Atentos e fortes. Ao longo dos anos, a pauta racial vem avançando de forma consistente na sociedade, e é lindo ver as novas gerações se engajando tanto nessa luta. Um recado está sendo dado: não vamos retroceder. Mas como diz a bela canção “Divino Maravilhoso”, de Gilberto Gil e Caetano Veloso, é preciso estar atento e forte, pois o comportamento do racismo na sociedade tem diferentes nuances, e o ano de 2024 chega com uma nova missão: de seguirmos fortificando as nossas redes de apoio, nos diversos âmbitos, e temos mais 365 dias para fazer isso.

Nesse movimento, as pessoas pretas estão se sentindo mais confiantes, com mais de 56% da população brasileira se autodeclarando negra, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), em 2022. Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Há mais de duas décadas, os Racionais MCs denunciaram em suas músicas a triste realidade em que a cada quatro pessoas mortas pela polícia, três eram negras, e a cada quatro horas um jovem negro morria de forma violenta em São Paulo. Depois de mais de vinte anos, infelizmente, essa realidade não mudou. Pela primeira vez na história do Brasil, o número de homicídios ultrapassou os 60 mil em um ano, e 72% das vítimas são identificadas como negras ou pardas. Ou seja, a cada quatro pessoas mortas pela polícia, três continuam sendo negras.

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), iniciados em 2005, revelaram que em 2022 o sistema penitenciário brasileiro atingiu o maior patamar de pessoas negras presas no país. Dos detentos, 442.033 fazem parte da população negra, representando 68,2% do total de encarcerados. O mercado de trabalho para pessoas pretas também continua sendo um desafio, e somando a isso, também entra a questão de invisibilidade social e exclusão.

Criar políticas públicas para superar o racismo é muito importante, mas, além disso, levar essas questões para o âmbito educacional é também uma forma de desestruturar o problema na sociedade, educando e tornando as novas gerações mais conscientes, num movimento de retomada das rédeas da própria história, de um país que, infelizmente, ainda continua celebrando estátuas de escravocratas em grandes cidades.

Este é um chamado imperativo para a prática diária e ininterrupta da integração da conscientização e da ação antirracista em nosso cotidiano. Cada dia representa uma oportunidade para aprender, refletir, confrontar preconceitos e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A jornada antirracista não é uma opção, mas um compromisso inabalável. A ideia de “365 dias” serve como um lembrete poderoso de que a mudança real requer esforço consistente e contínuo ao longo do tempo.