Embora a defesa de Torres tenha protocolado medida cautelar, assegurando a possibilidade dele ficar em silêncio durante a oitiva, o ex-ministro quer falar

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres presta depoimento hoje à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as invasões do dia 8 de janeiro. Torres foi preso no início do ano por suspeita de omissão e conivência nos atos golpistas, período no qual estava a frente da Secretaria de Segurança Pública do DF. Hoje, Torres usa tornozeleira eletrônica.

Embora a defesa de Torres tenha protocolado medida cautelar, assegurando a possibilidade dele ficar em silêncio durante a oitiva, o ex-ministro quer falar, segundo seu advogado. O depoimento de Anderson Torres ocorre sob grande expectativa, sobretudo pelos parlamentares da base governista. A CPMI ouve Torres após a comissão aprovar requerimento de convocação protocolado pela relatora, Eliziane Gama.

Além de mirar um possível elo entre Torres e o planejamento dos atos golpistas, Eliziane quer ouvir o que Torres tem a dizer sobre a ‘minuta do golpe’. A informação é do portal Metrópoles.

Como foi revelado no início do ano, a ação da minuta seria rever o resultado do segundo turno das eleições. O depoente estava nos EUA na data do atentado, chegou a ficar preso por quatro meses quando voltou ao Brasil por ordem do ministro Alexandre de Moraes, mas foi solto na sequência.

Torres quer falar à CPMI

O Supremo Tribunal Federal assegurou o direito de Torres ficar em silêncio diante de perguntas que eventualmente possam lhe incriminar. Disse o seu advogado:

“Nosso pedido foi para preservar o cliente quanto ao direito de não se auto-incriminar e para que não haja descumprimento das (medidas) cautelares. Tendo em vista que ele tem que se recolher às 22h e não pode ter contato com outros investigados, que estarão na CPMI”, afirmou Eumar Novacki, ao Correio. Braziliense.

Entretanto, seu advogado, Eumar Novacki, disse que a medida cautelar foi obtida apenas no sentido de preservá-lo, porém o ex-ministro já afirmou que vai falar à CPI.

Anderson Torres é uma peça chave para a investigação

Torres é suspeito de ter interferido no planejamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o segundo turno. Preso desde o início do ano por suspeita de omissão e conivência nos atos golpistas de 8 de janeiro, Torres foi interrogado e preso pela Polícia Federal (PF), mas hoje usa tornozeleira eletrônica.

Contra Torres, há graves indícios de que ele teria orquestrado bloqueios em diferentes pontos de estados do Nordeste, visando dificultar o acesso de eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a locais de votação e favorecer a candidatura do então presidente de extrema direita Jair Bolsonaro (PL).

Aplauso de deputados com notícia da soltura de Torres

No depoimento à PF em maio deste ano, que durou quase três horas, Torres negou as acusações de interferência na PRF. Ele disse que viajou a Salvador a convite do então diretor-geral da PRF, Márcio Nunes de Oliveira, para realizar uma vistoria em uma obra na superintendência regional da corporação.

De ministro da Justiça de Bolsonaro à Secretário de Segurança Pública do DF

A trajetória política de Anderson Torres inicia-se por meio de cargos ligados à assuntos legislativos na Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), em Brasília, no qual atuou na articulação entre policiais federais e parlamentares.

Mais tarde, o depoente de hoje na CPMI chegou ser chefe de gabinete do então deputado federal Fernando Francischini (União Brasil) – apoiador do ex-presidente Bolsonaro – e assessor de deputados e senadores da chamada “bancada da bala”.

Torres assume o Ministério da Justiça e Segurança em abril de 2021 – cargo ocupado até o fim do mandato do ex-presidente, quando então foi convidado para liderar a Secretaria de Segurança Pública do DF a partir do dia 2 de janeiro.

Viagem aos EUA antes dos atos golpistas

Antes dos atos golpistas, Torres fez uma viagem aos Estados Unidos e, ao retornar ao Brasil, afirmou ter perdido seu telefone celular. Logo após os ataques às sedes dos três poderes em Brasília, o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal foi preso por suspeita de omissão e conivência com os atos. Desde então, esta é a terceira vez que Torres presta depoimento, tendo sido questionado sobre as acusações de omissão nos atos do 8 de Janeiro e a respeito da “minuta golpista” encontrada em sua residência.

Polícia Federal obriga Torres a devolver salário recebido durante prisão

Durante os quatro meses que ficou na prisão, Torres recebeu uma remuneração bruta de cerca de R$ 30 mil pelo cargo de delegado da Polícia Federal, mas uma decisão da PF em julho o obrigou a devolver o dinheiro. O ex-ministro de Bolsonaro pede que a decisão seja revogada.

A medida tomada pela Polícia Federal foi baseada em notas técnicas do Ministério do Planejamento, emitidas em 2013 e 2020, que retiram dos servidores federais o direito à remuneração durante períodos de detenção preventiva ou temporária, uma vez que estão afastados de suas funções.

Anderson Torres, apontado como um dos facilitadores dos atos golpistas, afirma ser vítima de perseguição política.

Além da determinação de reembolso dos rendimentos recebidos, a Polícia Federal também abriu um procedimento administrativo interno, em maio, conforme noticiado pela CNN Brasil. Tal procedimento avalia a possibilidade de exonerar Torres de suas funções como delegado da corporação.