O Governo Federal intensificou suas ações contra a extração ilegal de minérios na TI Yanomami, em um esforço de conter o avanço da devastação que o garimpo trouxe para o território.

Uma operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em conjunto com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), recolheu uma série de materiais — incluindo três antenas da Starlink, empresa comandada por Elon Musk, nesta semana.

Além do equipamento, as equipes apreenderam uma espingarda calibre 12 e cinco munições.

Não foi a primeira vez que os equipamentos do bilionário foram apreendidos com garimpeiros. Elon Musk, que é herdeiro de uma mina de esmeraldas na Zâmbia, é declaradamente conservador e conseguiu se instalar na Amazônia durante o governo Bolsonaro, com a justificativa de que suas antenas forneceriam internet para escolas na região.

Contudo, como apurado pela Agência Pública, em maio, o Ibama divulgou ter apreendido, em todo o país, outras 32 antenas Starlink em garimpos ilegais do início de 2023 até março de 2024. Desse total, nove foram encontradas na terra Yanomami. 

“O Ibama fez muita apreensão, há um depósito cheio dessas antenas e outros utensílios apreendidos em 2023. Agora, a partir da instalação da Casa de Governo, temos um painel para centralizar as informações e sabemos que foram apreendidas 50 antenas de março último”, disse, em entrevista à Agência Pública, o diretor da Casa de Governo, Nilton Luis Godoy Tubino.

A Pública indagou a razão pela qual as antenas são tão visadas pelo esquema do garimpo ilegal.

“A Starlink hoje tem um papel fundamental na comunicação entre os garimpeiros e as suas bases fora do território indígena e vice-versa. Em boa parte da região em que fazemos as operações de desintrusão, não existe sinal de celular.  Dentro da terra indígena, não há. Fora, nas cidades do entorno, há dificuldade de utilizar telefone celular e internet, por isso os garimpeiros buscam locais onde há conexão de wi-fi, como postos de gasolina. Com a chegada da Starlink, isso mudou totalmente.”

A antropóloga e pesquisadora Flora Dutra, fundadora da startup Nave Global, conversou com a pública e ressaltou que, se bem utilizadas, as antenas podem ajudar os próprios indígenas a denunciarem atividades ilegais em seus territórios. 

Dutra vê a necessidade de estabelecer um sistema de controle que permita identificar todas as antenas autorizadas pela própria comunidade indígena a operar dentro de uma terra indígena.

Dutra contou ter procurado a Starlink para iniciar um diálogo em torno de um projeto conjunto, mas não recebeu resposta.

“A gente está lutando para isso. Se a gente conseguir produzir protocolos integrados com a Starlink, se todos os pontos estiverem cadastrados nos sistemas dos próprios territórios indígenas, ficaria mais fácil mapear os que não estão.”

A Pública procurou o representante da Starlink no Brasil, mas não houve resposta a um pedido de contato por e-mail.