vários elementos já foram projetados para acomodar ambos os eventos, o que teria facilitado as adaptações necessárias para os Jogos Paralímpicos.
Contudo, nem todos os atletas podem apoiar tal informação. Os competidores nas Paralimpíadas tem diferentes necessidades, alguns precisam de rampas, outros de finalizações em braile, ainda há aqueles que demandam adaptações mais específicas, como o caso do atleta da seleção de vôlei sentado do Irã,Morteza Mehrzad, o segundo homem mais alto do mundo, com 2,46cm de altura.
O líder da seleção iraniana, busca o seu terceiro ouro paralímpico, porém, além das equipes e jogadores adversários, ele enfrenta outro desafio. Por conta da sua altura, o atleta precisa de uma cama bem maior do que as comuns, o que não foi disponibilizado em Paris 2024, por isso Morteza precisou dormir no chão na Vila Paralímpica. Diferente do que aconteceu em Tóquio 2020, por exemplo, onde teve à sua disposição uma cama adaptada.
Segundo a CNN internacional, após a divulgação das notícias sobre as dificuldades de Mehrzad, os organizadores da Paralimpíada informaram por nota que a questão foi resolvida, uma vez que as camas têm design modular, teriam fornecido extensões para a cama padrão. Após, não houve mais atualizações sobre o assunto. Entretanto, fica a reflexão, em competições de grande porte, onde antecipadamente se conhece as necessidades dos atletas, não seria possível adiantar tais demandas e evitar desconforto, principalmente aos competidores? Esse após, era após a nota dos organizadores. Mas relendo, dá muito bem para ser retirado e ficar apenas teriam fornecido extensões para a cama padrão. Não houve mais atualizações sobre o assunto.
Outras adaptações na Vila Paralímpica
Conforme informações oficiais do Comitê Organizador Paris 2024, rampas foram construídas desde o início em todas as áreas temporárias, como a entrada principal, o centro de recepção das delegações e a estação de ônibus, evitando a necessidade de ajustes durante o período de transição.
Além dos espaços públicos, planejados para permitir a passagem de cadeirantes conforme os padrões universais de acessibilidade exigidos para novos empreendimentos urbanos, a organização adicionou marcações visuais para destacar degraus e outros pontos que poderiam representar riscos para os atletas.
O visual da Vila precisou de poucas adaptações, já que originalmente incluía os anéis olímpicos e os agitos, ou, em alguns casos, apenas a marca Paris 2024. A principal mudança foi a substituição de alguns elementos pelos grandes agitos, agora presentes em vários locais da Vila.
Um ponto de destaque é que Paris 2024 contou com a colaboração de atletas na criação da Vila. Um manifesto com ideias, sugestões e demandas daqueles que realmente utilizariam o espaço foi considerado.
Em relação aos apartamentos, de acordo com Laurent Michaud, gerente da Vila, são necessários 9.000 leitos para a Paralimpíada, em comparação aos 14.000 usados durante a Olimpíada. Assim, apenas os quartos já equipados com pelo menos um banheiro adaptado para pessoas com mobilidade reduzida foram disponibilizados. Alguns desses apartamentos precisaram de barras de apoio temporárias, enquanto outros receberam cadeiras de rodas nos chuveiros para facilitar as transferências.
No entanto, a adaptação da Vila dos Atletas contrasta com a baixa acessibilidade na cidade de Paris. Apesar de ser uma das cidades mais visitadas do mundo, apenas 3% das estações de metrô da capital francesa são acessíveis. Recentemente, a ex-atleta britânica Dame Tanni Grey-Thompson teve que se arrastar para sair de um trem devido à falta de acessibilidade.
Além das dificuldades de locomoção, há relatos sobre a falta de acessibilidade em banheiros públicos e a ausência de adaptações em outros espaços públicos da cidade.