Apesar da crescente visibilidade do bem-estar animal no setor alimentício, a transição para ovos livres de gaiolas ainda caminha a passos lentos no Brasil. É o que aponta a 2ª edição do Observatório do Ovo, relatório inédito divulgado pela ONG Alianima nesta quinta-feira (17), que avalia o desempenho de grandes redes supermercadistas na adoção de práticas mais éticas na produção de ovos.

Entre as 17 redes analisadas, apenas quatro completaram a transição para a comercialização exclusiva de ovos de galinhas criadas fora de gaiolas: Casa Santa Luzia, Empório Varanda, Cia Beal de Alimentos e St. Marche. Isso representa menos de 25% das redes comprometidas com a causa. Outras 35% não apresentaram qualquer dado sobre avanços, dificultando o acompanhamento de metas e a transparência junto ao consumidor.

“É fundamental que o primeiro passo para demonstrar transparência com as políticas assumidas seja manter o compromisso público e reportar anualmente seus avanços”, afirma Maria Fernanda Martin, gerente de relações corporativas e bem-estar animal da Alianima.

O relatório também revela que algumas das principais redes de supermercados do país, como Supernosso, Mercadinhos São Luiz e Záffari, possuem compromissos assumidos com a eliminação de gaiolas, mas não apresentaram nenhuma evolução nem responderam aos questionários enviados pela organização. Outras, como o Oba Hortifruti, chegaram a divulgar compromissos publicamente até 2023, mas retiraram as declarações do ar.

Ainda mais preocupante é o fato de grandes redes seguirem completamente omissas em relação ao tema: sem compromissos firmados e sem resposta às iniciativas de monitoramento. Para a Alianima, a ausência de transparência evidencia resistência à adoção de medidas que priorizem o bem-estar animal.

Além da falta de compromisso por parte de empresas, o relatório também escancara desigualdades regionais. As Regiões Norte e Nordeste enfrentam grandes dificuldades de acesso a ovos livres de gaiolas, devido à logística precária, à baixa oferta de fornecedores e à demanda ainda restrita. Para a ONG, é urgente o engajamento de produtores locais e o apoio de políticas públicas para garantir a expansão desses produtos no território nacional.

Atualmente, o Brasil conta com cerca de 160 compromissos públicos de empresas dos setores de alimentação e hotelaria para eliminar o uso de ovos de galinhas confinadas até 2030 ou antes. Apesar disso, o setor supermercadista, responsável por 9,12% do PIB e que atende mais de 30 milhões de brasileiros em 424 mil lojas, ainda apresenta baixo nível de implementação.

Mesmo diante dos desafios, o relatório indica que 71% dos respondentes já conhecem certificações de bem-estar animal relacionadas à produção de ovos. Para a Alianima, isso sinaliza que há um caminho possível. “Mas para que o mercado avance de forma consistente, é preciso que os compromissos saiam do papel e ganhem escala, com metas claras e envolvimento de toda a cadeia”, reforça Maria Fernanda.

Sobre a Alianima
A Alianima é uma organização sem fins lucrativos que atua na defesa do bem-estar animal e na promoção de sistemas alimentares mais sustentáveis. A entidade trabalha junto a empresas e consumidores para fomentar uma cadeia produtiva que minimize o sofrimento animal e incentive escolhas mais conscientes.

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