No dia 13 de maio não temos o que comemorar com essa falsa abolição que tanto insistem em celebrar por aí. Falsa abolição sim, pois antes da tal liberdade, tivemos diversas leis que de alguma forma já mudava a vida dos negros e negras no Brasil.

Historicamente falando, a Princesa Isabel estava apenas pressionada economicamente, e aí sim decide assinar a tal lei se fazendo de heroína e libertadora. Mas no dia seguinte, qual perspectiva esse povo tinha? Nenhuma! O que mudou na vida de muitos daqueles escravos? Quase nada! Tinha escravo que inclusive pensava em voltar para os seus donos por terem comida garantida, do que viver a esmo perambulando sem terras, comidas, dignidade ou afins.

E sabem o que é pior? Que até hoje quase nada mudou.

O que temos e devemos sim fazer, é uma pausa para refletir que liberdade é essa que não tange a todos e todas ainda em nosso país. Nosso povo continua preso as falsas atitudes cercadas de racismo e preconceito, que insistem em tentar calar quem somos e quem podemos ser. Não dá para imaginar que em pleno 2019 as pessoas ainda não consigam evoluir e pensar em igualdade racial. Ainda falta um pouco de sensibilidade em entender as dores dos outros. Principalmente as dores dos negros e negras que são mais de 60 % da população desse país.

Deixem-me explicar uma outra coisa: se você é branco ou branca privilegiada, entenda de onde viemos e para onde queremos ir. Não queremos tomar os direitos de ninguém. Apenas queremos a tal igualdade racial que sempre falamos e lutamos.

Pensemos por exemplo nas cotas raciais, que eu mesma sendo cria de cota e formada por cota com muito orgulho pela universidade estadual do Rio de Janeiro, alcancei meu diploma, e que causa tanto debate e opiniões contrárias até hoje. Mas, como diz Bia Ferreira: “cotas não são esmolas”. São direitos que por tanta desigualdade precisamos ter para se quer alcançarmos um terço do que nos foi e segue sendo negado. Tipo um acerto de contas aos poucos, mas necessário!

Necessário para colocarmos nosso povo em posições que hoje quase não temos. E quando temos ou morrem ou são retirados a força. Olha o que o atual governador do estado quer fazer com uma deputada negra eleita. Caçar seu mandato por ter sido denunciado por ela. Olha o que fizeram com minha própria irmã.

Executar a sangue frio uma mulher negra, eleita, com mais de 46 mil votos. E ainda depois de morta ser chamada de “preta fedida” ou “macaca esquerdista”. Que país é esse aonde morrer e matar negro com mais de 80 tiros é comum?

Vivemos em um país que a população que mais morre é negra, em um país que as mulheres negras ganham 43% menos que os homens brancos, e ainda tem gente que diz que racismo não existe, como o atual presidente eleito acha. Também, não temos como esperar algo diferente disso. Pois até dizer que seus filhos foram educados a não terem relações com mulheres negras, ele mesmo disse.

Mal sabe ele que isso é um grande favor a todas nós mulheres negras.

Mas, se o presidente fecha os olhos para nossas demandas, nós fazemos barulho como fizemos ao irmos denunciar o pacote anticrime do Moro na Jamaica, representando o movimento negro com 14 membros e mais de 40 instituições. E ao chegarmos lá, termos a honra de ouvir das próprias comissárias da OEA dizendo que o governo ao se defender de nossas denúncias, parecia estar falando de outro país.

Senhor presidente e sua corja, nós não daremos nenhum passo atrás ao lutarmos por nossos direitos. Nós não voltaremos para as senzalas. Nós não nos calaremos diante de nenhuma injustiça. E nós não permitiremos que vocês acabem com nossos direitos, valores, conquistas ou dignidade.

Hoje, nós não temos o que comemorar. Pois ainda temos muito o que lutar. E isso é nossa maior característica! Nossos passos vêm de muito longe. E se tem algo que o povo preto não faz: é colocar galho dentro diante de dificuldades e atrocidades!

Povo negro Forte! Povo negro unido. Povo negro vivo!

Sigamos!