Antes de apagão deixar 1,5 milhões sem energia em São Paulo, Enel cortou 36% dos funcionários
A falta de atendimento ao cliente e a perda de alimentos nas geladeiras são algumas das frustrações relatadas pelos moradores e trabalhadores afetados
Após mais de 40 horas de apagão em São Paulo, mais de 1 milhão de consumidores enfrentam dificuldades com o fornecimento de energia elétrica. A situação gerou críticas à concessionária Enel e suscitou o debate sobre a privatização de serviços públicos essenciais. Desde 2019, a empresa privada de energia demitiu 36% dos funcionários, mesmo obtendo lucro de R$ 3,3 bilhões em 2022. A Enel foi privatizada em 2018, pelo governo de Michel Temer.
Na Assembleia Legislativa de São Paulo, até mesmo a base do governo Tarcísio de Freitas assume que se torna cada vez mais difícil aprovar a agenda de privatizações de empresas estatais como a Sabesp, após o fornecimento ser interrompido pela empresa concessionária de energia.
A falta de atendimento ao cliente e a perda de alimentos nas geladeiras são algumas das frustrações relatadas pelos moradores e trabalhadores afetados, que também se viram obrigados a subir e descer andares em prédios sem elevadores funcionando, como apurou a Rede Brasil Atual.
Para o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), a responsabilidade da Enel deve ser apurada pelos órgãos competentes: “Os prejuízos são imensos, com eletrodomésticos e alimentos perdidos. Até quando esse descaso? Cadê os arautos da privatização agora?”, questionou o parlamentar.
“Mais de 24 horas depois das chuvas, diversos bairros ainda estão sem luz”, afirmou o Deputado Federal Guilherme Boulos (Psol/SP). “O povo de São Paulo não pode ficar à mercê de uma empresa que, além de cobrar tarifas absurdas, não garante o mínimo de qualidade no atendimento”, postou Boulos no X.
Um único funcionário é responsável por atender 511 clientes
Em um cenário marcado por uma significativa redução no quadro de funcionários e um aumento constante no número de demanda energética, a Enel enfrenta críticas por sua capacidade de manter o fornecimento de eletricidade na Região Metropolitana de São Paulo.
Desde a aquisição da antiga Eletropaulo em 2018, a empresa italiana vem cortando pessoal de maneira drástica, resultando em uma diminuição de 36% no número de funcionários desde 2019. Essa diminuição significativa na capacidade de resposta da empresa tem gerado críticas, especialmente quando se observa que, hoje, um único funcionário é responsável por atender 511 clientes, um aumento considerável em relação aos 307 clientes que eram atendidos por funcionário em 2019.
Enquanto a Enel Brasil encerrou o ano de 2022 com um lucro de R$ 3,3 bilhões, um crescimento de 37% em relação ao ano anterior, a população de São Paulo enfrenta cortes de energia frequentes e uma diminuição na qualidade do serviço. Essa disparidade entre o sucesso financeiro da empresa e a experiência dos consumidores levanta preocupações legítimas sobre a priorização dos interesses financeiros em detrimento da qualidade dos serviços e da capacidade de lidar com emergências.
Audiência pela privatização suspensa
A Justiça de São Paulo suspendeu a audiência pública sobre a privatização da Sabesp, companhia de água e esgoto pública de São Paulo, originalmente agendada para esta segunda-feira (6), às 14h30, na Assembleia Legislativa.
A suspensão foi resultado de um pedido feito pelo deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT), pelo presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Neiva Ribeiro, e pela presidente do Instituto Lula, Ivone Silva. Eles alegaram que a audiência foi marcada com pouco tempo de antecedência, sem prazo suficiente para a divulgação e a participação do público. A decisão judicial estipula que as futuras audiências relacionadas ao tema sejam agendadas com pelo menos oito dias de antecedência a partir da divulgação no Diário Oficial do estado.