O cartunista Angeli, de 65 anos, responsável por dar narrativa à história de uma geração por meio de seus desenhos e um traço singular e inconfundível, já havia recebido o diagnóstico de afasia há alguns anos. No último mês, no entanto, a condição ficou mais pesada e a Folha de S. Paulo fez o anúncio do fim de sua carreira nesta quarta-feira (20). O chargista colaborou no jornal por mais de 50 anos.

“Recebemos o diagnóstico [de afasia] há alguns anos. Essa é uma condição degenerativa e de um mês para cá, ficou um pouco mais pesada. Achamos que assim ele poderá trabalhar e produzir neste novo momento de vida mais tranquilamente”, disse Carolina Guaycuru, esposa de Angeli, ao G1. “Encerra como cartunista, mas não como artista”, completa.

Nas redes, uma série de fãs e entusiastas do trabalho underground de Angeli escreveram agradecendo por seus projetos, desejando força e saúde neste novo momento. Também não faltaram memórias que os desenhos de Angeli guardam na trajetória de milhares de brasileiros.

Imagem: Angeli

“Angeli fez parte da minha formação desde sempre”, escreveu o produtor musical Daniel Ganjaman. “Rê Bordosa, Mara Tara, Bob Cuspe, Wood & Stock, os Skrotinhos estão presentes em minhas lembranças mais remotas, sempre ansioso para a próxima Chiclete com Banana chegar nas bancas. Muita força pra esse mestre dos mestres”.

“O Angeli tem o peso de um Pasquim inteiro em matéria de influência e significado de uma época”, afirmou a cartunista Laerte na Folha de S. Paulo. “Ele foi vital para a existência do que entendemos como humor em São Paulo.”

“Foram décadas de talento e criatividade inestimáveis a serviço do Brasil. Através de suas tirinhas, além de humor e ironia fina, apresentou crítica política e defendeu a cidadania”, escreveu o deputado federal Orlando Silva. “Meus parabéns e, principalmente, muito obrigado!”.

A Folha também anunciou que Angeli receberá uma homenagem a seus 50 anos de carreira. O presente também será dos fãs. Pela primeira vez  o artista terá uma seleção ampla de seu trabalho organizada em um projeto da Companhia das Letras., organizado por André Conti e Carolina Guaycuru, esposa de Angeli.

Tiras de jornais e revistas, charges, ilustrações, desenhos variados, a história de um país nos 50 anos de trabalho de Angeli. “O plano é publicar dois volumes, reunindo cerca de mil trabalhos, ainda este ano”, diz a Folha.

“A ideia era um projeto que desse a noção completa do quanto ele fez”, afirmou Conti. “Tínhamos mais de 50 mil desenhos, do papelão que ele rabiscava enquanto falava ao telefone até processos mais elaborados de capas”.

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